MÚSICA

Há 50 anos, Geraldão foi palco do show mais caótico da carreira de Ney Matogrosso

Cantor volta a Pernambuco pela quarta vez neste sábado com o show Bloco na Rua, 50 anos após a apresentação mais caótica de sua carreira, no Recife, ainda com o Secos & Molhados

Publicado em: 29/11/2024 06:00

João Ricardo, Ney Matogrosso e Gérson Conrad formaram trio original do Secos & Molhados (Foto: Arquivo/DP)
João Ricardo, Ney Matogrosso e Gérson Conrad formaram trio original do Secos & Molhados (Foto: Arquivo/DP)
O cantor Ney Matogrosso retorna amanhã ao Grande Recife com show da turnê Bloco na Rua, em atividade desde 2019, no Classic Hall, a partir das 20h. O público pernambucano deve comparecer em peso para prestigiar as performances eletrizantes e a potência vocal do artista, que segue incansável aos 83 anos. Com um repertório que percorre várias fases de sua carreira, a expectativa é alta para clássicos como “Sangue Latino”, do Secos & Molhados. Essa mesma música foi destaque no show que levou 20 mil pessoas ao Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães, o “Geraldão”, excedendo sua capacidade máxima e causando grande alvoroço em 20 de fevereiro de 1974.

Após o lançamento do álbum de estreia, a formação composta por João Ricardo (vocais, violão e harmônica), Ney Matogrosso (vocais) e Gérson Conrad (vocais e violão) vivenciou um experimento da “beatlemania” no Brasil. Secos & Molhados se inspirou em poemas preexistentes para criar algumas faixas, como Rosa de Hiroshima, um dos hits atemporais que levou o grupo a uma ascensão meteórica e fulminante, um feito quase sem precedentes na música nacional. “Em pouco tempo, menos de 6 meses, o conjunto "Secos & Molhados" transformou-se num dos mais importantes e mais comentados da nova música que se faz no Brasil”, escreveu o Diario em setembro de 1973.

Em apenas um ano, o grupo alcançou a marca de 1 milhão de cópias vendidas, segundo estimativas, e conquistou discos de ouro, platina e diamante. Com o sucesso do álbum nas rádios, o trio caiu na estrada para a turnê em diversas capitais. Recife receberia o Secos & Molhados pela primeira vez no Geraldão, em 20 de fevereiro de 1974, com ingressos a Cr$ 20,00 (cadeira de pista), Cr$ 10,00 (arquibancada) e Cr$ 5,00 (geral). Segundo o Diario, o show era aguardado com grande expectativa pelo público jovem, que finalmente teria a chance de ver ao vivo o "famoso trio de cantores malucos" na cidade.

Naquela noite, Ney só pôde respirar aliviado quando fechou a porta do quarto do hotel. O evento foi marcado por um caos absoluto, com a polícia impotente diante da situação. O calor era insuportável, e o ginásio estava com superlotação. Durante o show, o público avançou e rompeu o cordão de isolamento montado pelos policiais, fazendo o palco tremer. A todo custo, queriam se aproximar dos músicos. Após o término do espetáculo, a tensão aumentou e Ney teve que deixar o local escoltado pela polícia, dentro de um camburão. Para agravar a situação, Moracy do Val, empresário do Secos & Molhados, foi detido por se recusar a fornecer ingressos a duas mulheres da sociedade pernambucana.

No dia seguinte, o Diario registrou a cena caótica. "Cerca de vinte mil pessoas, a maioria esmagadora composta de jovens e crianças, estiveram presentes, ontem à noite, no Ginásio da Imbiribeira, para assistir à apresentação do conjunto "Secos & Molhados", o mais novo fenômeno no consumo de música no Brasil. Um calor sufocante, gritos, aplausos e desmaios completaram o show, fazendo entrar em ação o serviço de enfermagem do Ginásio durante todo o espetáculo”. Ao chegar no hotel, Ney foi cercado por fãs. Quando tentou se refugiar na área interna, seu figurino prendeu na maçaneta, mas ele se soltou rápido e escapou ileso.
 
Ney traz músicas que fizeram sucesso em diferentes momentos da sua trajetória (Foto: Rafael Strabelli)
Ney traz músicas que fizeram sucesso em diferentes momentos da sua trajetória (Foto: Rafael Strabelli)

Bloco na Rua
Ney Matogrosso promete embalar a noite com grandes hits conhecidos pelo público, como "Sangue Latino", "Poema", "Homem com H", "Eu quero é botar meu bloco na rua" (Sergio Sampaio), título da turnê, "A Maçã" (Raul Seixas), "Álcool (Bolero Filosófico)" (DJ Dolores), e "O Beco" (Herbert Vianna/Bi Ribeiro). O repertório conta ainda com canções raras, como "Postal do Amor" e "Ponta do Lápis", do compacto lançado em 1975 com Fagner, além de "Como 2 e 2" (Caetano Veloso) e "Feira Moderna" (Beto Guedes, Lô Borges e Fernando Brant), duas músicas que Ney nunca havia cantado ao vivo.

O espetáculo promete também um visual de tirar o fôlego, com figurinos criados especialmente por Lino Villaventura, cenários projetados por Luiz Stein e iluminação assinada por Juarez Farinon, tudo com a supervisão de Ney Matogrosso, que sempre se destaca por sua estética arrojada. A banda que o acompanha é a mesma que esteve com o cantor nos últimos cinco anos, composta por músicos de renome, como Sacha Amback (direção musical e teclado), Marcos Suzano e Felipe Roseno (percussão), Dunga (baixo), Mauricio Negão (guitarra), Aquiles Moraes (trompete) e Everson Moraes (trombone).