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'The Crimson Diamond': Jóia retrô traz visual encantador para uma aventura clássica

Game foi destaque em premiações independentes no último ano

Publicado em: 10/01/2025 20:10 | Atualizado em: 10/01/2025 20:27

 (Reprodução/Julia Minamata)
Reprodução/Julia Minamata

 

Nos anos 90, quando os jogos de computador eram medidos em megabytes para rodar na limitada tecnologia da época, a desenvolvedora Sierra Entertainment fez seus point-and-clicks de aventura virarem febre.

Usando a tecnologia EGA (Enhanced Graphics Adapter - ou Adaptador de Gráficos Melhorados) a Sierra conseguiu criar jogos que conseguiam mostrar, ao mesmo tempo, 16 cores em tela - isso de uma paleta de 64 no total. Com a criatividade dos devs da época, essas cores formavam cerca de uma dezena de cenários, usados como fundo para ilustrar clássicos de aventura e puzzle da época.

Uma das mais celebradas personagens desses jogos era a esperta detetive Laura Bow. Protagonista de The Colonel's Bequest (1989) e The Dagger of Amon Ra (1992), Laura ganhou, em 2024, uma 'filha espiritual': a curiosa geologista Nancy Maple, de 'The Crimson Diamond'.

Enquanto realizava seus monótonos trabalhos universitários, a jovem cientista Nancy Maple recebe uma missão: investigar o aparecimento de um diamante na pequena vila isolada de Crimson, no Canadá. Chegando lá, ela descobre que a calmaria que um dia já atingiu seus residentes está sendo ameaçada. Hospedada numa mansão de uma família antiga da cidade, Nancy é envolta por uma trama perigosa de ambição familiar, traições e muita investigação.

THE CRIMSON DIAMOND

 (Reprodução/Julia Minamata)
Reprodução/Julia Minamata
 

É impossível abrir 'The Crimson Diamond' e não ficar hipnotizado pelos gráficos em pixel art, o maior tesouro do game. O carinho dedicado aos visuais do jogo é de encher os olhos, principalmente ao saber que ele foi praticamente desenvolvido por uma pessoa só: a dev - e artista-, Julia Minamata. Ela consegue criar ambientes vibrantes e encantadores nessa mistura de gráficos '90's-core' com a abundância de cores e tecnologias gráficas que temos hoje. Tanto em grande quanto em pequena escala, o jogador é apresentado a ambientes e personagens detalhados, que ajudam a contar a história a medida em que os acontecimentos vão se desenrolando.

Aqui temos uma clássica investigação em um clássico cenário: um mordomo cuidadoso, irmãos em disputa, uma amante misteriosa, um advogado inescrupuloso, um fiel companheiro e um cientista ranzinza. No meio disso tudo está a cativante Nancy, que só queria estudar uns minerais, mas é obrigada a virar uma detetive e desvendar uma trama que se aprofunda a cada capítulo. A protagonista se desenvolve junto ao enredo, adquirindo mais personalidade e vontades próprias à medida que somos apresentados a sua visão de mundo e de sua impressão sobre cada um desse grupo, já que todos carregam segredos que impactam em cada descoberta da narrativa. 

Nancy Maple pode não convencer nos primeiros minutos de gameplay, mas seu jeito 'nerd' e cuidadoso, aliado ao seu visual charmoso e chamativo em relação aos outros personagens, faz dela se tornar a protagonista perfeita para a história que é contada aqui, sendo impossível não se sentir cativado pela sua paixão pelo trabalho ou sua heroica busca pela verdade.

Trazendo a nostalgia dos jogos point-and-click dos anos 90, 'The Crimson Diamond' é um text parser adventure game, ou seja, toda interação de Nancy com os objetos, personagens e mapa - menos a movimentação - é feita com ordens textuais. Isso quer dizer que, ao invés da clássica mecânica de apontar e clicar, o jogador tem que usar a criatividade para escrever os comandos certos, como "abrir porta" ou "escutar conversa".

Esse modo de jogo trás o fator 'quebra-cabeças' por si só, já que o jogador tem que descobrir o que fazer, como fazer e qual ordem enviar para a personagem realizar o ato. A imersão que essa mecânica causa é muito interessante, já que, ocasionalmente, Nancy não é capaz - ou se recusa - a atender aos comandos do jogador. Além disso, durante o desenrolar da investigação, novas mecânicas são apresentadas, com destaque para a sequência do colhimento de digitais, um dos momentos mais divertidos do game.

 (Reprodução/Julia Minamata)
Reprodução/Julia Minamata
 

Outro ponto extremamente cativante aqui é a trilha sonora, único atributo do jogo não criado pela Minamata. Composta em um sintetizador, as faixas e efeitos sonoros fazem uma deliciosa simulação de um jogo retrô, trazendo o clima campestre e o espírito aventureiro para as cenas onde são executadas. Os sons desse jogo são tão bons que passam a sensação de serem subutilizados em boa parte dele, já que a maioria da gameplay é silenciosa. Por outro lado, o silêncio abrilhanta os trechos em que as músicas são tocadas, quando fica a vontade de mergulhar nesse mundo e buscar os segredos escondidos aqui.

'The Crimson Diamond' é um trabalho primoroso de alguém que é tão imerso em sua arte que criou até a fonte que é utilizada no jogo. É um game retrô que se orgulha e se diverte em ser retrô, usando o melhor das mecânicas antigas para criar uma experiência autêntica e cativante, que recompensa o jogador por sua exploração e renova, de forma independente, o gênero de graphic adventure e um formato que fazem falta na cenário de games atual.