CINEMA

Monstros, luzes e poluição

Quinto capítulo do MonsterVerse, 'Godzilla e Kong: O novo império' adiciona novas criaturas em enredo afobado e bagunçado de informação visual

Publicado em: 28/03/2024 14:01 | Atualizado em: 27/03/2024 19:41

 (Warner/Divulgação)
Warner/Divulgação

Após um encontro de lutas paquidérmicas e destruidoras de cidades em Godzilla vs Kong, os dois titãs precisam se unir contra ameaças muito maiores que vêm diretamente da chamada ‘Terra Oca’ e buscam diferentes maneiras de chegar à superfície. Personagens já conhecidos da saga estão de volta na missão de entender as origens da Ilha da Caveira e das criaturas, como a Dr. Ilene Andrews (Rebecca Hall), sua filha adotiva Jia (Kaylee Hottle), que possui uma conexão misteriosa com o mundo subterrâneo, e Bernie (Bryan Tyree Henry), além de algumas adições, como Trapper (Dan Stevens) e a Rainha Iwi (Fala Chen).

 

Ainda que dotado das características esperadas de uma produção com pretensões temáticas/narrativas tão modestas, este Godzilla e Kong: O novo império, já em cartaz nos cinemas, é possivelmente o pior entre os cinco capítulos do MonsterVerse lançados até aqui – e a concorrência negativa é forte.

Godzilla, de 2014, o primeiro da série de filmes, foi duramente criticado pelo excesso de drama humano inexpressivo e pelo visual acinzentado, enquanto Godzilla II: Rei dos monstros, de 2019, tinha um enredo altamente convoluto de personagens descartáveis em meio a cenas de ação tão escuras que escondiam o principal da experiência (as criaturas). Já Kong: A Ilha da Caveira, de 2017, e Godzilla vs Kong, de 2021, minimizavam a escala intimista dentro do possível em função de uma ação visualmente energética e compreensível, colocando os monstros em plena luz do dia e se aproveitando de efeitos de cor que imprimiam uma qualidade bem-vinda de fantasia.

 

Este, no entanto, parece uma maximização repetitiva do que já foi visto sobretudo nesses últimos dois projetos citados. Adam Wingard, diretor conhecido por filmes de terror e suspense (O hóspede, Você é o próximo, Bruxa de Blair) e que comandou também Godzilla vs Kong, retoma seu estilo propenso às cores neon, à câmera giratória e ágil, à trilha sonora de sintetizadores e ao humor abertamente ridículo, mas tudo parece bem mais afobado e pasteurizado do que no capítulo anterior que ele havia dirigido. Mesmo as novas criaturas são filmadas com pressa e a interação entre os conflitos humanos e as batalhas mastodônticas praticamente inexiste.

 

Como Godzilla: O novo império precisa, em teoria, lidar com ao menos três núcleos narrativos paralelamente, a sensação constante é de que o roteiro está simplesmente saltando de uma situação para outra sem tensão, expectativa ou fascínio. Os efeitos de destruição, tão impressionantes nos dois bons filmes da franquia, também caíram muito aqui – frequentemente as coisas se amontoam na tela poluindo a vista e desconsiderando qualquer senso de impacto e menos ainda de escala. Há uma cena inteira passada no Rio de Janeiro que é um excelente exemplo disso: tudo parece uma versão de simulador da cidade e a exploração aérea do cenário é a mais genérica imaginável.

 

O filme de ‘Kaiju’ (palavra usada para descrever criaturas fantásticas/lendárias gigantes, como o próprio Godzilla, criado pelo cinema japonês nos anos 1950) é muito possibilitador tanto do ponto de vista da criatividade visual para a fantasia quanto para ambientação e drama, como pôde ser visto no aclamado e vencedor do último Oscar de efeitos visuais Godzilla Minus One, produção do Japão que custou cerca de dez vezes menos do que qualquer uma das versões norte-americanas recentes. Assistir ao Godzilla e Kong: O novo império justamente alguns meses depois daquela criação fabulosa do diretor japonês Takashi Yamazaki, principalmente considerando o tamanho do investimento nessa série cinematográfica, é até um pouco constrangedor.

Tags: lançamentos | semana | da | estreia | cinema | império | novo | o | kong: | e | godzilla |

COMENTÁRIOS

Os comentários a seguir não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.