ARTICULAÇÃO

Eleições internas de partidos tradicionais em Pernambuco expõem rixas de lideranças e desejo por protagonismo

Falta de consenso dos grupos políticos pode impactar força e posição política de PT e MDB

Publicado em: 28/04/2025 06:00 | Atualizado em: 25/04/2025 23:58

Senador Fernando Dueira, deputado estadual Jarbas Filho e presidente estadual Raul Henry participam de deliberação no diretório pernambucano do MDB (Divulgação)
Senador Fernando Dueira, deputado estadual Jarbas Filho e presidente estadual Raul Henry participam de deliberação no diretório pernambucano do MDB (Divulgação)
Diversos partidos políticos estão renovando suas lideranças do âmbito nacional ao municipal em 2025, e alguns dos principais players das eleições de 2026 já entraram em consenso sobre a renovação ou recondução de seus diretórios e o direcionamento a ser seguido no próximo ano. Mas há legendas tradicionais no Estado que, diante de divergências quanto ao palanque que devem subir, ainda enfrentam entraves para definir seu futuro – como é o caso do MDB e do PT em Pernambuco.

Ambas as siglas realizam processos eleitorais democráticos e diretos, ou seja, os filiados têm direito a se candidatar, e é eleito quem recebe mais votos. Entretanto, é comum que os nomes postos sejam articulados anteriormente entre os grupos políticos – também conhecidos como “vertentes” – para evitar o desgaste que um bate-chapa pode proporcionar.

Mas quando as divergências e ambições pessoais impossibilitam o consenso, a decisão é pelo voto. A disputa pelo diretório pernambucano do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) tornou-se palco de um duelo de vertentes e palanques. O próprio presidente estadual, Raul Henry, antecipou o bate-chapa diante do acirramento entre as lideranças. “Ganha quem tiver mais votos”, disse.

Henry deseja ser reconduzido ao comando do partido. Secretário de Relações Institucionais da Prefeitura do Recife, ele quer manter a sigla na Frente Popular do prefeito João Campos (PSB) – aliança reforçada antes das eleições municipais de 2024. Do outro lado, o deputado estadual Jarbas Filho se lançou candidato para “retomar o protagonismo” do partido, com o apoio do seu pai, Jarbas Vasconcelos, e do senador Fernando Dueire (MDB).

Ex-governador de Pernambuco, Jarbas é um dos fundadores do MDB. Ele exercia mandato de senador quando se aposentou da vida pública. Dueire assumiu a cadeira, e quer renová-la na chapa da governadora Raquel Lyra (PSD).

A disputa entre os dois grupos políticos ganhou espaço na mídia quando a imagem de Jarbas Vasconcelos foi utilizada por Jarbas Filho e Dueire contra a reeleição de Henry, e os líderes trocaram acusações publicamente. A filha de Vasconcelos chegou a publicar uma carta em apoio a Henry e declarando a posição de neutralidade de seu pai.

Na análise do cientista político Hely Ferreira, apesar do discurso familiar que tomou conta do embate, a divergência é uma questão – principalmente – de palanque.

“O MDB tem uma história marcada por essa pluralidade, mas essa briga interna gira em torno de qual palanque o partido vai ficar em 2026 – se é no palanque da oposição ou no palanque da atual governadora”, afirmou.

“O MDB é um partido que, desde que foi criado no período da ditadura militar, é uma espécie de guarda-chuva, que protegia todos que estavam insatisfeitos com o governo da época e não tinha como filiar-se a um outro partido de oposição”, completou.

A eleição interna do MDB Pernambuco acontece no dia 24 de maio. O pleito estava marcado para agosto, mas foi antecipado pelo presidente nacional, Baleia Rossi.


Petistas

O Partido dos Trabalhadores (PT) vive um processo de renovação nas lideranças internas. O senador Humberto Costa assumiu a presidência nacional da sigla após a ex-presidente Gleisi Hoffmann ser nomeada ministra da Secretaria de Relações Institucionais do Governo Lula, e está incubido de conduzir a eleição e mediar as articulações em busca de um consenso.

Em Pernambuco, a vertente Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária do partido em todo o país, lançou o deputado federal Carlos Veras como candidato à presidência estadual. É mais uma iniciativa da vertente para dar protagonismo ao parlamentar, após o nome dele ser cotado para vice de João Campos (PSB) no ano passado.

A candidatura de Veras é apoiada por Humberto Costa e pelo atual dirigente pernambucano, o deputado estadual Doriel Barros. A senadora Teresa Leitão (PT) deve prezar pelo consenso e acompanhar o voto, mas deve indicar um nome para a secretaria-geral do partido.

O secretário-geral Sérgio Goiana também está entre os possíveis candidatos, mas como ele é da CNB, é improvável que haja bate-chapa com Veras.

O entrave maior acontece na eleição do dirigente do Recife. A CNB apoia o ex-vereador Jairo Britto; Teresa Leitão possui acordo para acompanhar a indicação dos irmãos Osmar Ricardo e Oscar Barreto; o deputado estadual João Paulo emplaca o cientista político Pedro Alcântara; e a secretária da Mulher do PT, Paula Menezes, defende sua própria candidatura e uma chapa feminina.

O racha no diretório petista da capital se acentuou durante as eleições de 2024, quando o PT ficou sem a vice de João Campos, mas se manteve na Frente Popular. João Paulo foi o crítico mais vocal do direcionamento, se aproximando de Raquel Lyra. No início do mês, o deputado publicou um manifesto em prol da renovação do diretório e da retomada do protagonismo da legenda no Recife.

“Essa política de esvaziamento e subordinação a qual nos opomos culminou na difícil eleição de 2024. Abdicamos precocemente do direito de dialogar com a cidade sobre o seu futuro, a partir do nosso legado”, escreveu.

As inscrições para candidatos ao diretório do PT no Recife se encerram no próximo dia 2 de maio. Já para o diretório estadual o prazo é 9 de maio. O processo de eleições diretas nacional está marcado para 6 de julho.

Para Hely Ferreira, as brigas internas são parte das raízes do PT, mas podem prejudicar o desempenho e articulação da legenda nas próximas eleições.
 
“É uma marca do partido desde que foi criado. O PT tem várias tendências e brigas internas, que eles chamam de ‘discussões democráticas’. Essas tendências brigam entre si até durante o período eleitoral, passando a ideia ao eleitor de uma falta de unidade, e reflete, muitas vezes, em candidaturas majoritárias”, avaliou.

O cientista político reforçou que, apesar dos anseios por protagonismo no Estado, o consenso é essencial para que as legendas não percam espaço para as siglas que ocupam dominam o discurso político atual.

“Tanto o PT como o MDB, para se firmarem e ter poder de fogo em 2026, precisam mostrar que existe unidade. Reino dividido não sobrevive”, finalizou.

Definições

O PSB reconduziu o deputado estadual Sileno Guedes ao cargo de presidente estadual. João Campos, por sua vez, é candidato único para o comando nacional da legenda. Do outro lado, a governadora Raquel Lyra assumiu o diretório pernambucano do PSD no mesmo dia de sua filiação.

Antigo partido de Raquel, o PSDB também definiu o deputado estadual Álvaro Porto como presidente estadual após intervenção da executiva nacional. Os tucanos devem se fundir com o Podemos nos próximos dias, mas Porto não deve sair prejudicado.

Em contrapartida, o presidente estadual do Podemos, Marcelo Gouveia, ameaça sair da sigla caso a união partidária inviabilize seu apoio declarado à governadora – adversária do PSDB.

Tags: pernambuco | partido | eleição | mdb | pt |