Cúpula
No Rio, chanceleres dos países do BRICS debatem reforço da colaboração mútua
A reunião acontece no Palácio ItamaratyPublicado em: 29/04/2025 12:03 | Atualizado em: 29/04/2025 12:13
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Foto: Pablo PORCIUNCULA / AFP |
Nesta terça-feira (29) teve inicio no Palácio Itamaraty, na cidade do Rio de Janeiro, o segundo e último dia da reunião de chanceleres do BRICS, grupo liderado pelo Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul, além de outros países convidados.
O evento tem o Brasil como presidente da cúpula e condutor das sessões, que reúne os ministros das Relações Exteriores e representantes dos 11 países que compõem o bloco das principais economias emergentes do mundo. Os ministros debatem o papel do Sul Global na promoção do multilateralismo, diante das políticas do presidente dos EUA, Donald Trump, além da discussão de temas como política internacional, comércio, finanças, cooperação e oportunidades bilaterais, saúde global e o desenvolvimento institucional do BRICS. Entre as principais pautas do encontro já debatidas ainda estão às guerras na Faixa de Gaza e na Ucrânia, assim como os conflitos na África e no Haiti.
O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, ressaltou a urgência de defender as regras do comércio multilateral, explicando que a essência do comércio é o benefício mútuo para as duas partes. Em relação às tarifas aplicadas por Trump, Wang afirmou que os EUA já se beneficiaram muito com o comércio livre durante muito tempo, mas agora estão usando as tarifas como moeda de troca para exigir preços exorbitantes a outros países. "Ficar em silêncio, ceder e recuar só fará com que queira tirar mais partido", disse Wang.
Esta reunião tendo o Brasil como país anfitrião também visa servir como uma preparação para a cúpula dos líderes do BRICS, que acontece nos dias 6 e 7 de julho, também na capital fluminense.
Na segunda-feira (28), o grupo reforçou a cooperação multilateral como a resposta para a promoção da paz e do desenvolvimento, tendo abordado questões como as crises globais e regionais e a reforma das instituições internacionais para uma governança mais inclusiva e sustentável.
“O BRICS como grupo reconhece os interesses estratégicos e os legítimos interesses econômicos e de segurança de cada membro, tanto em suas respectivas regiões quanto em todo o mundo. Isso faz parte da nossa contribuição para uma distribuição justa de poder nos assuntos globais, condição para que a paz, o desenvolvimento e a sustentabilidade sejam alcançados. Defendemos a diplomacia em vez do confronto e a cooperação em vez de unilateralismo. O sofrimento humano jamais deve ser instrumentalizado. O BRICS deve continuar a defender um sistema humanitário global neutro, despolitizado e genuinamente universal. O caminho para a paz não é fácil nem linear, mas o BRICS pode e deve ser uma força para o bem, não como um bloco de confronto, mas como uma coalizão de cooperação”, declarou o chanceler brasileiro Mauro Vieira.
Em relação à Ucrânia, o ministro enfatizou, além disso, a urgência de uma solução diplomática que respeite os princípios da Carta das Nações Unidas e lembrou o “Grupo de Amigos da Paz”, criado em setembro do ano passado, por iniciativa de Brasil e China. O embaixador ainda reiterou à condenação a obstrução contínua da ajuda humanitária à Gaza e a retomada dos ataques israelenses e apelou pelo cessar-fogo, a retirada total das forças israelenses do enclave e a libertação de todos os reféns. O Brasil é signatário da solução de dois estados, com o Estado da Palestina independente e viável dentro das fronteiras de 1967 e com Jerusalém Oriental como sua capital.
O ministro das Relações Exteriores da China ressaltou que o comércio não deve ser uma ferramenta para ganhos individuais e lamentou que os EUA persigam o unilateralismo, coloquem os seus próprios interesses em primeiro lugar e os coloquem acima dos interesses públicos internacionais. "Os países BRICS devem se opor conjuntamente a todas as formas de protecionismo, proteger firmemente o sistema de comércio multilateral baseado em regras, com a Organização Mundial do Comércio no seu núcleo, defender os seus valores fundamentais e princípios básicos e promover a facilitação do comércio", acrescentou Wang.
Ao final do evento do BRICS, o embaixador Mauro Vieira, que coordena os trabalhos, deve divulgar uma declaração conjunta assinada pelos países-membros.