PROTEÇÃO
Trio de Ferro será responsável pela divulgação de campanhas de combate a crimes contra mulheres no Recife
A nova lei estabelece que clubes e patrocinadores ficam responsáveis por promover campanhas de conscientização nos dias de jogos, divulgar informações sobre como denunciar abusos e capacitar os profissionais que atuam nos estádios
Por: Larissa Aguiar
Por: Bartô Leonel
Por: Bartô Leonel
Publicado em: 02/05/2025 19:16 | Atualizado em: 02/05/2025 20:04
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Torcida feminina (Fotos: Roberto Guimarães, Gabriel França/CNC, Acervo Pessoal ) |
Em uma medida que busca transformar os estádios em espaços mais seguros e inclusivos para as mulheres, a Prefeitura do Recife sancionou na última quarta-feira (30) a Lei Municipal nº 19.373, que institui a “Campanha Permanente contra o Assédio, a Importunação e a Violência Sexuais nos Estádios e nas Arenas Desportivas”. A iniciativa foi recebida com entusiasmo por torcedoras dos principais clubes da capital, mas também com alertas sobre a necessidade de ações práticas e contínuas.
A nova lei estabelece que clubes e patrocinadores ficam responsáveis por promover campanhas de conscientização nos dias de jogos, divulgar informações sobre como denunciar abusos e capacitar os profissionais que atuam nos estádios. Entre os meios previstos para divulgação, estão alto-falantes, telões, murais informativos e redes sociais dos clubes.
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Torcedora do Náutico, Marcela Couto (Foto: Arcevo Pessoal) |
Ela relata já ter enfrentado situações de importunação ao sair do estádio. “Um homem bêbado veio pra cima de mim com gracinha. Fui firme, respondi à altura, joguei um copo de refrigerante nele e ameacei chamar a polícia. Mas só fiz isso porque ainda tinha muita gente na rua. Já me vi em situações em que precisei correr, com medo de algo acontecer”, recorda.
Assim como Marcela, Andrezza Melo, torcedora do Santa Cruz, também destaca a importância da legislação, especialmente para incentivar a presença de mulheres nos estádios com mais segurança. “Sinto que as mulheres que, assim como eu, frequentam os estádios, estão desprotegidas e vulneráveis. A lei nos dá uma garantia de que a Justiça possa ser feita diante desses episódios”, afirma. Ela, que costuma levar a filha pequena para os jogos, relata já ter sofrido assédio na entrada de um estádio. “Os assediadores se aproveitam do aperto na fila para passar a mão. Na época, levei um tempo para entender o que tinha acontecido. Foi assédio.”
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Torcedora do Santa Cruz, Andrezza Melo e sua filha (Foto: Arcevo Pessoal) |
Marcela compartilha visão semelhante, entre os alvirrubros. “Já foi bem pior, pelo menos no Náutico. Antigamente, as mulheres que iam ao estádio eram vistas como Maria Chuteiras. Hoje, muitos já entendem que vamos porque amamos futebol. Já fiz a locução do estádio várias vezes e o retorno foi muito positivo. Se não nos impomos, as coisas não mudam.”
Apesar de reconhecerem pequenos avanços, ambas cobram maior engajamento dos clubes. “Vejo campanhas do Náutico, mas acho que poderiam ter mais”, observa Marcela. Já Andrezza expõe a necessidade de mais campanhas “São pouquíssimas. O Santa Cruz raramente se posiciona sobre isso, seja nas redes ou nos dias de jogo.”
A expectativa das torcedoras é que a nova legislação não fique no papel e que os clubes do Trio de Ferro assumam com responsabilidade o papel de promover ações educativas e garantir a segurança das mulheres em seus espaços.
A Lei nº 19.373 já está em vigor. O próximo desafio, segundo especialistas e torcedoras, será garantir fiscalização rigorosa, implementação das campanhas, e principalmente, mudança cultural dentro e fora dos estádios. A proposta foi de iniciativa da vereadora Natália de Menudo.