GUERRA

O efeito Trump na desinformação da Ucrânia

67% dos entrevistados confiam no presidente ucraniano

Publicado em: 18/03/2025 19:19

Uma das principais mentiras é de que o presidente da Ucrânia de roubar dinheiro que o Ocidente enviou para Kiev (falso) (Crédito: NICHOLAS KAMM, HANDOUT / AFP / UKRAINIAN PRESIDENTIAL PRESS SERVICE / AFP)
Uma das principais mentiras é de que o presidente da Ucrânia de roubar dinheiro que o Ocidente enviou para Kiev (falso) (Crédito: NICHOLAS KAMM, HANDOUT / AFP / UKRAINIAN PRESIDENTIAL PRESS SERVICE / AFP)

O Observatório Europeu dos Meios de Comunicação Digitais (EDMO) conclui que, no espaço de um mês, a desinformação sobre a guerra na Ucrânia passou de 6 % em janeiro para 11 % em fevereiro, do total da desinformação detectada e averiguada.

O relatório mensal divulgado pelo EDMO intitulado “O efeito Trump na desinformação” analisou 1.376 artigos em fevereiro, 157 desses artigos (11 por cento) tinham informação falsa sobre a guerra entre a Ucrânia e a Rússia, seguida da desinformação relacionada com a União Europeia (UE), com 99 artigos (7 %).

 “O aumento de mentiras sobre a guerra parece se dever, em parte, ao fato do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter abraçado algumas narrativas falsas pró-Rússia para descrever a situação na Ucrânia, o seu líder e a responsabilidade pelo conflito", indica o documento.

As 33 organizações que constituem a rede de verificação de fatos do Observatório encontraram também 93 artigos (7%) sobre desinformação relacionada com a imigração, 65 (5%) sobre desinformação referente à covid-19, além de desinformações atribuídas às alterações climáticas, questões LGBTQ+ e de gênero e sobre conflito no Oriente Médio.

O EDMO afirma que algumas mentiras de Trump fazem parte da propaganda estatal russa. O relatório cita exemplos, como a acusação de que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky é um ditador que se recusa a realizar eleições e tem uma taxa de aprovação extremamente baixa com um índice de aprovação de 4%.  Falso.

A mais recente sondagem feita na Ucrânia entre os dias 14 de fevereiro e 4 de março mostrou que 67% dos entrevistados confiam no presidente ucraniano. O povo ucraniano apoia Zelensky mesmo após mais de três anos depois da invasão russa no país e o inicio do conflito. A Ucrânia também vive sob lei marcial adotada por conta da guerra com a Rússia, por isso não foram realizadas ainda as novas eleições no país.  A continuidade presidencial de Zelensky, por parte do Kremlin, coloca em dúvida a legitimidade do seu cargo. No entanto, é muito frequente a suspensão de eleições durante uma guerra. O Reino Unido e o Canadá adiaram eleições nas Guerras Mundiais, e Israel também o faz em tempo de guerra.

O EDMO aponta que as falsidades ditas por Trump influenciaram a opinião em alguns países da União Europeia, sendo uma delas as mentiras de que Zelensky rejeita as negociações de paz, o que é falso.

Outra mentira acusa o presidente da Ucrânia de roubar dinheiro que o Ocidente enviou para Kiev (falso).

Ainda outra desinformação: as armas dos EUA enviadas para a Ucrânia acabaram nas mãos de cartéis de drogas. “Uma mentira”, destaca o Observatório.

"A disseminação de desinformação sobre a legitimidade de Zelenskyy ajuda diretamente a propaganda do Kremlin e mina o direito do povo ucraniano a determinar o seu próprio futuro", avalia Olga Onuch, professora de Política Comparada e Ucraniana na Universidade de Manchester, no Reino Unido.