SAÚDE

Caso de raiva em Pernambuco: infectologista explica que animais mortos também podem transmitir a doença

Maioria dos pacientes infectados não consegue sobreviver. Segundo dados do Ministério da Saúde, a doença tem letalidade de quase 100%

Publicado em: 09/01/2025 16:35 | Atualizado em: 09/01/2025 18:30

 (Fto: Divulgação/Governo do Estado de Santa Catarina)
Fto: Divulgação/Governo do Estado de Santa Catarina
Pernambuco registrou pela primeira vez em oito anos um caso de raiva humana, vírus que tem letalidade de quase 100%, segundo o Ministério da Saúde. O Diario de Pernambuco entrevistou o médico infectologista João Paulo França, do Hospital Oswaldo Cruz, no Recife, para esclarecer dúvidas sobre o tema e explicar como se prevenir.

De acordo com o profissional da saúde, a raiva pode ser transmitida até mesmo por um animal já morto e se trata de uma doença infecciosa grave e que ocorre nos mamíferos, a exemplo de cães, gatos, morcegos e macacos. Este último foi o animal que infectou a mulher de 56 anos que está internada na capital pernambucana. 

“A transmissão acontece de mamífero para mamífero para mamífero através de animais que a gente já conhece bem como cachorro, gato e morcego. A única exceção é o rato, que morre antes de transmitir a doença. A transmissão ocorre quando o humano entra em contato com a saliva do animal e isso acontece quando somos mordidos ou quando o animal lambe a mucosa da gente”, explica o infectologista.

João Paulo França pontua que raramente morcegos que se alimentam de frutas irão atacar e morder os seres humanos, ao menos que estejam infectados com o vírus da raiva, que altera o comportamento destes animais.

O médico ainda explica que após ser infectado pelo vírus do gênero Lyssavirus, da família Rabhdoviridae, o ser humano pode demorar cerca de até duas semanas para apresentar os sintomas. O período de incubação está relacionado à localização, extensão e profundidade da mordedura, arranhadura, lambedura ou tipo de contato com a saliva do animal infectado, bem como a proximidade do local infectado com o cérebro e troncos nervosos.

Profissionais da saúde que atuam em hospitais ou laboratórios estão mais propensos a serem infectados e precisam seguir uma série de cuidados para manipular o vírus ou tratar um paciente.

O médico João Paulo França ainda alerta que pessoas que resgatam animais de rua precisam reforçar os cuidados e que caso alguém seja mordido por um cachorro ou gato, o tutor deve ser procurado para saber se o bicho foi vacinado.

De acordo com o Ministério da Saúde, ao ser infectado pelo vírus, o ser humano pode apresentar sintomas como:

  • Mal-estar geral;
  • Pequeno aumento de temperatura;
  • Anorexia;
  • Cefaleia;
  • Náuseas;
  • Dor de garganta;
  • Entorpecimento;
  • Irritabilidade;
  • Inquietude;
  • Sensação de angústia;
  • Complicações como febre, delírios e espasmos.

O  infectologista João Paulo França orienta que a pessoa que recebeu uma mordida ou lambida de algum animal recorra à profilaxia, tratamento que inclui a vacina antirrábica e, em alguns casos, a administração de soro antirrábico. 

Quando a pessoa infectada não recorre à profilaxia antirrábica no tempo correto, a doença se instala e os médicos utilizam o Protocolo de Tratamento da Raiva Humana, baseado na indução de coma profundo, uso de antivirais e outros medicamentos específicos. Mas mesmo com o tratamento, poucos pacientes sobrevivem.

Para o infectologista do Hospital Oswaldo Cruz, este caso mais recente da doença “aconteceu porque a gente falhou na prevenção, falhou em informar a população de como se proteger da raiva. O vírus nunca deixa de circular. A população às vezes esquece ou não está bem informada de que após uma exposição é preciso fazer a profilaxia”.

A pernambucana infectada está internada desde o dia 31 de dezembro e é natural de Santa Maria do Cambucá.

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