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Recife, 16/ABR/2024

MISTICISMO E CARISMA (Dinsey/ Divulgação) MISTICISMO E CARISMA
Desde a estreia nos cinemas com Homem de Ferro (2008), a Marvel vem mostrando uma estratégia eficiente na produção de filmes de super-heróis, mesmo com personagens menos conhecidos do grande público. Doutor Estranho, a mais nova aposta do estúdio, é mais um exemplo de como até uma figura relativamente obscura das HQs tem potencial para virar blockbuster.

O longa segue o padrão de filme de origem e mostra como um homem comum se torna super-herói. No caso, o arrogante neurocirurgião Stephen Strange (Benedict Cumberbatch), que em um acidente de carro perde o movimento das mãos e fica impossibilitado de exercer a profissão. Desacreditado pela medicina convencional, Stange vai buscar cura através magia na comunidade de Kamar-Taj, onde a Anciã (Tilda Swinton) o inicia nas artes místicas. Ao reconhecer o potencial de Strange para a magia, a Anciã sugere que o médico a auxilie na defesa da Terra contra ameças de outras dimensões.

A premissa é a que mais destoa dos filmes da Marvel. Enquanto Homem de Ferro, Hulk, Capitão América e outros foram calcados na pseudociência, Doutor Estranho segue uma linha bastante distinta. Até em Thor, personagem das HQs inspirado na mitologia nórdica, o estúdio buscou uma abordagem mais pé no chão. E um dos grandes méritos do filme está em não tentar tornar mais críveis os conceitos de plano astral ou dimensões paralelas.

O roteiro, escrito por C. Robert Cargill em parceria com o diretor Scott Derrickson não gasta tempo tentando explicar os aspectos místicos do universo cinematográfico da Marvel (vale lembrar que todos os filmes do estúdio são interligados e se passam no mesmo mundo). As linhas se dedicam a expor o drama de Strange e a relação conturbada com a ex-amante e colega de trabalho Christine Palmer (Rachel McAdams). A magia é mostrada de forma natural, sem arrodeios, a partir de bonitos efeitos visuais e boa dose de psicodelia, como nos quadrinhos originais de Doutor Estranho. O 3D, inclusive, é competente e ajuda na imersão.

O filme dosa bem aventura, drama e humor, bem pontuado pelas tiradas sarcásticas do cirurgião rabugento. A despeito da arrogância do personagem, a interpretação de Cumberbatch é carismática, o que pode colocar Doutor Estranho como uma figura importante nos próximos filmes da Marvel. Com a proximidade do fim do contrato de atores como Robert Downey Jr. (Homem de Ferro) e Chris Evans (Capitão América), o estúdio deve testar novos rostos para futuras produções.

Em tempo: Doutor Estranho tem duas cenas pós-créditos. Espere até o final da projeção.

Por Breno Pessoa, especial para o Diario de Pernambuco

DA SUTILEZA À MONSTRUOSIDADE (Universal/ Divulgação) DA SUTILEZA À MONSTRUOSIDADE
Ouija: A origem do mal pode ser dividido em duas partes, que seguem dois estilos de terror diferentes. O trecho inicial, mais interessante, explora as sutilezas. O espectador entra no cinema com o desejo de sentir medo, mas não sabe em que momento o horror vai se materializar de verdade. O filme aproveita bem essa expectativa do público e a estica com uma tensão crescente que só vai explodir na segunda metade, quando os acontecimentos realmente terríveis começam a se concretizar na vida das personagens. Tudo passa a ficar mais explícito (e com mais efeitos especiais digitais) depois dos primeiros 50 minutos, exatamente no meio do tempo de duração do longa-metragem.

As protagonistas são uma cartomante viúva e suas duas filhas (uma criança e uma adolescente). Na casa onde moram, elas recebem pessoas interessadas em se comunicar com parentes mortos. A primeira cena mostra como funciona esse atendimento e faz o público sentir o mesmo que os clientes delas. Logo em seguida, revela-se que o serviço oferecido não é sobrenatural e nem envolve espíritos. É tudo uma encenação que se aproveita da fragilidade emocional dos que perderam entes queridos. Até determinado ponto da narrativa, o filme explora bastante esse limite entre as ilusões psicológicas e os fenômenos sobrenaturais.

Mais adiante, tudo fica mais gráfico com o surgimento de criaturas medonhas e com agoniantes deformações nos rostos das personagens. A virada para a monstruosidade fantasmagórica ocorre quando a falsa vidente compra um jogo juvenil chamado Ouija por sugestão da filha adolescente, que participou de uma partida e o achou curiosamente relacionado ao trabalho da mãe. Por meio de um tabuleiro cheio de letras e números, os jogadores fazem peguntas aos espíritos, que supostamente as respondem ao moverem uma peça central em direção aos algarismos. No Brasil, a brincadeira do Ouija é mais praticada com um copo sobre uma mesa qualquer e pedaços de papel, mas no exterior ela ganhou uma versão vendida em lojas, industrializada pela marca de brinquedos Hasbro, co-produtora do filme.

Antes, a Hasbro já havia experimentado parcerias lucrativas no cinema com os filmes baseados nos bonecos Transformers e Comandos em ação (GI Joe) e no jogo Batalha naval (Battleship). Além da marca de brinquedos, Ouija tem a participação do produtor Michael Bay (diretor de Transformers) e do estúdio Blumhouse (responsável por pelo menos metade dos sucessos de terror nos cinemas atualmente).

Ouija: A origem do mal é um desdobramento de Ouija: O jogo dos espíritos, lançado em 2014. O primeiro filme era ambientado nos dias atuais e o segundo retrata acontecimentos anteriores, ocorridos na década de 1960. Uma cena após os créditos finais faz uma ligação mais direta entre os dois episódios.

Por Júlio Cavani, do Diario de Pernambuco

MELOSO E DECEPCIONANTE (Warner/ Divulgação) MELOSO E DECEPCIONANTE
A DC Comics não teve muita sorte com os filmes nos últimos tempos. Em março deste ano, Batman vs Superman: A origem da Justiça não agradou os críticos e, nas bilheterias, não conseguiu alcançar Deadpool, da rival Marvel. E com Esquadrão Suicida, as coisas parecem que não serão diferentes.

As críticas negativas são muitas e têm fundamentos: Esquadrão Suicida tenta capturar a essência de um filme de comédia com super-heróis, mas não consegue. As piadas não são originais (em dado momento, um dos personagens, ao ter uma arma apontada para sua cabeça, pede que seu histórico de navegação seja apagado) e os personagens não empolgam.

No longa, um projeto secreto do governo norte-americano libera os maiores vilões encarcerados do país para que eles, controlados por um chip explosivo de monitoração, lutem no que a criadora do projeto, Amanda Waller (Viola Davis), diz ser o início de uma 3ª Guerra Mundial. Quem espera um filme com vilões indefensáveis acaba recebendo um filme meloso que busca redimir os membros do esquadrão. Como diz o Pistoleiro (Will Smith), "não esqueça, somos os caras maus". Talvez a pior coisa do filme é que este lembrete é realmente necessário.

Um dos poucos pontos altos do longa são as atuações das duas atrizes principais. Apesar da sexualização da personagem Arlequina ser exagerada e problemática, Margot Robbie rouba a cena como a psiquiatra que enlouqueceu após se apaixonar pelo Coringa. Viola Davis brilha como Waller, mostrando, mais uma vez, que é o ator quem faz o papel. Em 2009, ela foi indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante por suas duas curtas cenas no filme Dúvida, protagonizado por Meryl Streep, e em 2012 concorreu na categoria de melhor atriz com Histórias cruzadas.

O que deve decepcionar mais os fãs, no entanto, é a tão aguardada atuação de Jared Leto como o Coringa. Leto não consegue honrar a história do personagem, que já foi interpretado por Jack Nicholson e rendeu a Heath Ledger um Oscar póstumo de melhor ator. O Coringa de Esquadrão, além de não parecer ter função definida no roteiro, não consegue ser nem palhaço nem gângster, e os trejeitos exagerados de Leto lembram aqueles que são marca registrada dos personagens de Jim Carrey.

Esquadrão Suicida usa e abusa das "pontas de luxo": além do Coringa, que é, sem dúvida, apenas uma longa ponta no filme, o Batman de Ben Affleck e o Flash, ainda inédito, de Ezra Miller aparecem rapidamente no começo. A melhor parte do flme são os quinze minutos iniciais. Durante uma reunião, Waller conta aos aliados sobre seu plano de retirar os vilões da prisão e usá-los para combater o crime. À menção de cada nome, é mostrada uma pequena montagem para apresentar o personagem. Depois que a parte acaba e a história, de fato, "começa", o público pode deixar a sala de cinema sem sentir que perdeu nada - e ainda, que viu um filme digno de louvor.

Por Eduarda Fernandes, especial para o Diario de Pernambuco

ADAPTAÇÃO RASA E POUCO INVENTIVA (Sony/ Divulgação) ADAPTAÇÃO RASA E POUCO INVENTIVA
Depois do sucesso nos smartphones, com mais de três bilhões de downloads, o jogo Angry birds ganhou uma adaptação cinematográfica, ampliando ainda mais o alcance da franquia, que já conta com brinquedos, desenhos animados e outros produtos. Numa época em que os videogames têm cada vez mais se aproximado do cinema, em termos de complexidade narrativa e realismo dos gráficos, o game dos passarinhos é um ponto fora da curva: visualmente simples e sem diálogos, é, resumidamente, uma sequência de desafios mecânicos. Essa simplicidade faz dele um produto atípico entre a leva atual de filmes do gênero, geralmente originárias de games marcados por tramas mais complexas, a exemplo de Warcraft e Assassin%u2019s creed.

O que mais chama a atenção em Angry birds é que a matéria-prima do filme é um jogo praticamente sem história: o jogador precisa controlar pássaros enfurecidos tentando recuperar os ovos roubados por porquinhos verdes, os vilões da trama. Ao contrário do que se possa esperar, os personagens centrais não voam: eles são arremessados por um estilingue, controlado a partir da tela touch dos celulares. É isso.

