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Catar acusa Israel de causar fome deliberada e brutal em Gaza
Israel suspendeu e bloqueou por completo a entrada de qualquer ajuda humanitária em Gaza há duas semanasPublicado em: 17/03/2025 18:53 | Atualizado em: 17/03/2025 19:50
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O Painel IPC (Integrated Food Security Classification) estima que 95% da população de 2,1 milhão de habitantes esteja enfrentando algum nível de fome (foto: OMAR AL-QATTAA/AFP) |
Nesta segunda-feira (17), o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman Al-Thani, fez diversas acusações contra o governo de Israel, apelando à comunidade internacional para enfrentar e resolver de imediato a situação de fome da população da Faixa de Gaza. Al-Thani, ao receber a coordenadora de ajuda humanitária das Nações Unidas para Gaza, Sigrid Kaag, declarou que a fome vem sendo imposta sistematicamente aos palestinos do enclave.
O premiê catari destacou a urgência de todos na ONU assumirem as suas responsabilidades diante desta catástrofe humanitária na região, especialmente diante da política “de fome” adotada por Israel, que Al-Thani considera ser parte integral da guerra brutal contra o povo da Palestina.
A posição do Catar é mais um agravante no aumento da pressão internacional sobre as táticas de Tel Aviv em Gaza, onde é denunciado ainda o cerco militar além da escassez de alimentos e de bens essenciais. O diretor Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), para o Oriente Médio e Norte da África, Edouard Beigbeder, visitou Gaza e relatou que a situação é extremamente preocupante. “Algumas crianças vivem com tremendo medo ou ansiedade, outras enfrentam as consequências reais da privação de assistência humanitária e proteção, deslocamento, destruição ou morte. Sem a entrada de ajuda na Faixa de Gaza, cerca de 1 milhão de crianças estão vivendo sem o básico de que precisam para sobreviver, mais uma vez”, afirmou.
Beigbeder contou que nas instalações para dessalinização de água apoiada pela entidade, em Khan Younis, no sul de Gaza, constatou que a falta de eletricidade, cortada por Israel, privou milhares de crianças do acesso à água potável.
Já os cálculos do Painel IPC (Integrated Food Security Classification), organização que mede a fome em todo o mundo, estimam que 95% da população de 2,1 milhão de habitantes esteja enfrentando algum nível de fome, com 344 mil palestinos com fome extrema.
Em contrapartida, o governo israelense nega que haja fome no território e que a escassez seria, se tanto, apenas um efeito colateral da necessidade de isolar a área controlada pelo Hamas.
Israel suspendeu e bloqueou por completo a entrada de qualquer ajuda humanitária em Gaza há duas semanas além de cortar a eletricidade, após alegadas recusas do Hamas em aceitar uma extensão temporária do cessar-fogo seguindo a proposta dos Estados Unidos, apresentada pelo enviado especial norte-americano Steve Witkoff. O Hamas argumentou que Tel Aviv que mudar as regras do acordo e bloquear os suprimentos era uma chantagem barata e um golpe, além de violar o que foi estabelecido no próprio acordo. O grupo pediu a interferência dos mediadores para para solucionar o caso.
Al-Thani também falou sobre as negociações em curso, mediadas por Doha, da trégua e da libertação de reféns entre Israel e o Hamas. O Catar desempenha um papel central nas conversações sobre a troca de prisioneiros e na facilitação de ajuda humanitária em Gaza, mas, segundo Al-Thani, a situação permanece volátil.
Ataque de Israel matou jornalistas e trabalhadores humanitários
O Hamas denunciou uma violação da trégua em Gaza, depois de bombardeios no sábado do exército israelense em Beit Lahia, que fizeram nove mortos, incluindo jornalistas. Tratou-se do ataque mais letal desde a entrada em vigor do cessar-fogo em 19 de janeiro. O porta-voz do Hamas, Hazem Qassem, disse que Israel cometeu um massacre horrível no norte de Gaza ao atacar um grupo de jornalistas e trabalhadores humanitários, numa violação flagrante do acordo de trégua.
"Nove pessoas foram levadas para o hospital, incluindo vários jornalistas e funcionários da instituição de solidariedade Al-Khair, num ataque com drones em Beit Lahia, enquanto a artilharia bombardeava a mesma zona", confirmou Mahmoud Bassal, porta-voz da Fundação al-Khair, registrada no Reino Unido. A organização não-governamental britânica acrescentou que os trabalhadores morreram apos seus veículos terem sido atacados por soldados israelenses.
Por outro lado, o exército de Israel admitiu dois ataques, explicando que o primeiro contra foi conta dois terroristas que operavam um drone na cidade, e depois contra um veículo que transportava outros terroristas que vieram recuperar o drone.
Segundo os serviços de emergência, a equipe de jornalistas que foi vítima do ataque era formada por, pelo menos, três fotógrafos, um deles especializado em fotografia com drones e um motorista.