SAÚDE
Água com flúor nas torneiras: especialista explica estratégia pública de saúde bucal
A fluoretação da água previne a cárie, uma doença crônica não transmissível que afeta, principalmente, as crianças
Por: Adelmo Lucena
Publicado em: 28/04/2025 07:00 | Atualizado em: 28/04/2025 07:03
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Recife possui 22 localidades que recebem água com flúor nas torneiras (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil) |
A fluoretação da água potável, prática comum em muitas cidades brasileiras, continua sendo uma das ferramentas mais eficazes e democráticas no combate à cárie dentária, especialmente entre as populações mais vulneráveis. A medida é reconhecida como política de saúde pública desde a década de 1970 no Brasil e gera debates sobre a segurança, eficácia e limites do uso dessa substância.
Em Pernambuco, a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) é responsável pela fluoretação da água, feita a partir da adição do ácido fluossilícico, que doa o flúor para a água. De acordo com a Compesa, o produto é acrescentado na produção e a sua concentração (monitoramento) é realizada na saída da unidade de tratamento.
Ao todo, 22 bairros do Recife atendidos pela Estação de Tratamento de Água Alto do Céu recebem água fluoretada.
A principal função do flúor na água é fortalecer o esmalte dos dentes, fazendo com que eles fiquem mais resistentes à ação das bactérias causadoras da cárie. Ou seja, o simples ato de beber água fluoretada, a população já está se beneficiando de uma forma de prevenção silenciosa e constante.
De acordo com o Ministério da Saúde, a cárie é a doença crônica não transmissível mais prevalente no mundo e atinge principalmente as crianças. “Os principais benefícios da fluorterapia ou a inserção de flúor na águas de abastecimento para prevenção da doença cárie seria no fortalecimento da estrutura dental, conferindo ao dente resistência às agressões causadas pelas bactérias cariogênicas (causadoras da cárie)”, explica o professor, cirurgião dentista e especialista em Saúde Coletiva, Adriano Costa.
Um dos maiores trunfos da fluoretação da água é a capacidade de alcançar todas as camadas da população. Trata-se de uma medida de baixo custo, alta eficácia e que independe do comportamento individual, diferente da escovação ou do uso do fio dental, por exemplo.
“A fluoretação das águas de abastecimento é considerada como medida de saúde pública porque universaliza o acesso das pessoas a este benefício de fortalecimento dentário sem colocar a mesma população em risco”, reforça Adriano Costa. “A fluoretação das águas permite que concentrações ideias sejam disponibilizadas, permitindo uma terapia associada à escova dental mais adequada”, complementa.
Quando o flúor vira problema
No Brasil, a concentração ideal de flúor na água para prevenção da cárie dentária, sem riscos à saúde, é de 0,6 a 0,8 mg/L. Apesar dos benefícios, é preciso estar atento ao uso excessivo do flúor, que pode levar à chamada fluorose dentária, que afeta a formação do esmalte dos dentes.
“Esta condição deixa além de dentes esteticamente menos favoráveis, pode gerar sensibilidade e até facilitar lesões cariosas. Mas uma boa notícia, para desenvolver a fluorose dentária teria que ser uma concentração muito alta e o consumo deveria estar concentrado, especialmente em uma gestante. Já que a fluorose é mais prevalente em dentes na fase de desenvolvimento embrionário”, detalha o cirurgião dentista.
A presença do flúor na água potável atende bem a todas as faixas etárias. Segundo o especialista, não há motivo para preocupação com o consumo generalizado. “Não é um problema, visto que o consumo de água é proporcional à superfície corporal do indivíduo. Crianças e adultos têm consumo diverso. E respeitando este princípio, não há problemas na fluoretação das águas e o seu consumo entre os públicos infantil e adulto”, destaca.
O flúor utilizado na água é medido em partes por milhão (PPM), e a faixa terapêutica considerada segura e eficaz varia entre 1.000 e 1.500 PPM. “Se obedecidas estas concentrações, o seu uso será benéfico e sem possíveis reações adversas”, garante Adriano.
A Compesa informou que a cada duas horas é realizado um monitoramento na saída da unidade de tratamento, conforme estipulado na portaria de potabilidade vigente, para verificar os níveis de flúor.