A simplicidade (ou ausência) de roteiros em games foi por muito tempo resultado de limitações tecnológicas e coube ao cinema preencher as lacunas. A inexistência de tramas em jogos baseados apenas em desafios mecânicos pode parecer um problema a roteristas, mas também deixa o espaço aberto para pensar nas mais variadas possibilidades de transposição para a tela grande.

Em Angry birds, a ausência de narrativa original é contornada com uma trama através da qual os recursos do jogo (arremesso de pássaros) são casados a uma história sobre roubo e envio de ovos a uma ilha só acessível às aves por meio de estilingues.

O jogo, apesar dos cenários coloridos e personagens engraçadinhos, nunca foi voltado exclusivamente para crianças, até pelo fato de ter surgido nos smartphones, que têm usuários de diversas faixas etárias. Mas o filme foi pensado para o público infantil. O problema é oferecer uma história rasa, que não tenta inventar nem acrescentar muito à (falta de) narrativa do game.

No filme, com roteiro de Jon Vitti (de Alvin e os esquilos e Os Simpsons), Red (dublagem de Marcelo Adnet) é um pássaro com acessos de raiva obrigado a participar de sessões de terapia, após um surto, para aprender a administrar o temperamento. Ele conhece a terapeuta Matilda (Dani Calabresa) e os pacientes Chuck (Fabio Porchat) e Bomba (Mauro Ramos). Como nos jogos, os porcos verdes sequestram os ovos dos pássaros e levam a uma ilhota flutuante. A única maneira dos pássaros chegarem lá é via arremesso. Foi a solução para mostrar nas telas o recurso de jogabilidade do game.

O roteiro, simples e pouco inventivo, tem boas piadas e a animação é competente, embora um pouco distante da qualidade vista em produções recentes da Pixar. O elenco principal da dublagem nacional faz também um bom trabalho, sobretudo Adnet e Porchat, dando personalidade aos passarinhos que, mesmo impaciente e raivosos, são carismáticos e devem agradar.

Por Breno Pessoa, especial para o Diario de Pernambuco

FILME PROBLEMÁTICO E CORAJOSO (Warner/ Divulgação) FILME PROBLEMÁTICO E CORAJOSO
Batman vs Superman: A origem da justiça é um filme corajoso em diversos aspectos e problemático em tantos outros. Dirigido por Zack Snyder, apropria-se de narrativas clássicas da DC Comics sem deixar de assumir uma personalidade marcante, seja do ponto de vista estético ou ideológico. Parece ecoar as intenções e, ao mesmo tempo, prestar tributo à Era de Bronze dos quadrinhos norte-americanos, nas décadas de 1970 e 1980, quando as publicações se tornaram mais sombrias e passaram a ter roteiros mais amadurecidos. No longa-metragem, essas características se somam à disposição para abordar temas densos, como a corrupção de governos e organizações, o terrorismo global com acesso à mídia, o limite entre polemização e manipulação da opinião pública por parte dos meios de comunicação e até questionar algumas devoções religiosas.

Esteio para o surgimento da Liga da Justiça, o filme recorre às origens dos próprios protagonistas para colher os elementos da trama. Os pais de ambos, por exemplo, exercem papéis-chave no confronto entre os heróis. Outras questões pessoais entram em jogo, como a motivação obsessiva de Batman (Ben Affleck) por deixar um legado definitivo, após 20 anos de combate ao crime. A princípio, a questão primordial, obviamente, é o extermínio do Super-Homem (Henry Cavill). E aí começam os problemas do longa.

De fato há um questionamento legítimo da função social do Homem de Aço, com referências diretas à HQ Precisa haver um Superman? (1972). Mas, vamos combinar, o Batman não tem nada a ver com isso. Os dois lados da briga deveriam ser, de um lado, a opinião pública, a mídia, o governo, e, do outro, o Super-Homem. O contra-argumento natural para isso são as armadilhas terroristas do Lex Luthor interpretado por Jesse Eisenberg, um personagem incômodo, deslocado e sem brilho.

Para quem torceu o nariz com receio de Ben Affleck estragar um personagem clássico da DC, pode mudar o alvo e se preparar para um vilão pouco convincente. Ver o Batman lidar com outro antagonista psicótico depois do brilhante Coringa (Heath Ledger) de O cavaleiro das trevas (2008) foi um passo arriscado. Agora, com o filme em cartaz, podemos dizer, é um desastre. Outro ponto negativo (nesse caso, já esperado) é a aposta em um final em aberto, na tentativa de atrair público para os próximos filmes da franquia.

E, aqui, é o momento ideal para recuar no uso da expressão "roteiros mais amadurecidos". Se esta realidade marcou os gibis de quatro décadas atrás, deixa a desejar no longa de Snyder. Com muitas pontas soltas, cenas picotadas e incompetência para as reviravoltas no roteiro, o filme é bacana e provavelmente será um bom passatempo para quem assisti-lo. Mas quem nasceu para Batman, não deveria se contentar em ser morcego. O filme poderia ir muito além.

Por Fellipe Torres, do Diario de Pernambuco

ADULTO, MAS NEM TANTO (Fox/ Divulgação) ADULTO, MAS NEM TANTO
Deadpool é o mais adulto e também o mais infantilizado produto da Marvel. Recomendado oficialmente para maiores de 16 anos, o filme tem sexo, palavrões e cenas de violência explícita, mas, ao mesmo tempo, é uma comédia escrachada, com praticamente uma piada por minuto.

O humor tem momentos inteligentes, principalmente quando faz autoparódias sobre o mundo dos super-heróis, mas o que predomina é um tom besta. Quem quiser um conteúdo mais amadurecido deve procurar Watchmen.

A postura politicamente incorreta é levada ao extremo. A metalinguagem é bem utilizada nos momentos em que o personagem fala para a câmera (recurso também bastante usado recentemente em A grande aposta e O lobo de Wall Street). O direcionamento para o público com idade mais avançada por ser sentido ainda nas referências culturais, com citações a ícones das décadas de 1980 e 1990.

A busca pelo ridículo, além do bom ritmo, é o que torna o longa-metragem interessante (talvez o melhor da Marvel), pois não há a falsa seriedade e os discursos de honra presentes em outros filmes do gênero. Até o Homem de Ferro e o Homem Aranha, que sempre falam piadinhas enquanto lutam, conseguem ser mais sérios. O protagonista, inclusive, deixa claro que não se considera e nem quer ser um herói.

Por Júlio Cavani, do Diario de Pernambuco

ANEDOTAS, CATREVAGENS E CRÍTICAS À HIPOCRISIA (Diamond Films/ Divulgação) ANEDOTAS, CATREVAGENS E CRÍTICAS À HIPOCRISIA
Os oito odiados não vai definir novas tendências da cultura mundial, como fizeram Pulp fiction (1994) ou Kill Bill (2003), mas tem chances de ser considerado o melhor trabalho de Quentin Tarantino (só o tempo confirmará). Sem perder as principais características de estilo do diretor, o filme é mais homogêneo, com uma ação concentrada em elementos essencialmente dramáticos. Assim como em Cães de aluguel (1992), primeiro longa-metragem do cineasta, o eixo da trama está em uma espécie de jogo mortal estabelecido entre um grupo de personagens trancados dentro de um único ambiente fechado. Pequenos erros são fatais e os assassinatos podem ser tão brutalmente violentos quanto surpreendentemente divertidos.

No lugar de sugerir um direcionamente teatral, a limitação espacial é apenas mais um estímulo para um exercício cinematográfico pleno, bastante multiangular, movimentado, sonoro e musical. Mesmo quando são formados por textos longos, os diálogos fluem com a oralidade dos bons contadores de causos, reforçada por personalidades aprofundadas na medida certa pelo equilíbrio entre a interpretação dos atores e a caracterização visual das figuras. Ao mesmo tempo, as mentiras e as falsas identidades são peças fundamentais para o domínio sobre o espectador, que não pode confiar em tudo o que vê, pois sempre haverá novos pontos de vista a serem revelados (há três pontuais desconstruções da linearidade narrativa).

Os oito odiados confirma que o cinema tarantinesco é genial não por causa das colagens de referências, exageros, catrevagens (ainda bastante presentes) ou explosões gráficas, mas pelo senso anedótico com que conduz as emoções das mais diferentes plateias.

Uma estátua de Jesus é a primeira imagem que aparece no filme, ainda nos créditos iniciais. Cristo é mencionado em diversas cenas pelos pistoleiros, só que o comportamento deles não é nada cristão (muito pelo contrário). Abraham Lincoln, que aboliu a escravidão nos EUA, também é sempre lembrado, mas demonstrações hediondas de racismo são constantes nas falas dos brancos. A Guerra Civil Americana também já acabou na época retratada e eles ainda continuam a alimentar o ódio entre sulistas e yankees. Alguns evocam as leis e a justiça, apesar de estarem sempre dispostos a atirar para matar instintivamente a qualquer momento. A mulher interpretada por Jennifer Jason Leigh, condenada à morte, é espancada e humilhada o tempo inteiro, mesmo que ninguém diga exatamente o que ela fez para merecer um tratamento tão violento. O filme, portanto, reflete a hipocrisia da sociedade. Ambientada no século 19, a situação retratada continua totalmente atual.

Por Júlio Cavani, do Diario de Pernambuco

CINEMA TRANSFORMADOR (Aline Arruda/ Divulgação) CINEMA TRANSFORMADOR
O diferencial de Que horas ela volta? está na forma delicada de retratar temas graves. A partir de uma história de ficção narrada com bastante clareza para obter um alcance popular, o filme tem o poder de interferir sobre o cotidiano real da sociedade. Por meio de emoções irresistíveis proporcionadas pelo trabalho envolvente do elenco, provoca uma mistura entre carinho, constrangimento e amadurecimento crítico ao estimular o público a repensar a relação entre patrões e empregadas domésticas.

A história é praticamente toda ambientada em uma casa de classe média em São Paulo. A nordestina Val (perfeitamente interpretada por Regina Casé) é a empregada de Carlos (Lourenço Mutarelli) e Bárbara (Karine Teles). Além de fazer serviços de limpeza e cozinhar, dorme no trabalho diariamente e foi babá do filho deles, Fabinho (Michel Joseas), que está prestes a entrar na universidade. Com o salário, ela sustenta uma filha, mas não acompanhou o crescimento da menina, que ficou no Nordeste.

