GUERRILHA

Explosivos e fogo: armas oficiais de combate ao ouro ilegal na Colômbia

Por: AFP

Publicado em: 03/02/2023 20:00

 (Foto: DANIEL MUNOZ / AFP
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Foto: DANIEL MUNOZ / AFP
Vistas de um helicóptero, fendas na floresta revelam a existência de várias minas ilegais de ouro. Forças oficiais aterrizam de improviso, enfrentam trabalhadores combativos e explodem suas escavadeiras na tentativa de asfixiar as rendas dos grupos armados na Colômbia.

Mais de cem soldados do Exército, agentes de polícia e do esquadrão de choque chegam em quatro aeronaves à região florestal de Triángulo del Telembí, no departamento de Nariño (suroeste). 

Eles tem a missão de destruir a maquinaria com a qual enriquecem rebeldes do Exército de Liberação Nacional (ELN) e dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) que se afastaram do acordo de paz de 2016.

A AFP acompanhou uma destas operações nesta região de fronteira com o Equador, chave para exploração de ouro de aluvião, que contamina as fontes de água com mercúrio.

Escondidas em meio à vegetação ou próximo a buracos cavados por mineiros, oito máquinas escavadeiras são encontradas e detonadas com explosivos C4 e granadas. 

Ao menos cinco km2 de floresta foram devastados com estas máquinas. Segundo o último relatório da ONU, a mineração ilegal devastou mais de 640 km2 na Colômbia em 2021.

"Desta extração de ouro os grupos armados ilegais (...) lucram. Se não são proprietários diretamente da maquinaria, são encarregados de cobrar uma taxa (...) das pessoas que estão realizando a extração", disse o major Hugo Nelson Gallego, chefe do comando especial da polícia contra a mineração ilegal.

-"Atividade depredadora"- 
Dezenas de jovens, em sua maioria negros, lançam pedras contra os militares para tentar defender as máquinas transportadas para o local através do rio ou carregadas por mulas. Alguns tentam apagar as chamas com água.

O esquadrão de choque responde com gás lacrimogêneo para evitar um "confronto" a tiros "com a população civil". Sem os gases, os mineiros impediriam os helicópteros de aterrizar, disse Gallego.

Próximo dali, famílias com crianças observam de suas casas de mandeira, onde vivem sob o mando dos rebeldes e os efeitos do mercúrio. 

Desde 2012, ao menos 800 escavadeiras foram destruídas no marco dessa política que o governo de Gustavo Petro deu continuidade quando chegou ao poder, em agosto. 

-Mercúrio vermelho-
Extrair ouro implica cortar árvores e remover o subsolo. Piscinas turquesas revelam o uso de mercúrio, um produto químico usado para separar as pequenas pedras douradas de sedimentos inúteis.

Os garimpeiros o “jogam no rio (...) e o que ele faz é contaminar toda a área onde se desenvolve essa atividade”, diz o general Javier Africano, do Comando contra o Narcotráfico e Ameaças Transnacionais. 

Estudos indicam que o mercúrio pode alterar o DNA e causar malformações. Autoridades suspeitam que ele seja contrabandeando para o país vindo do Equador e da Venezuela. Um mais concentrado e potente, o "mercúrio vermelho", possivelmente vem do Brasil.

"Para a extração de um grama de ouro são utilizados aproximadamente cinco gramas de mercúrio", dice Gallego. 

Esta pequena quantidade contamina cerca de 600.000 litros de água, que levam em média 30 anos para se recuperar.

-Invisível-
A mineração ilegal e o tráfico de cocaína são as principais fontes de renda das organizações que mantém vivo o conflito armado na Colômbia após o desarmamento das Farc. 

Segundo autoridades, o ouro é quase tão rentável quanto a droga devido à dificuldade de rastrear sua procedência. 

Para distrair as autoridades no comércio e aeroportos o ouro ilegal é transformado em objetos de luxo.

Uma pessoa pode ir com "suas correntes, seus relógios e passar pelo detector de metais sem problemas porque é uma joia", lamenta o militar Carlos Romero. 

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