Economia
Uso de empréstimo pessoal para quitar dívidas pode trazer riscos financeiros
Recurso é usado por 52% para emergências financeiras, segundo pesquisa. Sem planejamento, porém, essa prática pode aumentar o endividamento
Por: Thatiany Lucena
Publicado em: 12/05/2025 06:00 | Atualizado em: 09/05/2025 21:14
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Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil |
O empréstimo pessoal vem ganhando cada vez mais força no Nordeste, de acordo com pesquisa recente do Instituto Locomotiva, encomendado pela 99Pay. O levantamento aponta que 52% dos entrevistados usaram o recurso para emergências financeiras, enquanto 28% utilizam para quitar dívidas em atraso. De acordo com o educador financeiro e coordenador do Núcleo de Inteligência de Mercado da UniFafire, João Paulo Nogueira, quem opta por fazer empréstimo para pagar dívidas deve se planejar financeiramente para que isso não comece a afetar as despesas básicas da renda e aumentar o endividamento.
O educador financeiro orienta que, nesses casos, o cuidado deve ser redobrado, já que uma parte da renda mensal ficará comprometida, apesar da ilusão de alívio momentâneo. “Quando a pessoa pega um empréstimo, uma parcela do seu orçamento mensal vai ser comprometida para pagar esse empréstimo todo mês. No caso de uma pessoa que ganha um salário mínimo, o ideal é que gire em torno de 30% das suas receitas. Esse comprometimento da renda dificulta o pagamento de outras despesas básicas, como alimentação, moradia e saúde”, alerta.
Endividamento familiar
Além disso, o endividamento das famílias em abril avançou pelo terceiro mês consecutivo, chegando a 77,6%, o maior desde agosto de 2024. Além disso, 15,4% delas se consideram “muito endividadas”. Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada na última quarta-feira (7), pela Confederação Nacional do Comércio (CNC).
No período, a alta do endividamento foi acompanhada pelo crescimento do percentual de inadimplência, que atingiu 29,1%, mesmo nível de janeiro deste ano e superior ao de abril de 2024. Seguindo o movimento, o percentual de famílias que não terão condições de pagar as dívidas em atraso avançou para 12,4%, também acima do registrado em abril de 2024.
Segundo Nogueira, o devedor corre o risco de entrar em um “efeito cascata”, tendo que recorrer a um novo empréstimo para se manter. Já que, na maioria dos casos, ainda é necessário levar em consideração as altas taxas de juros. “Termina que a pessoa não consegue pagar as parcelas, porque tem outras despesas como conta de água e luz, que vão continuar chegando, e acaba pegando outro empréstimo para cobrir o primeiro. Esse endividamento em cascata pode levar a um problema crônico que a gente chama de superendividamento”.
Situações emergenciais
Já no cenário em que a aquisição de empréstimo é feita para solucionar situações emergenciais, João Paulo destaca que, muitas vezes, as pessoas acabam precisando recorrer a essa alternativa porque não têm o costume de criar uma reserva de emergência na sua rotina financeira.
“Sabemos que isso não é algo que as pessoas conseguem controlar, pois em determinado momento da vida, por exemplo, ela precisou porque perdeu emprego ou alguém ficou doente na família e ela não tem a cultura de ter uma reserva de emergência, pois nunca foi educada para atuar diante desses casos que podem ocorrer”, afirma.
Atenção no planejamento
Nogueira orienta que o costume de se planejar financeiramente é uma alternativa para que a pessoa não sufoque ainda mais a renda mensal. O ideal, segundo ele, é que a pessoa comece a diminuir as despesas. Por exemplo, uma pessoa que ganha R$ 2 mil e ela paga R$ 500 de empréstimo, na prática ela não ganha R$ 2 mil mais, ela ganha R$ 1.500, porque R$ 500 está comprometido. Então, ela vai ter que reajustar o orçamento da família para R$ 1.500, até que ela consiga quitar o empréstimo”, explica.