A suposta boa educação dos donos da casa é confrontada com a chegada de Jéssica (Camila Márdila), filha de Val, que precisa de hospedagem para fazer vestibular em São Paulo. A garota passa a questionar o humilhante comportamento subalterno da mãe e provoca um desconforto que expõe um cruel conformismo social (com raízes na escravidão) disfarçado de cordialidade profissional e afetividade.

Tudo isso é abordado com uma simplicidade aparente, mas com uma profundidade complexa, já que os personagens estão sempre bem intencionados, sem perceberem a mediocridade dos próprios atos. Um tema bastante presente é a importância da presença materna, já que Val passou mais anos dedicada ao filho dos patrões do que à própria filha. Jéssica, além disso, demonstra possuir um nível educacional superior ao de Fabinho, apesar de ser economicamente mais pobre. Há ainda um frescor atual, pois a mudança de visão em relação à condição dos empregados é algo que tem crescido no Brasil nos últimos anos graças a políticas de inclusão social e a novas conquistas trabalhistas.

(por Júlio Cavani, do Diario de Pernambuco)

VIOLÊNCIA RETÓRICA (Pandora/ Divulgação) VIOLÊNCIA RETÓRICA
Arrogância, egoísmo, orgulho, submissão e presunção são comportamentos explorados com profundidade no filme turco Winter sleep (Kis uykusu), vencedor do Festival de Cannes em 2014. Com hipnotizantes 3h16 de duração, o longa-metragem retrata o cotidiano de Aydin, um ator de teatro que se aposentou dos palcos e passou a administrar uma pousada em uma propriedade da família, localizada em uma inóspita e bela região da Anatólia.

O filme tem apenas uma sequência de agressões físicas. Entretanto, a violência moral atravessa toda a narrativa. Os personagens atacam uns aos outros com palavras. Não com xingamentos ou expressões de ódio. Aydin (interpretado pelo impressionante Haluk Bilginer) usa a retórica e a sofisticação verbal para humilhar os que estão ao redor com uma desprezível e irritante elegância, quase sempre com ar de calma, como quem esbanja a própria intelectualidade. Cheio de certezas, ele vê a si mesmo como um homem solidário, mas não percebe como sempre castiga a esposa, a irmã e os subalternos (sobretudo um inquilino em dívida com aluguéis que se comporta com um constrangedora subserviência).

O ex-ator é um artista extremamente culto e supostamente admirável, que sempre demonstra sensibilidade, inteligência e preocupações sociais, mas no fundo não passa de uma versão euro-asiática de um contemporâneo senhor de engenho.

Winter sleep é uma obra essencialmente cinematográfica, que constrói um clima de imersão dramática e ambiental feito para ser sentido mais apropriadamente em uma sala de cinema. Por causa das condições climáticas e geográficas das locações, o filme intercala paisagens arrebatadoras da natureza com pequenos espaços fechados, salas claustrofóbicas onde ocorrem os principais embates ideológicos.

(por Júlio Cavani, do Diario de Pernambuco)

MERGULHO SENSUAL E SENSORIAL (Imovision/ Divulgação) MERGULHO SENSUAL E SENSORIAL
"A certeza é o maior ato de covardia", diz o mágico Caleb (Paulo César Pereio), em Sangue azul. Não dá para prever como o novo filme do pernambucano Lírio Ferreira será avaliado no futuro, mas já é possível afirmar que ele tem alugmas das imagens mais bonitas já filmadas no cinema brasileiro. As primeiras cenas, em preto e branco, retratam a chegada de um circo a Fernando de Noronha. Como o céu, o mar, a terra, a lona e os personagens já carregariam um colorido explosivo, retirar a cor dessa sequência inicial permite que o público observe melhor a beleza da ação em si. Em seu melhor filme, o diretor de Árido movie (2006) e Baile perfumado (1996) atinge uma madura homogeneidade sem perder a diversidade. O cinema de Lírio Ferreira respeita o poder sublime da natureza, seja diante das paisagens biodiversas ou nas cenas de sexo retratadas com potência. Cardumes de peixes e pássaros que descem do céu para buscar alimentos nas mãos dos atores são filmados ao natural, sem efeitos especiais digitais que se tornariam o caminho mais comum no cinema atual. O cineasta não segue tendências contemporâneas (nem técnicas e nem temáticas) e assim mantém-se fiel a si mesmo e à geração do mangue beat, movimento do qual faz parte (a trilha é assinada por Pupillo, baterista da Nação Zumbi). Frevo, ciranda e afoxé surgem na tela com propriedade, sem parecer regionalismo barato. Sangue azul é ainda seu filme mais romântico ao defender o amor eterno e a liberdade amorosa. A passagem de uma trupe circense pela ilha vulcânica oceânica torna-se uma alegoria para as transformações provocadas pela arte, potencializadas pela atmosfera paradisíaca, com resultados afrodisíacos.

Quem viaja para Fernando de Noronha costuma viver uma experiência de transcendência diante das paisagens naturais. É uma sensação indescritível que não pode ser reproduzida por fotografias, relatos ou filmagens comuns. Sangue azul alcança esse estado de espírito ao promover uma integração entre a natureza, o amor, o sexo e a arte.

O ator Daniel de Oliveira interpreta um nativo de Noronha que retorna para o arquipélago junto com o Circo Netuno, onde trabalha como homem-bala. Sangue azul mostra como a chegada dos artistas circenses altera o cotidiano dos ilhéus e mexe sobretudo com os desejos reprimidos.

O romantismo sem limites é defendido na relação amorosa entre o personagem de Daniel e a irmã dele, vivida pela atriz Carol Abras. A liberdade sexual, em suas várias formas, manifesta-se entre os dois e também nos personagens que os circundam. Algumas cenas eróticas surgem praticamente do nada, mas não de forma gratuita, pois contribuem para reforçar a sensualidade que o filme procura disseminar.

(por Júlio Cavani, do Diario de Pernambuco)

DESPEDIDA COM VELOCIDADE DESPEDIDA COM VELOCIDADE
O novo longa Velozes e furiosos deixa tudo bem claro já nos minutos iniciais. Nas primeiras cenas, há uma corrida de carros clandestina no deserto no meio de bundas de mulheres de biquíni mostradas de perto, duas explosões e uma luta corporal com socos e pontapés entre brutamontes musculosos. Alguns vão dizer que é um filme machista, que estimula o culto aos carros e à alta velocidade. Outros vão exclamar: %u201COh yeah!%u201D

Por causa da morte recente de Walker, o filme tem um apelo a mais que ajuda nas bilheterias. Seu personagem vive momentos de ternura familiar com o filho (para aumentar e comoção) e também protagoniza um dos momentos mais tensos, quando fica pendurado em um ônibus à beira de um penhasco. Fãs do astro ficarão satisfeitos e emocionados com a homenagem que aparece no final a partir de cenas dos capítulos anteriores da série. Ele morreu relativamente jovem e poderia ser um bom ator (no futuro do pretérito). (por Julio Cavani, do Diario de Pernambuco)

O MUNDO ENCANTADO DO BREGA (Boulevard Filmes/Divulgação) O MUNDO ENCANTADO DO BREGA
Amor, plástico e barulho retrata o brega como um mundo encantado. Antes de tudo, é um filme que não se propõe a ser realista. É baseado muito mais na fantasia e no imaginário. Como nos contos de fadas, há um clima de sonho - só que nem tudo é necessariamente maravilhoso.

O lado glamuroso do movimento cultural pernambucano contemporâneo aparece na tela e é valorizado, mas há espaço para o risco da decadência. No final, o que fica é a magia.

As atrizes Maeve Jinkings e Nash Laila brilham nos papéis principais: duas cantoras de brega de gerações diferentes que precisam aprender a conviver entre si, sem deixar a inveja contaminar as performances no palco.

Uma das coisas mais interessantes é a ausência de hierarquização. As imagens, fotografadas como pintura, em cenários deslumbrantes e cores explosivas, reafirmam que o brega não é "baixa cultura". Renata, também artista plástica, usa a imaginação para recriar o riquíssimo universo livremente. Espécie de tributo ao que está ao redor dos recifenses, apesar de alguns fingirem que não enxergam. (por Julio Cavani, do Diario de Pernambuco)

ADEUS, TERRA MÉDIA (Warner Bros./Divulgação) ADEUS, TERRA MÉDIA
O hobbit: A batalha dos cinco exércitos é, dentre os longas da nova trilogia de Peter Jackson, o que mais se parece com os três filmes da saga anterior, O senhor dos anéis.

O neozelandês lembra ao mundo, nos 144 minutos do título que estreia hoje, o que sabe fazer de melhor: a arte da guerra. Interespécies, para ser ainda mais épica. Orcs, anões, elfos, humanos e animais se digladiam por honra, amizade, sobrevivência, ganância ou instinto - dependendo do personagem. A batalha dos cinco exércitos é tão nostálgico quanto eletrizante. Os cenários grandiosos só aparecem quando estão em processo de destruição.
As cenas de luta voltam ao destaque: atenção à sequência com Saruman (Christopher Lee, de 92 anos). O ritmo acelerado não tira o foco dos atores, como prova Martin Freeman (Bilbo). Jackson ainda não se livrou dos clichês, mas se despede (ou diz até breve) com um O hobbit melhor do que quando começou. Nada mais justo. (por Raquel Lima, do Diario de Pernambuco)

INTERESTELAR RESGATA FASCÍNIO POR VIAGEM A OUTROS PLANETAS INTERESTELAR RESGATA FASCÍNIO POR VIAGEM A OUTROS PLANETAS
Interestelar resgata o fascínio das viagens a outros planetas. Esse tema, que costuma ficar restrito a aventuras mais fantasiosas, ganha uma versão relativamente plausível no novo filme do diretor Christopher Nolan (A origem), cineasta responsável por levar realismo até mesmo à saga de Batman. O resultado é impressionante, tanto pelo visual quanto pela maneira como essa possibilidade espacial é discutida.

