ÁSIA

Após acusação de fraude, homem mais rico da Ásia perde R$ 42 bi em um dia

Publicado em: 31/01/2023 18:06

 (Foto: DIBYANGSHU SARKAR/ AFP)
Foto: DIBYANGSHU SARKAR/ AFP
O bilionário indiano Gautam Adani, dono do Adani Group, perdeu US$ 8,21 bilhões — cerca de R$ 42 bilhões — em um único dia e caiu para a 11ª posição do ranking de bilionários da Bloomberg. A baixa na fortuna ocorre poucos dias após a Hindenburg Research, uma empresa especializada em "vendas a descoberto", ou seja, apostar contra o preço das ações de uma empresa na expectativa de que elas caiam, publicou um relatório acusando o Adani Group de se envolver em décadas de "descaramento", manipulação de estoque e fraude contábil.

Adani é um magnata que construiu fortuna com investimentos em portos, aeroportos, energia renovável e outras indústrias. A riqueza dele disparou nos últimos três anos, à medida que o valor das ações das empresas que ele comanda disparou.

O relatório com as acusações de fraude saiu antes de uma venda de ações planejada para a Adani Enterprises, que agora viu a demanda despencar. Após os prejuízos, as empresas comandadas por Adani estão considerando entrar com uma ação legal contra a Hindenburg

Aliado do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, Adani há muito tempo enfrenta reclamações de políticos da oposição que alegam que ele se beneficia dos laços políticos — acusação que ele nega. Muitos bancos indianos e seguradoras estatais investiram ou emprestaram bilhões de dólares para as empresas ligadas ao Grupo Adani.

O bilionário indiano
Mas quem é esse bilionário que, no segundo semestre do ano passado, conseguiu entrar no grupo das cinco maiores fortunas, formado até então apenas por homens, brancos, norte-americanos e europeus?

Gautam Adani tem 60 anos e é fundador do Grupo Adani, um conglomerado de empresas com negócios em diferentes setores como infraestrutura, logística e energia. Entre os destaques estão a Adani Power - a divisão de geração e transmissão de energia do grupo - e a Adani Gas.

Além disso, o conglomerado do bilionário indiano é o maior operador portuário da Índia e tem ainda participações em aeroportos, cimento, imóveis, energia verde, entre outros negócios. No ano passado, Adani comprou ainda os ativos indianos da empresa suíça Holcim por US$ 10,5 bilhões para se tornar o segundo maior produtor de cimento da Índia.

Ao contrário de muitos bilionários que herdaram fortunas por meio de herança, Adani veio de uma família de classe média alta e construiu a própria fortuna. 

Adani nasceu em Ahmedabad, no estado de Gujarat, perto de Mumbai, na Índia, em 1962. O pai dele tinha um pequeno comércio na área têxtil, e logo depois de terminar o colégio, Adani chegou a cursar negócios na Universidade de Gujarat, mas desistiu no segundo ano.

Em 1981, o irmão mais velho de Adani comprou uma fábrica de plásticos na cidade de Ahmedabad, na Índia e o convidou para fazer parte do negócio. No início, Adani se dedicava à importação de PVC, e depois expandiu para outros produtos e passou então a exportar tecidos, produtos agrícolas e pedras preciosas como diamantes.

Em 1995, Adani começou a operar o primeiro porto na Índia, e hoje opera vários em todo o país. Dos portos e da distribuição de mercadorias, foi para o setor de energia.

Adani tem ainda usinas geradoras de energia elétrica e empresas que a distribuem e comercializam diretamente para os lares indianos.

Também é dono do projeto Carmichael, na Austrália - uma mina de carvão a céu aberto que abastece usinas de energia -, pelo qual recebeu duras críticas de ambientalistas e enfrenta processos judiciais. Por outro lado, Adani tem fábricas de painéis solares.

Assim como aconteceu com os oligarcas russos, que enriqueceram com a privatização de antigas propriedades soviéticas, conglomerados e monopólios setoriais graças ao acesso aos líderes políticos, o sucesso de Adani pode estar associado também à sua relação com o atual primeiro-ministro do país, o nacionalista hindu Narendra Moodi.

Adani mantém uma relação próxima com ele desde a época em que Moodi era governador do estado de Gujarat, de 2001 a 2014, sua terra natal e onde estão as sedes de suas empresas.

Em 2019, Adani ganhou o contrato para administrar seis aeroportos no país — apesar de não ter experiência na área.

Além disso, Adani tem sido um importante financiador do partido de Moodi, o Bharatiya Janata. Quando o primeiro-ministro chegou ao poder em 2014, ele usou o avião do magnata para voar de Gujarat a Nova Déli, a capital do país, para assumir o cargo.

Outro projeto de Adani é entrar na área de comunicações. No ano passado, ele fez uma oferta para adquirir 26% da New Delhi Television (NDTV), a principal emissora de notícias do país, o que pode favorecer Moodi nas eleições gerais de 2024.

Sequestro e atentado
Segundo a BBC, o enriquecimento de Adani atraiu a atenção de grupos criminosos e um deles o sequestrou em 1997 quando estava saindo de um clube exclusivo. Ele foi liberado horas mais tarde, depois de pagar US$ 1,5 milhão.

Em 2008, Adani jantava no luxuoso Taj Mahal Palace Hotel, em Mumbai, quando o local foi atacado por extremistas islâmicos. O bilionário indiano saiu ileso após se esconder no porão do prédio. "Vi a morte a 4 metros", disse.

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