APAGÃO

''Muito medo'': pernambucanos relatam clima na Europa diante de apagão nesta segunda (28)

Espanha e Portugal ficaram sem energia a partir das 12h33 (horário local) e os moradores precisaram voltar para suas casas sem saber o que havia acontecido

Publicado em: 28/04/2025 20:55 | Atualizado em: 28/04/2025 22:34

Apagão afetou transporte público (Foto: Cortesia)
Apagão afetou transporte público (Foto: Cortesia)
“Tava com muito medo, não só brasileiros, mas portugueses também.” O relato é da pernambucana Priscilla Aguiar, de 39 anos, que mora em Portugal e vivenciou o apagão ocorrido na manhã desta segunda-feira (28) em toda a Península Ibérica, que abriga quase 60 milhões de pessoas. Seu depoimento revela a sensação de medo e incerteza diante do incidente. A queda de energia paralisou trens, metrôs e voos, afetou o sistema de saúde e a indústria de ambos os países e derrubou o sinal de celular nas capitais.

“O clima realmente era de tensão e de medo porque ninguém sabia o que estava acontecendo, como não se sabe exatamente até agora o que houve. Mas essa questão dessa proximidade com a guerra da Rússia e da Ucrânia gera um clima de tensão”, comenta Priscilla Aguiar, que atua como coordenadora de comunicação de um escritório de arquitetura em Lisboa. A jornalista, assim como boa parte dos trabalhadores em Portugal, precisou encerrar as atividades e voltar para casa. Porém, o cenário que ela encontrou nas ruas era caótico.

 (Foto: Cortesia)
Foto: Cortesia
 
As filas de ônibus estavam extensas, uma vez que outros meios de transporte público haviam sido paralisados. Além disso, a interrupção dos semáforos agravou ainda mais o trânsito nos dois países. Uma foto enviada pela pernambucana ao Diario de Pernambuco mostra como as filas para os ônibus estavam longas.

O apagão causou congestionamentos e deixou mais de 300 mil passageiros retidos apenas na Espanha. O Aeroporto de Madrid suspendeu as operações por pelo menos 30 minutos, enquanto em Lisboa as decolagens foram canceladas até as 22h.

“Teve uma corrida geral nos supermercados para comprar papel higiênico, enlatados, água para conseguir ficar bem, caso esse apagão durasse mais tempo. Ninguém confirma a causa, então vieram várias informações que não se confirmaram até agora. Falaram que caiu um avião na França em um lugar que era muito específico e que fornecia a eletricidade para Portugal, Espanha e outros lugares. Falaram em ciberataque, em tempestade solar e até agora ninguém confirma de fato o que aconteceu”, conta Priscilla.

A jornalista ainda destacou que a União Europeia anunciou que os europeus devem estar preparados para enfrentar cenários como guerras, crises sanitárias, catástrofes naturais e ciberataques. Um alerta foi emitido recomendando que os moradores montassem um kit de emergência capaz de durar 72 horas, com alimentos, remédios, lanternas e outros itens essenciais.

“De imediato associamos a um comunicado de mais ou menos um pouco mais de um mês, em que vários países aqui da Europa alertaram a população para que estocassem alimentos e água para pelo menos 72 horas. Então foi uma corrida para os mercados porque a gente não tinha feito isso. Rapidamente os poucos mercados que estavam funcionando ficaram com seus estoques baixos”, relata a pernambucana Alessandra Santos, de 40 anos, que mora em Viseu, em Portugal.

Ela conta que também estava no trabalho quando ocorreu a queda de energia e que imediatamente pensou na filha. “Eu estava em um tribunal, no meio de uma audiência, quando ficamos sem energia. Na hora a gente não tinha noção do que estava acontecendo, foi feita uma pausa para o café e logo depois a gente recebeu as notícias de que não era só aqui em Portugal, mas sim em vários outros países da Europa. A gente percebeu, então, que a coisa seria muito séria, realmente grave. Eu tratei logo de buscar a minha filha na escola, porque a gente não sabia o que vinha por aí”, narra.

A falta de comunicação de informações precisas sobre o ocorrido aumentou o clima de preocupação entre os moradores. “Ficamos o dia inteiro muito apreensivos porque, além da falta de energia, também não tínhamos água e nem acesso à internet. Foi praticamente o dia inteiro sem comunicação. Então a gente ficou perdido, sem ter uma noção de fato do que estava acontecendo, apenas com poucas especulações. Foi realmente terrível, assustador”, destaca Alessandra.

Ainda não se sabe a causa

As autoridades não informaram o que causou a queda de energia, que afetou dezenas de milhões de pessoas na Península Ibérica, mas várias já descartaram crimes cibernéticos como causa.

"Neste momento, não há indícios de qualquer ciberataque", escreveu António Costa, presidente do Conselho Europeu, numa publicação no X.

As autoridades energéticas portuguesas afirmaram que a queda ocorreu após uma interrupção na rede elétrica europeia, mas não forneceram detalhes. Após um relato de que um "fenômeno atmosférico" não especificado teria causado a interrupção, a REN fornecedora portuguesa de eletricidade e gás, negou veementemente que essa fosse a razão.

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, afirmou que uma "forte oscilação" na rede elétrica europeia foi a causa da interrupção, mas que a causa ainda está sendo determinada. Ele pediu à população que se abstivesse de especulações e pediu que ligassem para os serviços de emergência apenas se realmente necessário.

Até as 22h (horário local), cerca de 62% das subestações na Espanha já haviam sido reativadas com a ajuda de interconexões com França e Marrocos. Em Portugal, a recuperação é mais lenta, e a normalização completa pode levar até uma semana.
 
*Com informações da Estadão Conteúdo