Para públicos criticamente mais exigentes, Interestelar tem um problema que não chega a ser uma falha: uma ênfase nas questões familiares. Isso gera um sentimentalismo que não acrescenta nada ao que filme tem de melhor. É algo inserido na trama para tornar a ação mais comovente e facilitar o caminho para o Oscar ou para plateias com resitência à ficção científica pura. Mesmo assim, como trata-se de Nolan, há toda uma explicação criada para justificar a importância dos instintos paternos numa missão espacial. É uma defesa "da moral e dos bons costumes" voltada para o espectador conservador.

O filme tem referências indiretas a clássicos cinematográficos da ficção científica, recriadas a partir do filtro cético de Nolan. O final, por exemplo, lembra o desfecho enigmático de 2001: Uma odisseia no espaço, mas ganha explicações lógicas, sem aquele mistério em aberto. Do mesmo filme, percebe-se influências no visual e no comportamento dos robôs, que também têm funções semelhantes às do R2-D2 de Star wars (simpáticos engenheiros capazes de pilotar naves).

O elenco é cheio de atores que já venceram ou foram indicados ao Oscar, calculadamente escolhidos para conquistarem o maior número possível de indicações para o filme. Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Jessica Chastain, Michael Caine, Matt Damon, John Lithgow, Casey Affleck e Ellen Burstyn, que já ganharam ou disputaram a estatueta, interpretam os personagens principais.

(por Júlio Cavani, do Diario de Pernambuco)

COM ALTOS E BAIXOS, MAS DIVERTIDO (Downtown Filmes/Divulgação) COM ALTOS E BAIXOS, MAS DIVERTIDO
Uma pessoa envolvida por carcaça de rinoceronte que protegia seu coração mole e agigantado. A frase sintetiza com propriedade a personalidade artística e super talentosa que nos deixou no dia 15 de março de 1998. Ela pertence ao filme Tim Maia. O longa de mais de duas horas, retrata a história do nosso maior soulman, da infância até sua morte. Apesar de certas deficiências e de estar longe de ser uma obra-prima, o lançamento tem bons momentos. O filme, é baseado no livro Vale tudo: o som e a fúria de Tim Maia, do jornalista, apresentador e compositor Nelson Motta. A direção é de Mauro Lima e tem no elenco os globais Alinne Moraes, linda e convincente no papel de Janaína, personagem-síntese das muitas mulheres com as quais o cantor se relacionou; e Cauã Reymond, galã, na pele de Fábio - que sintetiza músicos e amigos do "Síndico" - que não está tão brilhante, mas também não compromete.

(por Ad Luna, do Diario de Pernambuco)

JOGO SEM DESAFIOS (Fox/ Divulgação) JOGO SEM DESAFIOS
A graça dos labirintos é estimular os jogadores a usarem o raciocínio para encontrar o caminho certo, mas Maze runner não soube incorporar essa ideia. O filme é mais direcionado para a ação, sem muito espaço para momentos românticos ou contextualizações mais globais (esses elementos serão desenvolvidos posteriormente, pois trata-se de uma trilogia). Um grupo de garotos é abandonado em uma floresta localizada no meio de um labirinto. Eles perderam a memória e precisam decifrar enigmas para descobrirem como escapar, enquanto lutam entre si, criam suas próprias regras e são perseguidos por monstros organomecânicos. Como não são apresentadas informações suficientes para a compreensão da situação, o espectador não precisa gastar o cérebro para entender onde os meninos estão. Basta se divertir com toda aquela correria e tentar adivinhar quem vai morrer e quem vai sobreviver.

Na indústria cinematográfica (e no capitalismo em geral), não é novidade que o sucesso de um filme impulsione o surgimento de outros produtos semelhantes criados para atingir o mesmo público-alvo. Essa lógica oportunista tem sido descaradamente refletida no fenômeno desencadeado pela trilogia Jogos vorazes, que indiretamente deu origem toda uma série de novas aventuras de ficção científica protagonizadas por adolescentes. Nos últimos meses, lançamentos como Ender's game: O jogo do exterminador e Divergente não conseguiram disfarçar que foram produzidos para pegar carona nessa tendência de mercado. Os mais recentes exemplos desse modismo são O doador de memórias e Maze Runner: Correr ou morrer.

(por Júlio Cavani, do Diario de Pernambuco)

EVOLUÇÃO DOS SÍMIOS
Planeta dos Macacos: O confronto resgata o sentimento de espanto que nos faz pensar sobre quem somos, de onde viemos e para onde vamos. Diante de símios que conseguem falar, os homens olham para si mesmos e repensam a própria natureza. Como antecipa o subtítulo, a guerra parece incontornável quando as respostas científicas estão confusas. O filme, dirigido por Matt Reeves (Cloverfield), começa a ser exibido diariamente esta semana em sessões de pré-estreia.

A ação é ambientada em um futuro no qual a humanidade foi devastada por um vírus criado em laboratório, como apontava o fim do primeiro episódio, Planeta dos Macacos: A origem (2011). Praticamente todos morreram e os sobreviventes são os que possuem imunidade biológica. Em vez de ficar doentes e morrerem, os símios infectados evoluíram. Além de falar, são capazes de cavalgar e manipular artefatos e máquinas. Vivem isolados, escondidos em uma floresta.

Esses gorilas, chimpanzés e orangotangos irritam-se quando são procurados pelos humanos, que querem entrar na floresta para reativar uma usina hidrelétrica abandonada. A tensão do filme gira em torno dessa negociação. Parte da macacada vê os homens como inimigos, mas o líder dos macacos é Cesar (interpretado pelo ator Andy Serkis, coberto por uma maquiagem digital), que foi criado com amor por um cientista e acredita na compaixão entre as espécies. Depois de alguns incidentes, traições e sabotagens dos dois lados, %u201Co confronto%u201D torna-se inevitável.

Como em todo o universo do Planeta dos Macacos, o filme oferece boas reflexões a partir de metáforas. Até o vilão (o chimpanzé Koba) tem motivações plausíveis, apesar do visual maldoso caricatural. Existe ainda um peso na questão familiar, manifestada no núcleo de Cesar e também entre os humanos (o personagem principal, um pacifista, é vivido por Jason Clarke, revelado com A hora mais escura).

O título original em inglês, Dawn of the Planet of the Apes (%u201CMadrugada do Planeta dos Macacos%u201D), sugere uma citação a Dawn of the dead (Despertar dos mortos, 1978), clássico do cineasta George Romero, no qual zumbis cercam seres humanos ilhados em um shopping. Em ambos, a imbecilidade humana vem à tona quando, ameaçados, começam a brigar entre si e a matar uns aos outros. Desta vez, entretanto, conclui-se que a estupidez é genética e existe em toda a ordem primata, tanto nos símios quanto nos homo sapiens.

(por Júlio Cavani, do Diario de Pernambuco)

UM DOS MAIS VIOLENTOS DO ANO (Zeta Filmes/ Divulgação) UM DOS MAIS VIOLENTOS DO ANO
Extremamente violento e brutalmente realista, o filme mexicano Heli, em cartaz no Cinema da Fundação, choca o espectador com sua crítica social direcionada para a absurda opressão provocada pelo narcotráfico sobre a vida de pessoas inocentes.

O mundo retratado é desesperador desde o início, mas esse inferno torna-se cada vez mais cruel à medida em que o drama avança em direção a uma situação sem saídas, onde a polícia mostra-se parceira do crime. Uma das personagens principais, por exemplo, é uma menina de 12 anos de idade, namorada de um jovem traficante cinco anos mais velho que prepara-se para ser policial (em um treinamento temperado com vômito e fezes). Esse relacionamento põe em risco a segurança da família da garota de forma incontornável.

A agressividade está presente desde a primeira imagem, como um anúncio do pior que está por vir. O ritmo procura transmitir a calma da paisagem desértica, mas a sensação de lenta passagem de tempo é bruscamente acelerada diante do impacto dos desdobramentos vividos pelo protagonista. Cachimbos de crack convivem com videogames e adolescentes participam de sessões de tortura como rituais de aprendizado.

A sensação de realidade é realçada pelo trabalho dos atores, que não parecem interpretar, como se fizessem parte daquele universo. Os diálogos são soltos e coloquiais, informais. A caracterização visual dos ambientes também atinge uma verossimilhança mais associada a documentários. Tudo isso direcionaria para um tipo de cinema mais contemplativo, mas a maneira como a violência surge eleva a tensão a um nível de filme de terror.

Com seu estilo cru e direto, o cineasta Amat Escalante ganhou o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes, onde concorreu com nomes consagrados como Roman Polanski, Irmãos Coen, Jim Jarmusch e Paolo Sorrentino (com A grande beleza).

(por Júlio Cavani, do Diario de Pernambuco)

EXAGERO E ELENCO DE PRIMEIRA LINHA (Fox Filmes/Divulgação) EXAGERO E ELENCO DE PRIMEIRA LINHA
Os filmes do diretor americano Wes Anderson costumam ter uma atmosfera onírica, vide Moonrise kingdom (2012), para citar o mais recente. Grande Hotel Budapeste não foge dessa regra. O longa sobre a história do edifício em decadência assim como as aventuras dos antigos funcionários tem na estética um dos pontos fortes. Mas não fica só nisso. O equilibrado elenco de primeira linha, com Ralph Fiennes, Jude Law, Adrien Brody, Willem Dafoe, Mathieu Amalric, Tilda Swinton e Owen Wilson, entre outros, também chama a atenção.

Esse parece ser o tipo de projeto em que as estrelas embarcam pela oportunidade de fazer algo diferente daquilo que as consagrou. É aposta no risco. Há certo exagero no todo e nos detalhes de Grande Hotel Budapeste. A narrativa é toda em flashback. A história começa quando um jovem escritor (Jude Law) se reúne com o dono do estabelecimento (F. Murray Abraham) para saber mais sobre o passado de glória do lugar. A medida em que ele vasculha a memória, o público embarca em uma aventura tão absurda quanto bem-humorada sobre a origem da herança que o fez milionário.

A trama se passa no período entre guerras. Foi quando o famoso gerente do hotel, Mr. Gustave H (Ralph Fiennes) herdou de uma das hóspedes um quadro valioso, obviamente a contragosto de toda a família. No plano de fuga, conta com a ajuda do fiel escudeiro, Zero (Tony Revolori). A dobradinha deles é outro aspecto valioso do filme.

