TORTURA

Homem escravizado e tatuado com iniciais dos patrões é resgatado em Minas

Uma mulher trans, que vivia em condições análogas à escravidão, também foi resgatada

Publicado em: 26/04/2025 17:43

Tatuagem no corpo de uma das vítimas resgatadas em condição análoga à escravidão, em Minas Gerais, com as iniciais de dois dos empregadores (foto: Auditoria-Fiscal do Trabalho/Divulgação)
Tatuagem no corpo de uma das vítimas resgatadas em condição análoga à escravidão, em Minas Gerais, com as iniciais de dois dos empregadores (foto: Auditoria-Fiscal do Trabalho/Divulgação)

Um homem homossexual e uma mulher transgênero foram resgatados de condições análogas à escravidão em Planura, no Triângulo Mineiro. Além das jornadas exaustivas e da violência física e psicológica, uma das vítimas foi tatuada com as iniciais dos patrões. O esquema, que mirava pessoas LGBTQIAPN+ em situação de vulnerabilidade, foi revelado ao Estado de Minas pela Auditoria-Fiscal do Trabalho de Minas Gerais.

 

O que começou como uma falsa promessa de acolhimento nas redes sociais virou um pesadelo. As vítimas, ambos de nacionalidade uruguaia, foram atraídas por meio de anúncios no Facebook e Instagram. Do outro lado da tela, os três empregadores se apresentavam como “salvadores” dispostos a oferecer casa, comida e até a chance de terminar os estudos.

 

Durante quase uma década, o homem resgatado trabalhou como empregado doméstico sem registro ou salário. Nesse período, acumulou cicatrizes de agressões físicas, abusos sexuais e psicológicos, e viveu sob a ameaça constante de ter imagens íntimas, feitas sem seu consentimento, expostas como forma de controle. Em um gesto de posse, ele também teve o corpo tatuado com as iniciais de dois patrões.

 

A mulher transgênero também enfrentou o mesmo ambiente de exploração. Também inserida em trabalho doméstico informal, ela foi obrigada a atuar em condições degradantes, sem receber salário mínimo garantido e exposta a constantes episódios de violência. Segundo a Auditoria-Fiscal do Trabalho, o clima de terror instalado na casa a levou a sofrer um acidente vascular cerebral enquanto realizava suas tarefas.

 

 

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A operação que libertou as vítimas foi realizada entre os dias 8 e 15 de abril, após denúncia recebida pelo Disque 100. A operação reuniu auditores fiscais do trabalho, Polícia Federal (PF), Ministério Público do Trabalho e equipes da Clínica de Enfrentamento ao Trabalho Escravo do Centro Universitário Presidente Antônio Carlos (UNIPAC). A ação conta ainda com o apoio da delegacia sindical em Minas Gerais do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (DS-MG/SINAIT).

 

Três homens — um contador de 57 anos, um administrador de 40 e um professor de 24 — foram presos em flagrante, segundo informações da PF. Segundo as investigações, eles formavam um trisal e usavam a confiança construída em comunidades LGBTQIAPN para atrair novas vítimas.

 

As vítimas, que tiveram suas identidades preservadas, estão agora sob cuidados especializados da Clínica de Enfrentamento ao Trabalho Escravo da Universidade Federal de Uberlândia e do UNIPAC, recebendo acolhimento psicológico, assistência jurídica e apoio para reconstruir suas vidas longe da violência.

 

 

Confira as informações no Estado de Minas

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