FAIXA DE GAZA

ONU quer investigação da morte de seu funcionário em Gaza

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, disse hoje estar profundamente chocado com a morte de seu funcionário na Faixa de Gaza

Publicado em: 19/03/2025 21:31

Secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres (foto: PIERRE ALBOUY/POOL/AFP)
Secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres (foto: PIERRE ALBOUY/POOL/AFP)

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, disse hoje estar profundamente chocado com a morte de seu funcionário na Faixa de Gaza. Guterres pediu uma investigação completa do caso.

 

O trabalhador da ONU morreu durante a explosão de um artefato lançado contra uma das instalações da instituição, na retomada do ataque israelense no enclave, violando unilateralmente o cessar-fogo que vigorava desde 19 de janeiro. Uma fonte da ONU garantiu que, ao contrário de relatos anteriores, não se tratou de munições não detonadas, mas de um projétil disparado  contra os prédios, mas não sabemos se foi disparado da terra, do mar ou do ar.

 

Guterres condenou veementemente à ofensiva e enfatizou a necessidade de que o cessar-fogo seja respeitado para pôr fim ao sofrimento do povo palestino e pediu que a ajuda humanitária chegue a todas as pessoas necessitadas. "Os reféns devem ser libertados imediata e incondicionalmente", frisou, lembrando que o direito internacional deve ser cumprido em todos os momentos.

 

"O secretário-geral ficou profundamente triste e chocado ao saber da morte de um membro da equipe do Escritório das Nações Unidas para Serviços de Projetos (UNOPS), quando duas casas de hóspedes da ONU em Deir el-Balah foram atingidas em ataques. Cinco outros funcionários da ONU ficaram gravemente feridos", diz o comunicado do gabinete de Guterres.

 

O subsecretário-geral da ONU e o diretor executivo do UNOPS, Jorge Moreira da Silva, já havia condenado o bombardeio e rejeitou que tenha sido um acidente. “Israel sabia que esta era uma instalação da ONU, que as pessoas estavam a morar, a permanecer e a trabalhar lá, é um complexo. É um lugar muito conhecido. Em minha opinião, isto não foi um acidente, não pode ser categorizado como tal. Quero deixar claro que esta localização estava numa zona isolada, não havia mais edifícios por perto, era uma estrutura bem conhecida. O que está acontecendo em Gaza é inconcebível”, afirmou Silva, que admitiu também estar chocado com as ofensivas israelenses contra prédios onde estavam trabalhadores humanitários.

 

As Nações Unidas enfatizaram que a localização de todas as instalações da organização é conhecida pelas partes em conflito, que são obrigadas pelo direito internacional a protegê-las e a manter a sua inviolabilidade absoluta. O gabinete do secretário-geral da ONU ressaltou ainda que todos os conflitos devem ser conduzidos de forma a garantir que os civis sejam respeitados e protegidos.

 

No entanto, Israel negou qualquer responsabilidade pelo ataque ao prédio da ONU em Gaza.  

 

 

Hamas alerta sobre nova e perigosa violação

 

Enquanto isso, o Hamas alertou hoje que as operações terrestres lançadas por Israel em são uma nova e perigosa violação do acordo de cessar-fogo no território palestino. "Consideramos a ocupação e os seus líderes terroristas criminosos totalmente responsáveis pelas repercussões da incursão terrestre na Faixa de Gaza central, o que constitui uma nova e perigosa violação do acordo de cessar-fogo assinado", declarou o grupo.

 

O Hamas condenou a incursão do exército israelense no Corredor Netzarim, uma área militar e posto de controle de segurança localizado a sul da Cidade de Gaza, de onde Israel se retirou em 9 de fevereiro como uma das exigências da primeira fase do acordo de cessar-fogo.

 

O grupo reiterou o seu compromisso com o acordo de cessar-fogo e pediu aos mediadores internacionais, Egito, Catar e Estados Unidos, que assumam as suas responsabilidades para impedir estas violações e incumprimentos irresponsáveis por parte do governo de Israel. Além disso, responsabilizou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, por quaisquer repercussões que possam surgir com estas novas operações militares.

 

Por outro lado, Tel Aviv anunciou que as operações terrestres direcionadas destinam-se a criar uma zona tampão parcial. Fontes citadas pela agência espanhola EFE descreveram um bloqueio da autoestrada Salah al-Din, que liga o enclave palestino de norte a sul.

 

Entretanto, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, ameaçou causar destruição e devastação total na Faixa de Gaza se os 59 reféns ainda detidos pelo Hamas não forem libertados. "Israel agirá com uma intensidade que nunca viram", afirmou.

 

As operações militares terrestres se seguem a nova onda de ataques aéreos israelenses em Gaza, que causaram mais de 400 mortos e quase 700 feridos, segundo as autoridades locais, e que teve uma ampla condenação internacional.

 

 “As repetidas ameaças sionistas de expulsar os habitantes do seu território revelam a profundidade da crise que o Governo do criminoso de guerra Netanyahu enfrenta atualmente", apontou o Hamas, em referência às dificuldades internas do premiê e do seu executivo.

 

Mas, o grupo indicou que continua disponível para negociações com Israel, apesar dos intensos bombardeios, o bloqueio da entrada de ajuda humanitária e o corte de energia. "Não fechamos a porta às negociações", disse Taher al-Nunu, um dos porta-vozes do Hamas, acrescentando que estão em contato com os mediadores internacionais para que Israel pare com a sua agressão e respeite o que foi assinado e inicie as negociações para a segunda fase do acordo, que abrange a retirada dos soldados de Gaza e a libertação dos reféns mantidos no enclave que ainda estão vivos.

 

Al-Nunu pediu ações urgentes para travar a ofensiva contra a Faixa de Gaza e que Israel permita a entrada de ajuda humanitária no enclave palestino, sublinhando que as condenações verbais não são suficientes.

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