O roteiro de Grande Hotel Budapeste é inspirado em textos de Stefan Zweig. As interpretações, em geral, são caricatas, escolha que, curiosamente, não entra em atrito com os outros elementos do filme. As cores são fortes, a trilha sonora de Alexandre Desplat pontua cada cena e a fotografia colabora para fazer das imagens quadros de época.

(por Carolina Braga, do Estado de Minas)

MAIS FADA DO QUE BRUXA (Disney/ Divulgação) MAIS FADA DO QUE BRUXA
Ao procurar complexificar e reinventar a história da Bela Adormecida, o filme Malévola consegue manter a essência dos contos de fadas e garante a diversão em um espetáculo cinematográfico para todas as idades, com direto a cenas de ação explosivas e quantidade elevada de efeitos especiais digitais. Influências contemporâneas, como O senhor dos anéis e Avatar, são combinadas com as novas tendências politicamente corretas já consolidadas por Frozen e Valente, onde a lógica do "príncipe encantado" é desconstruída.

Apesar do nome, Malévola não é malvada. Ela é mais fada do que bruxa. O filme justifica as motivações que fizeram a personagem amaldiçoar a filha do rei. Praticamente todos os seus atos violentos são em legítima defesa. Seus momentos de fúria têm fundamentação em um passado anterior aos acontecimentos descritos no desenho animado lançado pela Disney em 1959. Os desdobramentos da história também ganham novos rumos que oferecem uma nova interpretação sobre sua índole.

Angelina Jolie interpreta Malévola, com o visual inspirado na feiticeira da animação (o novo filme também é da Disney). Ela usa chifres na cabeça, asas nas costas e tem as maçãs do rosto alteradas pela maquiagem. Elle Fanning assume o papel de Aurora, a Bela Adormecida, uma princesa extremamente passiva e ingênua. Apesar de todo o marketing, o figurino é menos impactante do que o de Branca de Neve e o caçador (2012).

Malévola é o primeiro filme dirigido por Robert Tromberg, que só havia trabalhado como técnico de efeitos especiais e desenhista de produção. Isso explica uma ênfase maior no visual pirotécnico do que nos aspectos dramáticos.

O roteiro é cheio de pequenas incoerências, que não devem incomodar o entretenimento, mas demonstram falta de criatividade. A feiticeira, por exemplo, comanda todas as criaturas mágicas, mas surgem três fadinhas que inexplicavelmente estão do lado dos humanos para cuidarem da princesa. Quando Aurora é amaldiçoada, o rei a envia para um lugar isolado na floresta, só que o esconderijo é facilmente acessado por Malévola e perde o sentido sem maiores explicações. Além disso, as cenas de ação são cheias de soluções que podem fazer o espectador questionar: "Por que ela não usou essa magia antes?" (apelação típica de Hollywood).

Entre as revelações da saga de Malévola, algumas são novas e originais (elaboradas pela roteirista Linda Woolverton, de O Rei Leão) e outras são combinações entre as várias versões da lenda, que já foi reescrita por autores como Charles Perrault, Giambattista Basile e Os Irmãos Grimm.

No final, há uma bonita intepretação para a valsa composta por Tchaikovsky para o balé A bela adormecida. Acrescida de versos, é a mesma composição presente no desenho animado. Na animação, ela é cantada pela Bela Adormecida. No filme, a voz parece ser de Malévola (quem a canta, na verdade, é a estrela pop Lana Del Rey).

(por Júlio Cavani, do Diario de Pernambuco)

TRIÂNGULO MASCULINO (Alexandre Ermel/ Divulgação) TRIÂNGULO MASCULINO
Praia do Futuro retrata a relação entre um salva-vidas brasileiro (Wagner Moura), seu irmão mais novo (Jesuíta Barbosa) e um piloto de motocross alemão (Clemens Schick), que se conhecem após um afogamento ocorrido em Fortaleza. O filme começa com um potencial explosivo, volume alto e imagens arrebatadoras no mar, nas dunas e em cenários corroídos pela maresia. Aos poucos, transforma-se em um drama mais intimista, centrado na relação entre os dois personagens mais velhos e no marasmo do frio berlinense. Na terceira parte, retoma parte da inquietação inicial e mergulha numa discussão sobre identidades, família e afeto.

Apesar dessa desaceleração no segundo capítulo, o que se sobressai no filme de Karim Aïnouz é uma pulsante elaboração cinematográfica nas imagens e no som (nas músicas e nos efeitos). Nas cenas em Fortaleza, além do impacto provocado pelo chacoalhar das ondas e pelo movimento das motocicletas nas dunas, detaca-se uma moldura industrial-urbana que contrasta com o mercado do turismo, onde turbinas eólicas, instalações industriais enferrujadas e construções governamentais inacabadas convivem com a natureza e com bares de beira de praia. Existe um encontro entre um futuro idealizado e um presente frustrante que cria um clima pós-apocalítico.

Quando a narrativa é transportada para Berlim, os tempos mortos parecem transmitir a ideia da monotonia do inverno e da frieza da paisagem alemã, transferidas também para os seres humanos, mas tudo isso parece uma redundância que reforça estereótipos da Alemanha-Fria e do Ceará-Quente. É muito sacrifício de ritmo para pouco resultado dramático.

Praia do Futuro é essencialmente masculino, com mulheres timidamente presentes. Há um interesse pelo torso que Aïnouz já havia esboçado em obras anteriores, como O abismo prateado e Madame Satã. Em meio às questões afetivas e psicológicas, a informação corporal torna-se símbolo daqueles valores morais armazenados em um recipiente sólido de carne e osso.

Perecebe-se ainda um diálogo com o universo dos super-heróis, aquelas figuras que as crianças idolatram, mas que não existem no mundo real. Os motociclistas do filme pilotam suas motos sempre uniformizados, com roupas coloridas e proteções de todo tipo. Um menino, que quer ser Speed Racer, chama o salva-vidas de Aquaman, mas aquele homem de verdade não poderá atender a essa expectativa heróica idealizada.

(por Júlio Cavani, do Diario de Pernambuco)

ESPETÁCULO BÍBLICO TECNOLÓGICO (Paramount/ Divulgação) ESPETÁCULO BÍBLICO TECNOLÓGICO
Por ser uma interpretação livre de trechos do livro da Gênesis, Noé é um filme que assume licenças poéticas e não procura ser fiel a fatos históricos ou crenças religiosas. Elementos como criaturas mitológicas gigantes e um figurino estilizado o tornam mais próximo de ficções científicas pós-apocalípticas e fantasias no estilo O senhor dos anéis do que de clássicos bíblicos como Os dez mandamentos (1956).

Essa liberdade favorece a construção do espetáculo audiovisual que torna o filme único. O diretor Darren Aronofsky (Cisne negro) costuma usar os recursos técnicos do cinema atual com exagero para provocar o máximo de impacto sensorial sobre a plateia, o que torna a narrativa épica da Arca de Noé ainda mais apoteótica.

Outros textos dos antigos testamentos também são adaptados em cenas rápidas mas repletas de informação. A criação e as transformações do mundo, por exemplo, são retratadas com efeitos de time lapse (imagens fotográficas aceleradas). Adão e Eva ganham uma aura luminosa mágica. O mito de Caim e Abel é retratado com efeitos visuais que potencializam seus significados.

Há ainda sugestões sobre temas religiosamente polêmicos, como o vegetarianismo e a teoria da evolução das espécies. Alguns especialistas acreditam que o ponto de vista adotado pelo filme é mais judaico do que cristão.

Alguns pontos são be diferentes de adaptações anteriores, como o surgimento de monstros mutantes de pedra (anjos castigados, parecidos com Transformers pré-históricos) que ajudam na construção da arca, que não tem formato de barco (parece um grande cubo de madeira).

O que mais continua presente em relação às escrituras sagradas são valores como o maniqueísmo, que divide os homens entre bons e maus, sem intermediários, com a punição acima do perdão ou do diálogo. Nesse aspecto, o filme é coerente com os tons moralistas da filmografia de Aronofsky: Em Réquiem para um sonho, ele retrata personagens impiedosamente castigados por causa das drogas; Em Cisne negro, a bailarina enlouquece ao tentar controlar seus instintos sexuais; Em O lutador, o protagonista perde a filha definitivamente por causa de uma farra em um bar.

No caso de Noé, a constatação sobre os rumos da humanidade ao longo dos séculos é o que permitirá um julgamento sobre as decisões tomadas pela família interpretada por astros como Russel Crowe (Gladiador), Emma Watson (Harry Potter) e Douglas Lerman (Percy Jackson).

(por Júlio Cavani, do Diario de Pernambuco)

ALCATEIA DE CANALHAS (Paris Filmes/ Divulgação) ALCATEIA DE CANALHAS
Com O Lobo de Wall Street, o cineasta Martin Scorsese mostra que não está ficando velho. Aos 71 anos de idade, o diretor fez seu filme mais ágil, escrachado e engraçado, com uma quantidade de cenas de sexo e drogas nunca vista em sua filmografia, além de diálogos que batem o recorde histórico de palavrões no cinema. São três horas de hiperatividade e cinco indicações ao Oscar 2014.

O mais incrível é saber que a história é baseada em fatos reais, narrados na autobiografia escrita pelo personagem principal, Jordan Belfort, interpretado por Leonardo DiCaprio. Esta é a quinta parceria de Scorsese com o ator, que parece ter um interesse especial por papéis de milionários excêntricos, como já demonstrou com O aviador e O grande Gatsby.

Ao retratar as tragicômicas contradições do universo dos corretores de ações e da bolsa de valores de Nova York, o filme reforça as motivações do movimento Ocupe Wall Street. Mais do que isso, revela como as relações econômicas que movem o mundo contemporâneo são muitas vezes baseadas em especulações e negociações distantes da realidade cotidiana. "É só uma ficção", diz o personagem interpretado por Matthew McConaughey, um corretor viciado em cocaína e masturbação.

