ORIENTE MÉDIO
ONU denuncia execuções sumárias nos confrontos na Síria
Onda de violência no país provocou mais de mil vítimas civis, sendo considerado um dos maiores massacres no território desde 2011
Por: Isabel Alvarez
Publicado em: 11/03/2025 13:39
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Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk (Foto: Fabrice COFFRINI/AFP) |
O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (ACNUDH), Volker Türk, denunciou que mais de 100 civis foram assassinados, no oeste da Síria desde 6 de março. A onda de violência no país provocou mais de mil vítimas civis, sendo considerado um dos maiores massacres desde 2011 no território. O porta-voz do ACNUDH, Thameen al-Kheetan, disse que o processo de verificação ainda está em curso e que o número de pessoas mortas pode ser significativamente maior.
“Famílias inteiras, incluindo mulheres, crianças e pessoas fora de combate, foram mortas, com cidades e aldeias predominantemente alauitas, durante uma repressão militar contra apoiadores insurgentes do antigo regime do presidente deposto Bashar al-Assad. Muitos dos casos documentados foram execuções sumárias. Parecem ter sido realizadas por motivos sectários nas províncias de Tartus, Latakia e Hama, aparentemente por indivíduos armados não identificados, membros de grupos armados que alegadamente apoiavam as forças de segurança do governo de transição e elementos associados ao antigo governo sírio”, relatou al-Kheetan.
Türk apelou à responsabilização de todos os culpados por estes crimes, mas saudou a criação de um comitê de investigação independente anunciado pelo governo de transição sírio, pedindo às autoridades locais para que as investigações sejam rápidas, completas, independentes e imparciais.
A ONG Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), um monitor do conflito com sede em Londres que mantém fontes em todo o país, fez um levantamento que aponta que mais de 1,5 mil pessoas morreram, incluindo 973 civis, durante os embates. O OSDH confirmou que as vítimas são em sua maioria civis da minoria alauíta e que, segundo a ONG, foram executadas pelas forças de segurança sírias e grupos aliados nas operações e combates contra os partidários de Assad. O Observatório ainda acusou a tentativa da liderança interina síria de encobrir os massacres e denunciou que a ação violenta foi realizada por militares e milicianos ligados ao governo atual. Diversos vídeos, além disso, circularam nas redes sociais, que mostraram um cenário de amplas violações, com ruas cheias de cadáveres e corpos no mar.
De acordo com testemunhos recolhidos pelo Escritório da ONU, os atacantes invadiram casas, perguntando aos residentes se eram alauitas ou sunitas antes de os matarem ou os pouparem. Alguns sobreviventes contaram que muitos homens foram mortos em frente às suas famílias. Além disso, indivíduos armados também invadiram vários hospitais em Latakia, Tartus e Baniyas, resultando em dezenas de vítimas civis, incluindo doentes, médicos e estudantes de medicina, assim como danos nas unidades de saúde. Outras violações e abusos registrados nos últimos dias incluem saques generalizados de casas e lojas, principalmente por indivíduos não identificados que parecem ter-se aproveitado da situação caótica na região.
"Estamos preocupados que o aumento significativo do discurso de ódio e de desinformação possa inflamar ainda mais as tensões e prejudicar a coesão social na sociedade síria. Para garantir que tais violações e abusos angustiantes não se repitam, é imperativo que o processo de seleção e integração de facções armadas nas estruturas militares da Síria esteja em conformidade com as obrigações do país ao abrigo dos direitos humanos internacionais e do direito humanitário, e aborde plenamente a responsabilidade de todos aqueles que estiveram envolvidos em violações passadas ou recentes dos direitos humanos na Síria", sublinhou al-Kheetan.
De acordo com o ACNUDH, muitos civis fugiram das suas casas para zonas rurais, enquanto alguns também procuraram refúgio numa base aérea controlada pelas forças russas na zona. Além disso, mais de seis mil pessoas, sobretudo alauitas, fugiram nos últimos dias da Síria para o norte do Líbano durante os conflitos, de acordo com as autoridades locais libanesas.
Por outro lado, o presidente interino da Síria, Ahmed Al Sharaa, prometeu punir os responsáveis, incluindo os próprios aliados se necessário. Al Sharaa, que é líder da Organização para a Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham, HTS), anunciou no domingo a formação de uma comissão para preservar a paz civil que terá três membros, incluindo os governadores de Latakia e Tartus, destacando que irá trabalhar para fortalecer a unidade nacional nesta fase delicada.
As autoridades de transição anunciaram o fim das operações de segurança nas zonas costeiras na segunda-feira (10) apos a "neutralização" das "células remanescentes" do regime Assad. No entanto, continuam ainda a serem relatados confrontos intermitentes.