ELEIÇÕES NO URUGUAI
Uruguai elege próximo presidente em 2º turno acirrado
Yamandú Orsi, de centro-esquerda, enfrenta Álvaro Delgado, de centro-direitaPublicado em: 24/11/2024 10:34 | Atualizado em: 24/11/2024 10:36
Yamandú Orsi (à esq.) e enfrenta Álvaro Delgado (à dir.) (foto: SANTIAGO MAZZAROVICH/AFP) |
Os uruguaios elegem, neste domingo (24), seu próximo presidente em um segundo turno com resultado em aberto, que pode marcar a volta ao poder da esquerda do icônico ex-presidente José Mujica ou a continuidade da coalizão de centro direita após cinco anos de governo.
Yamandú Orsi, um professor de história de 57 anos, da opositora Frente Ampla, enfrenta Álvaro Delgado, um veterinário de 55 anos, do Partido Nacional, que lidera a aliança governista.
O vencedor sucederá, em 1º de março, o presidente Luis Lacalle Pou, com um nível de aprovação perto de 50%, mas impedido constitucionalmente de disputar a reeleição.
A votação começou às 08h (mesmo horário em Brasília) e se estenderá até as 19h30.
O Uruguai vai às urnas como a democracia mais sólida da América Latina, com alta renda per capita e menores níveis de pobreza e desigualdade frente ao resto da região.
A situação econômica e a criminalidade dominam as preocupações dos eleitores deste país agropecuário, com 3,4 milhões de habitantes e 12 milhões de cabeças de gado.
"Para os trabalhadores, estes cinco anos não foram nada bons", disse à AFP Gustavo Maya, um distribuidor de botijões de gás de 34 anos, eleitor de Orsi.
"Ando todo dia na rua e o que me preocupa é a insegurança. Vejo muitos assaltos, cada vez mais homicídios, pouca polícia", queixou-se.
William Leal, um pedreiro de 38 anos, disse que votará em Delgado.
"Quero que este governo continue porque no setor da construção houve muito mais trabalho", disse. "O dinheiro rende mais. Embora continue caro, melhorou".
Mujica: "Me interessa o destino dos jovens"
Este segundo turno eleitoral promete ser muito disputado, assim como em 2019, quando Lacalle Pou venceu por apenas 37.000 votos.
Em 27 de outubro, Orsi obteve 43,9% dos votos, muito à frente de Delgado (26,7%), embora este agora conte com o apoio de todos os partidos da coalizão governista, que juntos obtiveram 47,7% dos votos.
Orsi lidera todas as pesquisas, mas seguido de perto por Delgado, por uma diferença que diminuiu nos últimos dias e se situa dentro das margens de erro.
"É um cenário muito competitivo", informou à AFP o sociólogo Eduardo Bottinelli, diretor da consultoria Factum.
A Frente Ampla espera voltar ao governo, perdido em 2020 após três mandatos consecutivos, um deles com Mujica (2010-2015).
O ex-guerrilheiro de 89 anos, que se recupera de um câncer no esôfago, votou cedo em Montevidéu.
"Meu futuro mais próximo é o cemitério, mas me interessa o destino dos jovens, que quando tiverem a minha idade vão viver em um mundo muito diferente", disse, cercado por jornalistas, pedindo às pessoas que se preparem para "o advento da sociedade da inteligência".
Apesar da saúde frágil, Mujica teve uma participação ativa no final da campanha. Em reuniões com moradores e várias entrevistas, ele criticou a avareza de alguns políticos, as corporações e o presidente em fim de mandato Lacalle Pou. Também questionou o "consumismo abominável", e falou sobre seu legado em uma espécie de despedida que emocionou muitas pessoas.
"Governabilidade" e "maioria silenciosa"
Após o primeiro turno, em outubro, a Frente Ampla ficou com 16 dos 30 assentos do Senado, e a coalizão governista, com 49 dos assentos da Câmara dos Deputados.
Orsi, que foi intendente do departamento de Canelones durante uma década, assegurou ter a "governabilidade" para impulsionar "as transformações de que o país precisa".
"Queremos ir ao encontro e buscar linhas de acordo", disse Delgado, ex-secretário da Presidência de Lacalle Pou, confiando em que "uma maioria silenciosa" lhe dará a vitória porque o Uruguai está "melhor" do que em 2019.
Vença quem vencer, não se antecipa uma reviravolta. Orsi prometeu "uma mudança segura, que não será radical" e Delgado, avançar na via atual.
No entanto, o tema dos impostos gerou atritos no único debate da campanha. Ambos se comprometeram a não aumentar a carga tributária, mas Delgado questionou a promessa do adversário, afirmando que o programa da Frente Ampla o prevê.
Os dois têm dito que vão impulsionar o crescimento, em recuperação após a desaceleração provocada pela pandemia e por uma seca histórica. Também apostam em reduzir o déficit fiscal e combater o aumento da criminalidade vinculada ao narcotráfico.
Mais de 2,7 milhões de uruguaios estão habilitados a votar no segundo turno, no qual o vencedor será definido por uma maioria simples. No Uruguai, o voto é obrigatório e não existe o voto consular, razão pela qual é aguardada a vinda de milhares de uruguaios residentes na vizinha Argentina.