Mais assustador ainda é descobrir quem toma essas decisões que movem a economia. O time de sócios e assistentes de Belfort, liderado por Donnie Azoff (Jonah Hill, indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante), é todo formado por pervertidos, drogados, que se acham no direito de cometer todo tipo de barbaridade para gastar dinheiro e ostentar poder. O tratamento que todos eles dão às mulheres, por exemplo, é degradante.

(por Júlio Cavani, do Diario de Pernambuco)

REFILMAGEM MECÂNICA (Sony/ Divulgação) REFILMAGEM MECÂNICA
Baseados em fatos reais, Tropa de Elite 1 e 2, dirigidos por José Padilha, retratam uma alternativa agressiva desenvolvida pela polícia para combater o crime. Essa seria uma das razões para a escolha do diretor brasileiro para comandar a refilmagem de RoboCop, que também aborda a busca por uma solução radical contra o crime, desta vez no campo da ficção científica.

O novo RoboCop, portanto, tinha tudo para ser um filme que combinasse boas cenas de ação com questionamentos sobre o papel repressivo da polícia na sociedade contemporânea. O resultado não é uma coisa e nem outra.

É possível afirmar, contudo, que Padilha passou no teste, pois o filme é um típico produto nos padrões de Hollywood. Para os que esperavam algum diferencial de conteúdo, no entanto, o que se vê na tela não é nada demais.

Como na versão original de 1987, a trama mostra como um policial que sofre um atentado (Alex Murphy, interpretado por Joel Kinnaman) é transformado em um homem-robô por uma grande empresa que vende tecnologias para o combate ao crime. Tudo dá errado quando o lado humano do personagem, que tem esposa e filho, provoca um curto-circuito em suas programações eletrônicas.

Os efeitos especiais não impressionam (a melhor imagem são os restos do corpo em funcionamento fora da armadura) e as sequências mais agitadas são tiroteios entre robôs e bandidos, que se tornam repetitivos. Além disso, as discussões propostas não se desenvolvem muito além da premissa inicial e chegam a se tornar redundantes.

Em Tropa de Elite, o cneasta mostrou os problemas da polícia. Na continuação, acrescentou a participação dos políticos nos esquemas criminosos. Em RoboCop, ambientado no futuro, a iniciativa privada entra na equação.

Além dessa questão da interferência das corporações sobre as políticas públicas, o filme trata de outros temas atuais, como a utilização de robôs (drones) pelos Estados Unidos para matar pessoas nos países do Oriente Médio e os sistemas de vigilância que filmam o cotidiano da população nas ruas das grandes cidades do mundo.

Essa engrenagem, entretanto, apresentou falhas humanas. A questão dos drones já ficou repetitiva, pois tem sido bastante abordada em filmes de ficção científica recentes, como Oblivion, Elysium e Ender's game. A problemática das câmeras vira um exagero no filme, pois RoboCop torna-se praticamente um semideus onipresente, a ponto de ser inverossímil a possibilidade de tantos pontos de vista em tantos locais e ângulos ao mesmo tempo.

Ironicamente, as cenas de ação são robóticas demais, sem nada espetacularmente inédito. As reviravoltas ocorrem de forma repentina, quase aleatória, o que elimina desafios ao raciocínio do público. As melhores ideias do filme já estavam na versão original ou foram antecipadas no trailer, que conta demais. Para uma avaliação mais justa, é melhor assistir sem saber de nada, se for possível.

Por Júlio Cavani, do Diario de Pernambuco

AZUL É A COR DA LIBERDADE SEXUAL (Imovision/ Divulgação) AZUL É A COR DA LIBERDADE SEXUAL
Na bandeira da França, o azul representa a liberdade. Essa cor está no título e aparece em todas as cenas do filme francês de maior repercussão de 2013, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes. Ao defender o amor como caminho para a libertação pessoal, é uma obra que também procura ser livre para retratar o sexo de forma explícita.

Azul é a cor mais quente narra a relação amorosa entre Adèle e Emma, interpretadas respectivamente por Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux. A entrega das excelentes atrizes às personagens é de uma intensidade rara, não só pela nudez libertária, mas mais ainda pela profundidade e verossimilhança dos sentimentos expressados.

É uma história de amor como outra qualquer. A homossexualidade vira ponto de tensão em duas ou três cenas, mas o que está em questão na maior parte do tempo é a descoberta da paixão, independente da opção sexual. A chegada da vida adulta e o crescimento das responsabilidades afetivas são os temas mais explorados.

É um filme que será marcante também pela coragem dos artistas envolvidos, que aceitaram construir um ambiente de intimidade que beira o inacreditável enquanto realização cinematográfica. Sua pornografia do afeto torna-se urgente em uma sociedade onde o conservadorismo e a extrema direita agridem os direitos humanos diariamente e tentam reprimir desejos incontroláveis com a hipocrisia dos falsos moralismos.

São três horas de duração, opção claramente adotada em nome de um maior aprofundamento humano. A trama é intimista e não teria reviravoltas épicas, mas o tempo mais longo permite o detalhismo no desenvolvimento das personalidades retratadas, algo essencial diante de temas tão delicados.

O azul do título simboliza a liberdade e também o amor. É como um vulto que surge, desaparece e provoca um tremor revolucionário em que o sente e experimenta. A cor é utilizada pelo cineasta Abdellatif Kechiche em detalhes pontuais de objetos, cenários, iluminação, paisagens, adereços, na água do mar, no céu e no cabelo de Emma. O filme é um arco-íris (figura-ícone da diversidade sexual) pintado com tons azulados.

(por Júlio Cavani, do Diario de Pernambuco)

EXAGERADO COMO CONVÉM (Disney/ Divulgação) EXAGERADO COMO CONVÉM
Thor: O mundo sombrio demonstra que o primeiro filme do super-herói, lançado em 2011, era apenas uma forma de apresentar o personagem que reapareceria em Os Vingadores (2012). Só agora público conhecerá todo o seu universo mitológico. Desta vez, as cenas grandiosas exploram melhor o potencial visual de Asgard e de outros planetas, além de ainda sobrar espaço para sequências em cartões-postais de Londres.

É verdade que essa ampliação beira o exagero. Há um certo excesso de ações, paisagens, exércitos em guerra, monstros, naves espaciais e efeitos especiais, mas, por outro lado, isso dá ao filme a dimensão épica que Thor merece. A trama deve ser acompanhada sem maiores exigências cerebrais, pois tudo não passa de um grande parque temático em em forma de diversão audiovisual cinematográfica (o 3D não acrescenta muito, é bom saber).

Em duas horas, o novo filme consegue combinar naves epaciais, exércitos alienígenas, teletransporte interdimensional, criaturas gigantes, fenômenos astrofísicos, mitologia, ficção científica tecnológica, guerras interplanetárias, magia, romance, intrigas familiares (sub) shakespeareaneas, armas que disparam raios... É um verdadeiro carnaval de elementos fantásticos e efeitos especiais. Este segundo episódio potencializa no cinema a miscelânea que já estava presente nas histórias quadrinhos de Thor, mais uma vez interpretado por Chris Hemsworth. O resultado parece uma mistura entre O senhor dos anéis, Flash Gordon, He-Man, Guerra nas estrelas, Os cavaleiros do Zodíaco e Power Rangers.

Depois dos acontecimentos de Thor (2011) e Os vingadores (2012), o herói agora precisa enfrentar os elfos negros, que no passado perderam uma batalha para o pai de Odin (Anthony Hopkins) e agora retornam para tentar destruir o universo. A fonte do poder desses vilões está em uma espécie de substância energética chamada "Éter", que, por uma absurda coincidência, caiu nas mãos justamente de Jane Foster (Natalie Portman), a namorada terráquea de Thor. Ele leva sua amada a Asgard para protegê-la e apresentá-la aos sogros. Seu irmão Loki está preso desde o ataque a Nova York, mas pode virar uma peça-chave no conflito intergaláctico.

(por Júlio Cavani, do Diario de Pernambuco)

O PRAZER DO MAU GOSTO (Sony/ Divulgação) O PRAZER DO MAU GOSTO
Seth Rogen ganhou milhões de dólares e alcançou respeito com filmes que renovaram a comédia em Hollywood, como Superbad e Segurando as pontas (Pineapple express). Depois de provar seu talento, o humorista decidiu usar seu prestígio para vomitar suas ideias mais grotescas junto com os amigos no escatológico É o fim.

No filme, artistas famosos interpretam a si mesmos, com a participação de James Franco, Emma Watson, Michael Cera, Channing Tatum e a cantora Rihanna, entre outros. No lugar de transmitirem uma imagem exemplar de suas personalidades, eles preferem a autorridicularização, com direito a maconha, cocaína, ecstasy, chocolate e piadas com masturbação, estupro e todo tipo de humor de baixo nível. Em uma das cenas, dois dos personagens bebem xixi. Cera só está no filme cheirar pó e mostrar a bunda.

Até o fim é interessante justamente por explorar os limites do mau gosto (até os Backstreet Boys aparecem). A história começa quando Jay Baruchel e Seth Rogen vão a uma festa na casa de James Franco em Hollywood depois de fumarem meio quilo de maconha (metade do orçamento da produção deve ter sido gasta com a droga, legalizada nos EUA).

Esse jogo com uma suposta realidade, quebrada bruscamente pela inserção de elementos pós-apocalípticos, é o que torna o filme especial e anormal como uma tentativa de demonstração de uma falta de vaidade dos atros, que preferem "se queimar" na tela do que passar uma falsa imagem positiva.

(por Júlio Cavani, do Diario de Pernambuco)

DIVERSÃO DESCARTÁVEL EM CENÁRIO TROPICAL (Fox/ Divulgação) DIVERSÃO DESCARTÁVEL EM CENÁRIO TROPICAL
Aposta máxima é basicamente um filme de gângsteres. Ivan Block (Ben Affleck) é um típico chefão, que suborna o governo, domina a polícia, lava dinheiro, vive cercado de mulheres, adota métodos violentos de chantagem e é um empresário do ramo dos cassinos e das pirâmides monetárias. Por meio de jogos pela internet, principalmente pôquer, sua rede de negócios é internacional. A sede de suas ações é a Costa Rica, onde pode fugir da fiscalização dos EUA. Todo esse esquema é retratado a partir do ponto de vista de um novato (Justin Timberlake), estudante de marketing, viciado em pôquer, filho de um jogador endividado.

