CONCLAVE
Vaticanistas revelam bastidores do conclave e destacam a força de um cardeal
Vaticanistas explicam ao Correio quais os fatores que pesam no momento do voto secreto e revelam os bastidores da eleição do novo papa. O secretário de Estado Petro Parolin ganha força entre os ''papáveis''Publicado em: 01/05/2025 09:13
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Durante a eleição do sucessor de Francisco cardeais farão juramento em defesa do direito espiritual e temporal (Foto: AFP) |
Tudo o que acontecer a partir de 7 de maio, quarta-feira, na Capela Sistina, ficará dentro da Capela Sistina. "Nós prometemos, nos comprometemos, nos obrigamos e juramos que qualquer um de nós, pela divina disposição, caso eleito papa, se empenhará a levar a cabo fielmente o munus petrinum (ministério de Pedro) de Pastor da Igreja universal e não deixará de afirmar e defender vigorosamente o direito espiritual e temporal, assim como a liberdade da Santa Sé", afirmarão os 133 cardeais eleitores, ao repetirem o juramento pronunciado pelo decano do Colégio Cardinalício, cardeal Dom Giovanni Battista Re. "Sobretudo, prometemos e juramos observar com a máxima fidelidade, com todos, tanto laicos quanto clérigos, o segredo sobre tudo que resguarde a eleição do pontífice." Apesar do segredo previsto pela Constituição Apostólica Universi Dominci Gregis, especialistas falaram sobre as articulações dos cardeais para o voto e sobre o que levam em conta no momento da escolha.
A seis dias da eleição do sucessor de Francisco, o nome do cardeal italiano Petro Parolin ganha força. Alinhado ao jesuíta argentino, o secretário de Estado do Vaticano, de 70 anos, é um experimentado diplomata, mas carece de experiência pastoral. Parolin é o campeão das apostas na casa britânica William Hill. Outro nome muito concorrido entre vaticanistas italianos e jornalistas estrangeiros é o do filipino Luis Tagle. Aos 67 anos, o vice-prefeito do Dicastério da Evangelização ganhou o apelido de "Francisco asiático" por priorizar os pobres e marginalizados. O conservador húngaro Peter Erdo e o progressista italiano Matteo Mairia Zuppi também aparecem entre os papabili.
O filme Conclave, estrelado por Ralph Fiennes, praticamente coincidiu com a morte de Francisco e aguçou a curiosidade da opinião pública. Também em Roma, o vaticanista norte-americano Thomas Reese, explicou ao Correio que os cardeais estão trancados no Vaticano, sem qualquer acesso ao mundo exterior. "Eles votarão em silêncio na Capela Sistina, duas vezes pela manhã duas vezes à tarde. Todas as discussões serão conduzidas do lado de fora da capela", acrescentou. Mas o que determina o voto de um cardeal? Segundo Reese, cada purpurado tem suas prioridades sobre temas importantes enfrentados pela Igreja Católica. "O eleitor busca alguém que concorde com ele, mas também alguém com quem ele mantenha uma relação pessoal, que o respeite e o escute", acrescentou.
O norte-americano afirmou que, caso o candidato preferido de um cardeal não obtenha os dois terços dos votos, ele precisa procurar por outro papável, talvez um candidato de compromisso. Na dinâmica do conclave, também existem os chamados "pope makers" ("fazedores de papas"), aqueles cardeais com bastante influência no Colégio Cardinalício que conseguem "puxar" os votos de outros "príncipes da Igreja".
Especialista em Vaticano, doutor em ciências sociais pela Pontifícia Universidade Gregoriana (em Roma), Filipe Domingues afirmou à reportagem que as articulações pelo voto começaram. "É algo gradual, e eles podem falar disso com mais tranquilidade entre si. Durante o conclave, podem se comunicar, mas somente entre eleitores". Ele avalia que um dos fatores que influenciam o voto dos cardeais no conclave é a origem.
"A gente teve um papa latino-americano, com uma marca muito forte da Igreja da América Latina. Ele trouxe muitas coisas do estilo e da visão de mundo das conferências episcopais da região. Colocar outro latino-americano, em seguida, pode ser um pouco demais. Seria prolongar uma geração de papas da América Latina, embora sejam muito diferentes entre si", observou.
Outra questão que pode pesar é a idade. Dos cardeais muito jovens, é possível que viverão muito e terão um longo pontificado. "Isso derruba muito a chance de serem eleitos. Não é impossível. Se na dinâmica interna esses nomes aparecem com força, podem ser eleitos, porque dois terços são muitos votos", disse Domingues. Segundo ele, a Igreja espera um pontificado de 20 a 25 anos de duração. "Uma pessoa muita idosa pode ser o que se chama de 'papa de transição', alguém que dará mais tempo para a Igreja refletir e avaliar algumas coisas", acrescentou, Muitas vezes, um cardeal é visto como ideal, mas ou é muito jovem, ou muito velho."
Domingues destaca que questões especificas também têm relevância na escolha, como sinodalidade da Igreja Católica, a reforma da Cúria Romana, a Igreja mais próxima do povo e "que toca as feridas do mundo". "No geral, todos os 133 cardeais eleitores são ortodoxos, estão dentro daquilo que a Igreja prega, caso contrário nem seriam purpurados." Na opinião dele, a questão da crise financeira na Igreja é um subitem do tema das reformas. "Fala-se de um papa gestor, que saiba gerir. É preciso ver as prioridades e ver quais pessoas se encaixam para atendê-las."
Duas perguntas para....
Cardeal Arlindo Furtado, 75 anos, eleitor no conclave (Cabo Verde)
Como é a responsabilidade de escolher o sucessor do papa Francisco?
O Espírito Santo iluminará a todos para fazermos, em conjunto, uma escolha para o serviço à Igreja e ao mundo, que precisam da voz e da luz do papa, da palavra do Evangelho. Nós votaremos em consciência. O restante será pelo discernimento apresentado pelo Espírito Santo.
Qual sua análise do legado de Francisco?
É enorme para o mundo de hoje, tão fragmentado e centrado no egoísmo, onde a humanidade muitas vezes fica descartada. Há tantas fraturas, brigas, guerras e mortes e tantos sofrimentos e conflitos, massacres e genocídio. Falta humanidade, Cristo, Deus e fraternidade. Ele foi campeão desses valores.
Cardeal Gregório Rosa Chávez, 82 anos, não eleitor no Conclave (El Salvador)
Como observa esse momento do conclave?
A impressão é que o funeral do papa Francisco está marcado por aderir à esperança. Sua herança está muito clara. Queremos conservá-la. A tendência é de que o papa assuma Igreja de Francisco com estilo diferente e pessoa diferente em sua herança.; O Brasil tem muito a ver com o papa. Graças ao Brasil, ele chamou Francisco. É uma Igreja pobre para os pobres.
O conclave estará dividido entre cardeais?
De forma alguma. Há opiniões e simpatias, mas isso não é nada. Isso é algo absolutamente sem importância. Está muito claro, basta vermos o nome e o estilo do papa. Essa será a guia do novo papa. Não influenciará em nada no conclave.
Com informações do Correio Braziliense.