FRANÇA

Macron nomeia novo primeiro-ministro da França

François Bayrou é o encarregado de formar o governo e dialogar com todos os partidos políticos

Publicado em: 13/12/2024 13:32 | Atualizado em: 13/12/2024 15:12

Francês centrista e líder do Movimento Democrático, François Bayrou (Créditos: FRED TANNEAU / AFP )
Francês centrista e líder do Movimento Democrático, François Bayrou (Créditos: FRED TANNEAU / AFP )

Nesta sexta-feira (13), François Bayrou foi nomeado o novo primeiro-ministro francês pelo presidente Emmanuel Macron, após uma reunião no Palácio do Eliseu, sede presidencial.

De acordo com um comunicado da presidência, François Bayrou é o encarregado de formar o governo e dialogar com todos os partidos políticos, excluindo a União Nacional (RN) e França Insubmissa (LFI), a fim de encontrar as condições de estabilidade e de ação.  Ele será o quarto chefe de governo da França desde a reeleição de Macron em abril de 2022 para um mandato de cinco anos.

É esperado que a transferência de poder entre ex-primeiro-ministro conservador Michel Barnier e François Bayrou aconteça nas próximas horas no Hôtel de Matignon, residência oficial do primeiro-ministro francês.

Bayrou, de 73 anos, é um experiente político, defensor de políticas de moderação, um forte aliado centrista de Macron e presidente do partido Movimento Democrático (MoDem, da aliança presidencial), que tem a complicada tarefa de restaurar a estabilidade do país e conseguir aprovar projetos de lei e tem como prioridade adotar um orçamento para 2025 na Assembleia Nacional, atualmente fragmentada em três blocos (esquerda, macronistas/direita e a extrema-direita).

A França se encontra fortemente endividada e o projeto de orçamento da Segurança Social levou à queda de Barnier. Para a próxima segunda-feira está previsto que a Assembleia Nacional vote uma "lei especial" para assegurar a continuidade de financiamento do Estado. A "lei especial" estenderá temporariamente as normas orçamentais de 2024, até que o novo Governo francês consiga que o orçamento para 2025 seja aprovado.

Seu governo terá de contar com deputados moderados da esquerda e da direita para se manter no poder e talvez com alguns conservadores, buscando evitar que desfaçam o poder o executivo, como aconteceu com o ex-primeiro-ministro conservador Michel Barnier. Este renunciou após a histórica moção de censura da Assembleia apresentada pelo bloco de partidos de esquerda Nova Frente Popular (NFP) e apoiada pela extrema-direita de Marine Le Pen, União Nacional (RN, sigla em francês).

Os líderes da oposição francesa aceitaram a nomeação de François Bayrou como primeiro-ministro de França, mas já ameaçaram censurar o novo executivo caso não exista uma mudança política.

A líder da União Nacional (extrema-direita) na Assembleia Nacional, Marine Le Pen, apelou ao novo primeiro-ministro  para que "faça o que o seu antecessor não quis fazer: ouvir e escutar a oposição para construir um orçamento razoável e ponderado".

"Qualquer política que consista apenas em prolongar o macronismo, rejeitado duas vezes nas urnas, só pode levar a um beco sem saída e ao fracasso", afirmou Le Pen.

"Não haverá censura 'a priori. Entretanto, serão mantidas as mesmas linhas vermelhas que tínhamos com o anterior executivo, garantiu Jordan Bardella, presidente da União Nacional.

Já o partido de esquerda radical França Insubmissa (LFI) anunciou que vai apresentar uma moção de censura contra o Governo de Bayrou, porque este não vem dos partidos da esquerda como esta ala política pede desde a vitória nas eleições legislativas de julho.

"Os deputados vão ter duas opções: apoiar o resgate de Macron ou a censura. Nós fizemos a nossa", afirmou a presidente do LFI na Assembleia Nacional, Mathilde Panot,  acrescentando que é mais uma candidatura para o adiamento de Emmanuel Macron.

Os socialistas, os ecologistas e os comunistas, as outras forças da aliança de esquerda Nova Frente Popular, que se têm mostrado abertos a um acordo político, não ficaram satisfeitos com a nomeação de Bayrou.

"A nomeação de um primeiro-ministro do seu próprio campo envia um sinal errado", comentou o secretário nacional do Partido Comunista Francês (PCF), Fabien Roussel, que, no entanto, afirmou que julgará com base nas provas. Roussel disse que não censuraria o Governo de Bayrou 'a priori', pedindo que este se comprometa a construir maiorias e compromissos e a "uma mudança de política".

Para a líder dos Ecologistas, Marine Tondelier, quanto mais Macron perde terreno em termos eleitorais, mais se agarra àqueles que lhe são muito próximos e que encarnam o macronismo mais fiel. "Se for para manter as mesmas pessoas, deixar Bruno Retailleau, ministro do Interior, lá dentro, não fazer nada em relação às pensões, à ecologia, à justiça fiscal, não vejo que outra opção teremos", defendeu Tondelier, ema referência a uma possível moção de censura.

Já os dirigentes socialistas, que ainda não se pronunciaram após o anúncio da nomeação, deverão esperar também para conhecer os objetivos de Bayrou, que terá agora de nomear um executivo e definir as suas principais linhas políticas, das quais dependerá a sua sobrevivência enquanto chefe de Governo.

Quem é François Bayrou?

Bayrou também já foi três vezes candidato às eleições presidenciais (2002, 2007 e 2012) e recentemente foi absorvido de num caso de alegado desvio de fundos do Parlamento Europeu. No entanto, seu partido político e oito outros responsáveis acusados foram considerados culpados.

Filólogo de formação, filho de agricultores, se define como um homem do campo. Ingressou na política aos 25 anos como conselheiro do departamento dos Pirenéus-Atlânticos, onde se localiza Pau, sua terra natal.

Na sua juventude, lutou com um caso grave de gaguez, que só superou com anos de terapia da fala e foi um aluno distinguido na universidade, onde, aos 23 anos, foi agraciado com o mais alto grau de qualificação para professores em França.

Apesar da sua extensa vida política, sempre viveu na fazenda onde nasceu, na qual onde criou cinco filhos com a sua mulher, Élisabeth Perlant.

Em 1986, se elegeu para a Assembleia Nacional como representante da União para a Democracia Francesa (UDF), uma confederação centrista e sete anos depois foi nomeado ministro da Educação do Governo de Édouard Balladur.

Enquanto líder da pasta da Educação (1993-1997), Bayrou propôs diversas reformas, como o financiamento de escolas privadas por autoridades locais, e foi altamente contestado acabando por ver as suas sugestões rejeitadas pelo Conselho Constitucional. No final dessa década, em 1998, tornou-se líder da UDF, unificando-a e afastando-se dos conservadores do então RPR, antecessor do União por um Movimento Popular (UMP).

Posteriormente, fundou o Movimento Democrático (MoDem) em 2007, consolidando a sua visão de um centrismo independente e modernizador. Foi nomeado ministro da Justiça no primeiro Governo de Édouard Philippe (2017-2020), mas acabou por sair pouco tempo depois, no âmbito de um escândalo em que foi acusado de utilização indevida de fundos do Parlamento Europeu, onde foi eurodeputado entre 1999 e 2002.

A acusação indicava que estaria envolvido num esquema de desvio de fundos para pagar funcionários do partido a que preside, o Movimento Democrático.À saída do tribunal, Bayrou disse que a decisão do tribunal marcava o fim de um "pesadelo de sete anos".

Ainda assim, Bayrou continuou a desempenhar um papel fundamental como conselheiro de Macron, sobretudo nas eleições de 2022.