No fim das contas, é mais parecido com um episódio de algum seriado policial, como Miami Vice, com direito a lanchas e jacarés. É diversão descartável, esquecível em poucas horas. A questão dos jogos online e das pirâmides situa a ação nos dias de hoje, mas nada que provoque algum efeito político ou de denúncia. Cheia de diálogos espertinhos e ironias pobres, a trama arrisca algumas complexidades, mas o desfecho é do tipo que faz o espectador se sentir inteligente e captar tudo mesmo sem entender nada.

(por Júlio Cavani, do Diario de Pernambuco

BANALIZAÇÃO DA FELICIDADE (Diamond Films/ Divulgação) BANALIZAÇÃO DA FELICIDADE
Bling Ring: A gangue de Hollywood, de Sofia Coppola, não é um documentário, mas é uma espécie de "instantâneo" da realidade. O filme não faz jornalismo, apesar de ser baseado em uma reportagem da revista Vanity Fair. Porém, é o tipo de obra que dialoga diretamente com algo que ainda está no ar. É uma tentativa urgente de captar um fenômeno cronologicamente atual. O que se vê na tela é praticamente simultâneo ao que está fora dela.

Esse procedimento cinematográfico imediatista tem em A rede social e A hora mais escura seus mais recentes exemplos, mas já foi explorado em outros momentos, como em Todos os homens do presidente (lançado apenas dois anos depois da renúncia de Nixon, na década de 1970). No filme de Sofia, a inspiração é a história real de um grupo de pós-adolescentes que começa a invadir casas de celebridades para roubar joias, dinheiro, sapatos e peças de roupa.

Em Bling Ring, participações especiais de artistas como Kirsten Dunst e Paris Hilton, que interpretam a mesmas, e o uso de imagens reais publicadas na imprensa ampliam esse diálogo direto com a verdade. Porém, trata-se de um filme de Sofia Coppola, diretora diretamente ligada à cultura do videoclipe e da moda, então tudo é apresentado com uma linguagem altamente pop, que deve fazer sucesso entre adolescentes, com direto à presença de Emma Watson (Harry Potter) entre as protagonistas. Na obra da cineasta, a embalagem sempre confunde-se com o conteúdo e o que poderia ser visto como superficial apenas torna tudo mais aprofundado.

O filme é cinema puro, mas usa um vocabulário visual baseado em fotos de facebook, câmeras de segurança e webcams. O ritmo da montagem associado ao uso da trilha sonora, entre outros elementos narrativos, deixam o resultado 100% cinematográfico. É entretenimento para as massas e ao mesmo tempo é tudo muito sério, urgente, antropológico, político e sociológico, com uma oportuna reflexão sobre um processo contemporâneo de banalização da vida íntima e coletiva em nome de sonhos descartáveis.

Em Bling Ring, as garotas da gangue vulgarizam a si mesmas. Apesar de terem bom acesso à educação (não roubam por necessidade, mas por prazer), elas chamam umas às outras de "bitches" ("cadelas", "putas"), gostam de sempre mostrar as pernas (uma delas admite que não tem uma saia ou vestido que chegue até o joelho), estão seriamente preocupadas com o tamanho da bunda em determinada roupa e só demonstram vontade de envolver-se com atores famosos ou traficantes. Essa questão da banalização da sexualidade complementa uma característica que está presente em toda a obra de Sofia Coppola. Todos os filmes da cineasta são marcados por situações de travação sexual (Maria Antonieta, Encontros e desencontros, As virgens suicidas). Filha de Francis Ford Coppola, a diretora cresceu em um ambiente que sempre confrontava os rígidos valores moralistas católicos italianos com liberdade da contracultura americana e do mundo dos artistas.

A música de Super rich kids, do cantor de rap Frank Ocean, tocada nos créditos finais, traduz perfeitamente a vida dessas garotas: "Crianças super-ricas sem nada a não ser amigos falsos".

(por Júlio Cavani, do Diario de Pernambuco)

COMO RECAUCHUTAR HERÓIS DO PASSADO (Disney/ Divulgação) COMO RECAUCHUTAR HERÓIS DO PASSADO
Resgatar o interesse das novas gerações de crianças para um gênero cinematográfico esquecido foi uma das grandes conquistas do ator Johnny Depp e do diretor Gore Verbinski na série Piratas do Caribe. Com O cavaleiro solitário, a dupla tenta transportar para o faroeste as mesmas fórmulas que revigoraram as aventuras de pirataria. O resultado, no entanto, é irregular. No fim de semana de estreia nos EUA, o filme não obteve sucesso de bilheteria.

O cavaleiro solitário leva ao western o ritmo acelerado e a pirotecnia de efeitos especiais que as plateias supostamente esperam de um filme de ação contemporâneo. Assim como em Piratas do Caribe, as situações lembram desenhos animados de tão absurdas e os personagens são cartunescos, principalmente os vilões e o índio Tonto (Depp). Armie Hammer interpreta o herói, também bastante caricato e inocente, como um autêntico "mocinho". O único Oscar vencido por Verbinski até hoje, por sinal, foi o de melhor animação, com o longa-metragem Rango. Além disso, é bom lembrar que O cavaleiro solitário foi produzido pela Disney.

Johnny Depp, que seria mais uma vez a estrela, não chega perto do carisma de Jack Sparrow. O excesso de maquiagem e o comportamento indefinido de Tonto engessam o personagem, que fica sem graça, perdido entre o humor satírico e a seriedade no respeito à cultura indígena nativa. E sua presença ainda deixa no ar a pergunta: Se o caubói é "solitário", por que ele está sempre acompanhado de um índio?

Com duração de 2h30, o filme é longo demais e carece de mais recursos de envolvimento, principalmente em seu miolo. Curiosamente, a sequência final recupera o ritmo e a empolgação sem a necessidade de maiores tecnologias ao utilizar um recurso clássico do cinema: uma sequência embalada por uma música de orquestra (a famosa abertura da ópera Guilherme Tell, de Rossini).

(por Júlio Cavani, do Diario de Pernambuco)

INGÊNUO ELOGIO À HUMANIDADE (Paramount/ Divulgação) INGÊNUO ELOGIO À HUMANIDADE
Guerra Mundial Z combina elementos de ação, terror, guerra e ficção científica pós-apocalíptica. Sua contribuição para o gênero zumbi está na expansão de escala territorial, com um alcance global que percorre três continentes, como ocorre em filmes de espionagem como as séries 007 e Missão Impossível.

Ao explorar tantos estilos ao mesmo tempo, o filme não se aprofunda em nenhum deles, mas cumpre algumas das exigências básicas de cada um. Há cenas aéreas impressionantes de multidões e também momentos de suspense em lugares fechados com mortos-vivos em salas e corredores onde os heróis tentam esconder-se.

"Cada pessoa que salvamos é um zumbi a menos que precisamos combater", defende um chefe de segurança israelense ao justificar a proteção dada a povos palestinos dentro de Jerusalém (Israel). Ao insistir na mensagem de paz entre os homens, entretanto, o filme exagera no humanismo, fica falso na tentativa de ser politicamente correto e perde uma das principais críticas sociais contidas nos clássicos do zumbinismo: o retrato das crueldades individualistas do ser humano.

Com 66 milhões de dólares arrecadados, Guerra Mundial Z chegou ao Brasil depois de bater um curioso recorde de bilheteria nos EUA. Nenhum filme com Brad Pitt havia alcançado um sucesso tão grande em um fim de semana de estreia. O épico é também a produção mais cara já realizada sobre zumbis.

O filme mostra o que aconteceria se os mortos-vivos dominassem a maior parte do território habitável do planeta a ponto de fazer todas as nações do mundo entrarem numa verdadeiro conflito armado internacional de proporções históricas. O personagem de Pitt é um ex-funcionário da ONU encarregado de viajar por três continentes em busca de algum tipo de cura para a edpidemia zumbi.

Há cenas espetaculares ambientadas em lugares como Israel, Estados Unidos, País de Gales e Coreia do Sul, com multidões de mortos-vivos atacadas por helicópteros enquanto avançam sobre os seres humanos vivos-vivos. Essa escala gigantesca é um dos diferenciais do filme em relação ao gênero, além de uma discussão geopolítica pouco explorada em obras anteriores.

O filme está disponível em 3D, mas isso não faz muita diferença e é claramente apenas um oportunismo de mercado.

(por Júlio Cavani, do Diario de Pernambuco)

FELIZ ADAPTAÇÃO DE UM CLÁSSICO DO ROCK (Hugo Santarem/ Pixel Imagem/ Divulgação) FELIZ ADAPTAÇÃO DE UM CLÁSSICO DO ROCK
O diretor brasiliense René Sampaio tinha 14 anos quando ouviu no rádio pela primeira vez Faroeste caboclo, canção de Renato Russo (1960-1996), hit da banda Legião Urbana. Desde então, alimentou a obsessão de transformá-la em filme. O tempo passou, ele se tornou cineasta, e somente agora conseguiu realizar o antigo sonho.

O tempo contribuiu para o amadurecimento do projeto. O longa, cercado do aparato de divulgação da Globo Filmes, é uma feliz adaptação de um dos maiores clássicos do BRock. Com agilidade, cenas de ação bem delineadas, o filme conta a história de uma menina rica que se apaixona por um bandido, espécie de Cinderela às avessas.

A produção faz jus à história criada pelo líder do Legião Urbana, morto vítima de Aids. Mas é bom avisar aos fãs do artista que se trata de uma releitura. O diretor tentou ser fiel à música, mas a letra é tão complexa que ele resolveu se ater ao tema central. Essa opção em nada prejudicou o longa-metragem.

Mesmo baseado numa história bastante conhecida, Faroeste caboclo se mantém atrativo, principalmente pela interpretação dos intérpretes do casal central da trama.

Fabrício Boliveira convence como João de Santo Cristo, personagem que depois da infância no interior da Bahia vai para Brasília, onde se envolve com o tráfico. Na capital federal, o baiano se apaixona pela filha de um senador, Maria Lúcia, vivida por Ísis Valverde. É um dos melhores papéis da atriz mineira.

