Clubes do livro funcionam como rede de apoio e lazer qualificado em Pernambuco

O Dia Mundial do Livro é celebrado hoje em tributo a três grandes autores da literatura que faleceram na mesma data: William Shakespeare, Miguel Cervantes e Inca Garcilaso de La Vega. Além da reverência às obras literárias, a ocasião recorda os benefícios da leitura para o desenvolvimento intelectual e cultural. Porém, excedendo os aspectos educacionais, o consumo de literatura também é acolhedor e fomenta o senso de comunidade. Não é à toa que os clubes de leitura, antes considerados obsoletos, ganham popularidade em Pernambuco, com uma grande procura por parte daqueles que desejam iniciar ou retomar o hábito de leitura, mas não querem enfrentar a jornada literária sozinhos. 

Criado em 2016 pelas amigas Anita Presbitero e Luciana Seabra, o grupo Floriterárias é exclusivamente voltado ao público feminino. A ideia era reunir mulheres apaixonadas por literatura, mas o propósito inicial atualmente se mescla a um espaço de autoconhecimento e compartilhamento de experiências sobre raça, classe e gênero. “As Floriterárias não é apenas mais um clube de leitura. É um coletivo de mulheres”, afirma Anita. O número de participantes que comparecem às reuniões oscila entre 30 e 40 pessoas, com ampla faixa etária (18 a mais de 60 anos), de diferentes profissões e lugares, inclusive fora de Pernambuco e do Brasil. Os encontros são realizados gratuitamente - de modo presencial e virtual - em livrarias, sebos, cafés, espaços literários e culturais.

Com tantos debates em curso, outras iniciativas surgiram a partir do projeto: “Empreenda Flor”, “Mulheres e Meditação” e o “Sarau das Floriterárias”. Desde empreendedorismo até meditação, todas compartilham uma característica em comum: são frequentadas por mulheres que também participam do clube de leitura. “Foi uma situação curiosa, pois ocorreu um movimento inverso: mulheres que inicialmente estavam envolvidas no clube de leitura passaram a fazer parte desses outros projetos e, por sua vez, trouxeram novas participantes para essas iniciativas, que por fim também acabaram integrando o clube de leitura”, revela Anita.

No Sarau das Floriterárias, a proposta é evidenciar o trabalho de autoras que não tinham espaço na programação do clube de leitura. Bárbara Felix, professora de português do Ensino Fundamental I e II. enxergou no Sarau uma janela para desbravar a literatura feminina. “Quando entrei na universidade, eu percebi que a gente lia poucas mulheres no decorrer do curso”, lamenta. Embora tenha vasto repertório de leitura, Bárbara se diz mais incentivada a ler após frequentar as reuniões das Floriterárias. “Me sinto 

uma mulher melhor”. 

Se as Floriterárias atraem mulheres determinadas a mergulhar no universo literário, o projeto Livros Andantes adota uma abordagem diferente, levando a literatura para aqueles com oportunidades limitadas de acesso. Os livros são distribuídos nas áreas rurais de Pernambuco por meio de bibliotecas itinerantes, utilizando jumentos com caçuás adaptados especialmente para essa função, que também transportam uma tenda impermeável para criar os espaços de leitura. “Os jumentos serão ‘contratados’ aos moradores dos povoados, que se encarregam de conduzi-los, juntamente com os agentes”, explica Jô Conceição, coordenadora das ações ao lado de Clara Angélica. 

No local pré-determinado, os mediadores convidam os participantes a escolherem um livro para ser lido individualmente ou em grupo naquele momento, seja um trecho, capítulo ou a obra inteira. Após uma hora de leitura, os mediadores retomam a atividade, abordando a importância e o prazer que a leitura proporciona. Cada "biblioteca-jumento" está munida de 200 livros, acompanhados por dezenas de cordéis, a maioria deles de autores pernambucanos, além de inúmeros títulos nacionais.

O projeto busca difundir o acesso ao conhecimento através da contação de histórias, de leituras dramatizadas, de empréstimo e disponibilização das obras. “Estes exemplares poderão ser o início de uma biblioteca naquele povoado ou integrar o acervo da escola da comunidade”, conta Jô. Livros Andantes e as ações desenvolvidas pela Cine-Biblioteca Bondosa Terra receberam o Prêmio Pontos de Leitura 2023, conferido pelo Ministério da Cultura. “Todos os dias deveriam ser o Dia do Livro”, completa Clara Angélica.