GUERRA

Israel firma trégua no Líbano para focar em confrontos no Irã e em Gaza

Cessar-fogo no Líbano permitirá a Israel se concentrar na "ameaça iraniana" e isolar o grupo terrorista palestino Hamas. Netanyahu promete contra-atacar, caso o Hezbollah viole acordo. Presidentes Biden e Macron celebram medida

Publicado em: 27/11/2024 07:25

Colunas de fumaça sobre Beirute: intensificação da campanha militar a poucas horas da trégua 
 (Crédito: Fadel Itani/AFP)
Colunas de fumaça sobre Beirute: intensificação da campanha militar a poucas horas da trégua (Crédito: Fadel Itani/AFP)

Depois de Israel bombardear 20 locais de Beirute em um intervalo de dois minutos, o gabinete de segurança do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu aprovou um acordo de cessar-fogo no Líbano, por 10 votos a um. A trégua começaria às 23h desta terça-feira (4h de quarta-feira, no horário local). O premiê explicou que aceitou a suspensão dos combates por três motivos. "A razão do cessar-fogo é para nos concentrarmos na ameaça iraniana, e não vou entrar em detalhes sobre isso. Também para renovar e reabastecer as nossas tropas e isolar o (grupo terrorista palestino) Hamas", declarou Netanyahu, em rede nacional de televisão.

O acordo entre Israel e o movimento fundamentalista xiita libanesa Hezbollah foi mediado pelos Estados Unidos e pela França. A três horas do início do cessar-fogo, a milícia libanesa anunciou o lançamento de drones contra "alvos militare sensíveis", em Tel Aviv.

O chefe de governo de Israel explicou que a duração da trégua dependerá "do que acontecer no Líbano" e ressaltou que seu país terá "liberdade de ação total" em território libanês. "Se o Hezbollah violar o acordo e tentar se rearmar, atacaremos", avisou. O acordo de cessar-fogo prevê a interrupção das hostilidades por 60 dias. Nesse intervalo, o Hezbollah e as Forças de Defesa de Israel (IDF) removeriam seus combatentes do sul do Líbano para permitir que o Exército libanês monitore a segurança da região. Um comitê internacional superrvisionará a implementação do plano. Em 416 dias de guerra, 3.823 pessoas foram mortas e 15.859 ficaram feridas, segundo o Ministério da Saúde libanês. 

Homem caminha em meio a prédios destruídos em ataque aéreo, no bairro de Tayouneh, no sul da capital libanesa (Crédito: Ibrahim Amro/AFP)
Homem caminha em meio a prédios destruídos em ataque aéreo, no bairro de Tayouneh, no sul da capital libanesa (Crédito: Ibrahim Amro/AFP)

Em nota conjunta, os presidentes Joe Biden (EUA) e Emmanuel Macron (França) destacaram que o cessar-fogo "protegerá Israel da ameaça do Hezbollah e de outras organizações terroristas operando do Líbano" e "criará as condições para restaurar a calma duradoura, além de permitir aos moradores de ambos países o retorno em segurança às suas casas". Os dois líderes se comprometeram a "trabalhar com Israel e com o Líbano para que o acordo seja totalmente implementado e executado". Também anunciaram que vão "liderar e apoiar os esforços internacionais para a capacitação das Forças Armadas libanesas, bem como o desenvolvimento econômico em todo o Líbano". 

Em pronunciamento nos jardins da Casa Branca, Biden enviou um recado ao movimento xiita libanês. "Se o Hezbollah ou qualquer outra pessoa quebrar o acordo e representar uma ameaça direta, Israel tem o direito à autodefesa, consistente com o direito internacional — assim como qualquer país, ao enfrentar um grupo terrorista comprometido com a destruição."

Biden admitiu que a população da Faixa de Gaza "passou por um inferno, seus mundos foram completamente destruídos". "O Hamas tem uma escolha a fazer. A única saída é libertar os reféns, incluindo os cidadãos americanos", disse. Ele revelou que os EUA, com Egito e Catar, farão um novo esforço por um cessar-fogo também no território palestino.

Estabilidade regional

O primeiro-ministro libanês, Nayib Mikati, afirmou que o acordo entre Israel e o Hezbollah representa um "passo fundamental" para a estabilidade regional. Ele agradeceu aos EUA e à França e indicou que o governo do Líbano se compromete a "fortalecer a presença do Exército no sul do país", um bastião do Hezbollah. 

Mural em Teerã com as imagens de Netanyahu e do ex-ministro da Defesa Yoav Gallant atrás das grades: ''Criminosos procurados'' (Crédito: Atta Kenare/AFP)
Mural em Teerã com as imagens de Netanyahu e do ex-ministro da Defesa Yoav Gallant atrás das grades: ''Criminosos procurados'' (Crédito: Atta Kenare/AFP)

Trita Parsi,vice-presidente do Instituto Quincy (em Washington), afirmou ao Correio que a ideia de que Netanyahu concorda com um cessar-fogo com o objetivo de mudar o foco para o Irã é "muito pouco convincente". "Isso soa mais como uma manobra do premiê israelense para parecer 'durão', ante o fato de concordar com uma pausa nos combates mesmo sem ter alcançado muitos de seus objetivos no Líbano", explicou. O especialista acredita que Teerã pressionou o Hezbollah, seu aliado, a concordar com os termos do cessar-fogo. 

"O regime iraniano teve várias razões para fazer isso. Ele se opunha à expansão do conflito desde o início, pois enfrenta desafios em casa. Além disso, o momento da guerra no Líbano convém muito mais a Israel do que ao Irã", disse. De acordo com Parsi, a trégua pode ser vista como um presente para Donald Trump, no sentido de que Teerã sinalizaria o desejo de chegar a um acordo com os EUA.

Moradora do campo de refugiados de Mar Elias, no sudoeste de Beirute, Maha (ela não quis ter o sobrenome divulgado), 32 anos, disse ao Correio que está "cansada de toda essa situação". "Israel comete crimes todos os dias, e o mundo deveria parar de apoiá-lo. Hoje, a aviação israelense atingiu locais não relacionados ao Hezbollah, o que mostra a brutalidade de Israel", afirmou. Às 20h58 (15h58 em Brasília), enquanto falava à reportagem, Maha contou que escutava o som das bombas. "É um sentimento terrível. Tememos que algo ocorra com nossa família."
 
As informações são do Correio Braziliense.