(por Sérgio Rodrigo Reis, do Estado de Minas)

DIVERSÃO DEMONÍACA (Sony/ Divulgação) DIVERSÃO DEMONÍACA
"Tudo vai ficar bem", diz um garoto após ver sua irmã jogar água fervente no próprio rosto e sofrer queimaduras de terceiro grau. "Tudo vai ficar bem? Não sei se vocês notaram, mas tudo está ficando pior a cada segundo", responde seu amigo: Em filmes como A morte do demônio, o público sabe que praticamente todos os personagens vão morrer e não importa se isso é previsível, pois a graça é acompanhar como tudo acontecerá.

A Morte do demônio é a refilmagem de um clássico recente do cinema de terror, lançado em 1981, dirigido por Sam Raimi. O original foi filmado com 500 mil dólares. A nova produção, com direção de Fede Alvarez, custou 14 milhões, mas mesmo assim tenta recriar o estilo da primeira. A essência da história é a mesma, mas a embalagem de luxo inevitavelmente tira parte do clima de medo e torna tudo mais artificial.

Apesar da superprodução, houve uma preocupação de valorizar maquiagens e efeitos especiais artesanais e físicos, sem computação gráfica. Movimentos de câmera e luz (cheios de referências à obra original) também seguem princípios cinematográficos elementares, sem exageros digitais. Isso deixa o filme mais interessante do que a maioria das produções atuais do gênero. O resultado é nojento e suculento (entrar o cinema com comidas e bebidas pode ser uma experiência indigesta). Os sons também reaproveitam ideias desenvolvidas em 1981.

Ambos o filmes giram em torno de um livro escondido em uma casa no meio de uma floresta. Quem o encontrar é castigado por uma maldição que despertará demônios e ninguém sairá vivo. Na nova versão, suas páginas parecem ter sido calculadamente desenhadas por um designer gráfico modernoso, enquanto no antigo o visual era bem mais precário, macabro, autêntico e verossímil. Esse detalhe simboliza a diferença geral entre os dois projetos.

(por Júlio Cavani, do Diario de Pernambuco)

SANGUE, AMOR E LIBERDADE (Sony/ Divulgação) SANGUE, AMOR E LIBERDADE
Django Livre é uma colagem de referências cinematógraficas, mas não chega a ser um filme sem identidade. Pelo contrário, mesmo que traga até no título a memória de outro faroeste, trata-se de um modelo inconfundível de Quentin Tarantino. Django, dirigido pelo italiano Sergio Corbucci em 1966, conta a história de um homem que busca a vingança pelo assassinato de sua esposa. Longe de querer fazer uma refilmagem, mas sim uma homenagem a todo o faroeste spaghetti, o diretor norte-americano usa o mesmo nome da produção sessentista para nomear o protagonista de sua nova trama.

Tema recorrente na obra de Tarantino, a vingança, que movimenta, Shosanna em Bastardos Inglórios e que determina o objetivo final da Noiva, em Kill Bill, desta vez não é centro do roteiro. Assim como já é tradicional na obra do cineasta, as situações de revanche preenchem uma parte importante do filme, mas o fio condutor da produção é uma história de amor. Django (Jamie Foxx) é um escravo que ganha a liberdade ao ser comprado pelo %u201Ccaçador de recompensas%u201D Shultz (Christoph Waltz), com quem passa a trabalhar para juntar dinheiro e comprar a alforria de sua amada Brumhilde, cujo dono é o sádico Calvin Candie (Leonardo DiCaprio).

Toda a história, que se passa em 1858, segue a ordem cronológica, sendo provavelmente o trabalho mais linear de Tarantino. Para explicar o passado dos personagens, o diretor recorre a flashbacks, abrindo mão da divisão da história em capítulos, como é comum em suas obras anteriores. Conhecido por explorar diálogos longos, o cineasta inova também ao construir conversas mais diretas. Porém, outras características típicas de sua obra estão lá, como o humor em situações inadequadas, o anti-herói, a violência e a trilha sonora marcante, onde o diferencial desta vez é o uso do rap em duas cenas específicas.

Algumas faixas de Enio Morricone (autor da trilha de Três Homens em Conflito, de Sergio Leone) e de Luis Enríquez Bacalov (compositor do Django original) também compõem a sonoridade da produção. A referência aos diretores italianos de filmes de faroeste ainda vai além do título e das músicas e se espelha também na estética de Django Livre, através de legendas, planos contemplativos e zooms rápidos. Apesar de não ser tão comum o uso de protagonistas negros em histórias do velho oeste, Tarantino, cuja obra é bastante influenciada por filmes da Blaxploitation, não pode vir a ser considerado um pioneiro, mas soube contribuir com um ótimo exemplar para o gênero.

Ao conseguir extrair excelentes interpretações de todo o elenco, com destaque para Waltz e Samuel L. Jackson, quase irreconhecível na pele de um escravo fidelíssimo ao seu dono, o cineasta se prova cada vez mais competente na direção de atores. Django Livre já ultrapassa a bilheteria de Bastardos Inglórios no Estados Unidos e se tornará o maior sucesso da carreira do cineasta.

(por Camila Estephania, especial para o Diario de Pernambuco)

A CINEMATOGRÁFICA VIDA DE LUIZ GONZAGA (Paris Filmes/ Divulgação) A CINEMATOGRÁFICA VIDA DE LUIZ GONZAGA
Luiz Gonzaga, além de ser um legítimo representante do folclore nordestino, antecipou o fenômeno do artista pop. Suas músicas respeitavam a tradição, mas sua popularização está diretamente associada ao desenlvolvimento da cultura de massa, do rádio, da indústria fonográfica e da televisão. O filme Gonzaga de Pai pra Filho é, portanto, coerente em seu estilo popular, que parece ter sido calculado, em todas as cenas, para seduzir e emocionar as massas.

O Rei do Baião exerce um forte peso afetivo sobre a maioria dos brasileiros. Músicas como Asa Branca ou Qui Nem Jiló se transformaram em verdadeiros hinos na vida das pessoas, sobretudo no Nordeste. Entre as novas gerações, no entanto, essa herança corre o risco de se perder. O filme chega em uma boa hora, pois atingirá os corações dos mais velhos e enfrentará o desafio de encantar os mais jovens.

Independente de questões de estética ("cosmética") ou mercado, o filme é sim comovente e pode fazer espectadores mais sensíveis chorarem do início ao fim. A estrutura é hollywoodiana, mas isso fica na superfície, pois o conteúdo é brasileiríssimo no som, nas imagens e nas histórias reais. A dramaturgia tem alguns elementos ruins de telenovela, mas a caracterização dos personagens se sobressai, principalmente na última fase cronológica do filme, quando Gonzaguinha é interpretado pelo ator gaúcho Júlio Andrade e Luiz Gonzaga pelo caruaruense Adélio Lima.

Diretor de 2 Filhos de Francisco, o cineasta Breno Silveira não tem a obrigação de repetir o mesmo sucesso de bilheteria. Entretanto, trata-se de mais uma cinebiografia de personagens que saíram da pobreza no interior do país para conquistar a consagração nacional. Tudo conspira a seu favor.

Com os Fillhos de Francisco, havia uma impressionante trajetória de dores e conquistas de dois artistas cuja obra é considerada cafona. Mesmo assim, o cineasta conseguiu fazer um filme que emocionou e impressionou até mesmo os críticos musicais mais exigentes. Em Gonzaga de Pai pra Filho, o caminho parece ser o contrário. Há um acervo musical respeitadíssimo, mas já preso ao passado, que precisa ser atualizado e popularizado por meio de recursos cinematográficos baseados em critérios assumidamente comerciais. Assim como Luiz Gonzaga precisou do caminho midiático do Rio de Janeiro para ser reconhecido, Breno Silveira busca a linguagem de Hollywood para contar a história do cantor e de sua relação com o filho Gonzaguinha.

Breno Silveira não é nordestino. Assim como Gonzaguinha, nasceu no Rio de Janeiro, mas desenvolveu uma forte relação com o Nordeste. Quando trabalhava como diretor de fotografia, por exemplo, o cineasta percorreu o Sertão e o retratou com extrema beleza plástica no filme Eu Tu Eles. Pode ser considerado um dos responsáveis pela redescoberta da paisagem sertaneja nas últimas décadas no cinema nacional, apesar de representar a região com certa idealização visual, excessos de pôr-do-sol e tons ocre carregados. Ele se diz influenciado pelo neorrealismo italiano de Ladrões de Bicicleta e realmente percebe-se esse elemento em sua obra, mas bastante filtrado por um pesado tratamento pop-publicitário. Também predominante em À Beira do Caminho e 2 Filhos de Francisco, o interior do Brasil, de uma maneira geral, tem sido fundamental em seus filmes.

(por Júlio Cavani, do Diario de Pernambuco)

HUMOR SEM SUTILEZAS (Paris Filmes/Divulgacao) HUMOR SEM SUTILEZAS
Quem vai ao cinema assistir a um filme com o título de E aí, comeu? certamente não espera sutilezas. Com a intenção de dar uma espiada nas conversas íntimas masculinas, o filme se mostra uma sucessão de grosserias, palavrões e misoginia. Tudo isso em doses cavalares.

O que os personagens de Bruno Mazzeo, Marcos Palmeira e Emilio Orciollo Neto levam para a tela é aquela conversa de bar sem filtros, nem censuras - talvez até um pouco mais exagerada que na vida real. Apesar de se exceder na descompostura, E aí, comeu? consegue ter vários momentos engraçados.

O modelo do roteiro de Marcelo Rubens Paiva segue a linha dos filmes de comédia norte-americana em que doçura, ofensa e escatologia caminham de mãos dadas.

(por Carolina Santos, do Diario de Pernambuco)

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Quem experimenta as delícias da culinária regional pernambucana geralmente pede mais. Da macaxeira com charque ao bolo de rolo, a cozinha por aqui é lugar sagrado e o estado está cheio de opções de bares e restaurantes para você experimentar!

Pernambuco tem nada menos do que 187 km de praias. O sol brilha no estado praticamente durante todo o ano e a agenda cultural tem opções para todos os gostos







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