LUTO

Ícone queer nacional, Edy Star morre aos 87 anos

Cantor, compositor e performer baiano havia sofrido um acidente doméstico e não resistiu

Publicado em: 24/04/2025 13:31 | Atualizado em: 24/04/2025 15:36

 (Foto: Andres Costa/Divulgação)
Foto: Andres Costa/Divulgação
A música brasileira perdeu uma de suas figuras mais carismáticas e talentosas: Edy Star, cantor, compositor e performer baiano, faleceu aos 87 anos nesta quinta-feira (24). O artista estava hospitalizado, em São Paulo, após um acidente doméstico na semana passada.

De acordo com uma nota divulgada pela sua assessoria, Edy Star faleceu “de forma serena, sem dor, enquanto recebia tratamento médico”. O comunicado informou que a morte foi causada por insuficiência respiratória, insuficiência renal aguda e pancreatite aguda — “condições que, infelizmente, não puderam ser revertidas, apesar dos cuidados intensivos”, destaca o texto.

Plenitude e liberdade marcaram os 87 anos de Edivaldo Souza, mais conhecido pelo nome artístico de Edy Star, ícone queer e enigma vivo. Pioneiro da música glam no país, e primeiro artista a assumir publicamente sua homossexualidade, ele recentemente cedeu a convites para ter sua trajetória de altos e baixos desvendada no documentário Antes que Me Esqueçam, Meu Nome é Edy Star, dirigido por Fernando Moraes, e depois na biografia Eu Só Fiz Viver – A História Oral Desavergonhada de Edy Star

Nascido em Juazeiro, Bahia, em 10 de janeiro de 1938, Edy iniciou sua carreira ainda na adolescência, no programa “A Hora da Criança”, da Rádio Sociedade da Bahia. Desde cedo, ele demonstrou um estilo irreverente, influenciado pela chanchada, pelo cabaré e pelo teatro de revista, gêneros que moldaram sua trajetória.
 
 (Foto: Andres Costa/Divulgação)
Foto: Andres Costa/Divulgação
 
No final dos anos 1960, Edy iniciou sua transição para os grandes centros culturais do Rio de Janeiro e São Paulo, em busca de novas oportunidades. Nos anos 1970, envolveu-se em projetos vanguardistas, incluindo o revolucionário álbum Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10, em parceria com Raul Seixas, Sérgio Sampaio e Miriam Batucada. 

Apesar do reconhecimento tardio ao álbum, Edy minimizava a importância dele na sua carreira e rejeitava ser lembrado apenas como um coadjuvante na história de Raul Seixas. Autor da biografia, Ricardo Santhiago revelou ao Viver: “Não há bastidores inéditos sobre esse disco porque a história é pontual e já foi muito discutida. O que talvez seja novo é a impaciência do Edy com relação a esse tema”.

Com performances audaciosas que questionavam as normas sobre sexualidade, Edy conquistou o público, se apresentando desde os espaços marginais da Praça Mauá, no Rio de Janeiro, até as boates sofisticadas da alta sociedade carioca, como a Number One e a Up's.
 
Sua carreira expandiu-se com a participação na versão brasileira do musical The Rocky Horror Show, que abriu caminho para o lançamento de seu álbum autoral, Sweet Edy. Durante as décadas seguintes, Edy se dividiu entre o teatro e a televisão no Brasil. Na década de 1990, mudou-se para a Espanha, onde continuou sua trajetória artística no teatro e como produtor de boates.
 
Após quase 20 anos na Europa, Edy retornou ao Brasil, retomando sua carreira musical com o relançamento de seu álbum original e o lançamento de Cabaré Star em 2017 (produzido por Zeca Baleiro) e Meu amigo Sergio Sampaio em 2023. Mesmo sem o glamour dos anos 1970, a liberdade que pautou Edy Star permanecerá intacta para sempre.