QUADRINHOS

''Contos dos Orixás'', HQ com trechos em Yorubá, será lançada na Caixa Cultural Recife

Evento integra a programação do Projeto PEBA, uma iniciativa que promove a conexão entre as expressões artísticas de Pernambuco e Bahia

Publicado em: 25/11/2024 15:10 | Atualizado em: 25/11/2024 16:21

 (Foto: Reprodução)
Foto: Reprodução
A série Contos dos Orixás reinterpreta a mitologia e as tradições orais afro-brasileiras, apresentando aos leitores jovens e adultos as histórias de matrizes africanas sobre divindades e heróis ancestrais. Com lançamento previsto para esta terça-feira (26), a partir das 18h, na Caixa Cultural Recife, a obra se destaca como uma das primeiras HQs brasileiras a incluir trechos no idioma Yorubá. Além disso, já conta com uma edição internacional publicada pela editora Abrams Books nos Estados Unidos.
 
O lançamento faz parte da programação do Projeto PEBA, que conecta as expressões artísticas de Pernambuco e Bahia. O evento inclui uma roda de conversa sobre quadrinhos e negritude no Brasil, com o autor baiano Hugo Canuto e o escritor pernambucano Eron Villar. Em seguida, haverá uma sessão de autógrafos da obra Contos dos Orixás – O Rei do Fogo.

O projeto surgiu a partir da convergência entre duas paixões de Canuto. A primeira, pelo legado das culturas que moldaram a terra de origem dele, a Bahia, com suas tradições ancestrais representadas no livro pelas histórias das divindades e povos provenientes dos atuais Benin e Nigéria, países na região Oeste do continente africano.

Seu vasto patrimônio filosófico, espiritual e político alcançou países como Brasil e Cuba como consequência da terrível diáspora, manifestando-se na língua, cultura e nas artes visuais, música, e a literatura, produzindo obras inspiradas pelos orixás, arquétipos milenares de força, coragem, sabedoria e beleza.

A segunda, pelas Histórias em Quadrinhos, linguagem global construída a partir da união entre texto e imagem, capaz de produzir verdadeiros mitos modernos, atualizando símbolos e expandindo as possibilidades de contar histórias, um dos atos que, segundo Hugo Canuto,  definem cada pessoa como humanidade desde que os primeiros homens e mulheres se reuniram ao redor do fogo, nas noites do tempo.

Ao reunir os dois universos e após dois anos de trabalho, Canuto criou o primeiro livro, que atravessou fronteiras e alcançou leitores de diferentes origens e lugares, despertando o interesse para conhecerem mais sobre os Itan, as narrativas e mitos ligados aos orixás, cuja essência possui a mesma relevância cultural da Ilíada, Odisséia ou a epopeia indiana Mahabarata, ao abordarem temas universais como o destino, a família, o amor e a guerra.

O primeiro volume da série foi publicado em 2019, de maneira independente através da plataforma Catarse, e reimpressa em quatro campanhas de financiamento coletivo, tornando-se sucesso de público e crítica. Parte dos exemplares impressos são doados para instituições culturais, terreiros, bibliotecas comunitárias e subsidiados para professores, buscando atender as diretrizes da lei 10.639 que busca promover a história e cultura dos povos africanos e indígenas no Brasil.
 
Autor baiano Hugo Canuto venceu premiações internacionais com HQ (Foto: Divulgação)
Autor baiano Hugo Canuto venceu premiações internacionais com HQ (Foto: Divulgação)

A obra foi vencedora do prêmio Glyph comic Awards, nos EUA, como história do ano e melhor desenhista, além do Angelo Agostini como melhor lançamento e do Troféu Abébé de Prata, uma das obras finalistas selecionadas ao prêmio Jabuti, o mais prestigiado do Brasil, na categoria Histórias em Quadrinhos.

Cada edição traz uma história completa, inspirada nos “itan”, os contos tradicionais de base oral que narra a trajetória mítica das divindades e ancestrais, rememorada através dos ritos, da dança, dos alimentos e da indumentária, seja no Brasil, em Cuba e na África Ocidental, através do Candomblé e suas nações, da Umbanda, da Santeria. Tal herança também está presente na pintura de Carybé, nos tecidos de Alberto Pitta ou na música de Maria Bethânia, representando na arte a herança afro-brasileira, fundamental na formação da nossa identidade coletiva.

Contos dos Orixás também é uma das primeiras HQs, no Brasil, a ter trechos no idioma Yorubá, com um glossário trazendo a grafia de termos, locais e personagens, aproximando o leitor de uma língua falada por 50 milhões de pessoas no continente africano e no mundo. Lembrando que esta edição da obra também tem uma versão internacional, publicada pela editora Abram Books, nos EUA.

Hoje, as artes e a HQ são utilizados nas salas de aula como instrumento de educação, estão no acervo de instituições como o Smithsonian National Museum of African American History and Culture, em Washington, EUA ganhou sua versão em inglês pela editora Abrams.

No entanto, o mais importante é o fato de o livro e as artes estarem presentes nas casas, terreiros e principalmente no coração do público, servindo ao seu maior propósito – ser instrumento de arte, reflexão e transformação de percepções sobre o grande legado das civilizações africanas e sua descendência na formação histórica, cultural e espiritual do povo brasileiro.

E agora a boa notícia é que este livro será lançado amanhã (26), aqui no Recife, como parte da programação do Projeto PEBA (conexão artística dos dois estados: Pernambuco e Bahia). O lançamento será a partir das 18h, no auditório da Caixa Cultural, onde haverá uma roda de conversa sobre Quadrinhos e Negritude no Brasil entre o autor baiano Hugo Canuto e o escritor pernambucano Eron Villar. Logo depois, haverá os autógrafos da Obra “Contos dos Orixás - O Rei do Fogo”.