MANIFESTAÇÃO
Agricultores protestam em frente ao Parlamento Europeu contra acordo com o Mercosul
Manifestantes temem a invasão dos mercados por produtos mais baratos e com regras menos restritivas, inclusive ambientais, na produção
Por: Isabel Alvarez
Publicado em: 26/11/2024 13:59 | Atualizado em: 26/11/2024 14:16
Foto: Emmanuel Dunand/AFP |
Os agricultores franceses protestam próximo ao Parlamento Europeu contra uma possível ratificação com o Mercosul, o acordo comercial de livre comércio entre a União Europeia e países sul-americanos do bloco, entre eles o Brasil, temendo a invasão dos mercados de produtos mais baratos e com regras menos restritivas, inclusive ambientais, na produção.
As forças da polícia francesa fizeram uma barragem humana para evitar algum confronto e para a manifestação não se aproximar mais do prédio do parlamento, onde se realiza uma sessão.
O setor agrícola da França e opositores do governo acusam o presidente Emmanuel Macron de sobretaxar a agricultura e de legislar com medidas mais duras do que as aprovadas e sancionadas pela União Europeia (UE).
Devido à pressão dos agricultores, o gigante do varejo Carrefour também se comprometeu a não comercializar mais nenhuma carne do Mercosul e, além disso, o CEO global do grupo, Alexandre Bompard, criticou a carne brasileira . As declarações e a ação desencadearam um boicote de grandes frigoríficos às filiais do Carrefour no país e o governo do Brasil ainda exigiu uma retratação da empresa. Nesta terça-feira (26), o Carrefour divulgou uma carta, na qual reconhece a grande qualidade da carne brasileira.
Já o sindicato agrícola francês (FNSEA) pediu aos restaurantes para também suspenderem a venda de carne do Mercosul.
Enquanto isso foi convocado hoje um encontro na Assembleia dos Deputados da França, majoritariamente contra o tratado, que debaterá o texto do acordo que vem sendo negociado há mais de 20 anos e defendido pela Comissão Europeia. A reunião será liderada pelo primeiro-ministro Michel Barnier, e os parlamentares ainda irão realizar um voto simbólico sobre o documento do compromisso. Independente do resultado da votação, que não possui poder direto na aprovação do acordo, leva uma mensagem expressiva sobre o posicionamento da França à Comissão Europeia e reforça que o país não é o único a protestar contra o tratado, uma vez que é contestado ainda na Itália, Bélgica, Áustria, Holanda e Polônia.
Questões positivas e negativas para França
O jornal francês Libération destaca na sua manchete: "Mercosul: por que a França diz não”. Na reportagem aponta os pontos positivos e negativos do compromisso no centro da crise agrícola do país. Para a mídia, a pecuária francesa é a grande perdedora do acordo. Se aprovado, ele permitirá a entrada de 99 mil toneladas de carne e os criadores de gado da França não terão nenhuma chance de concorrer. “A produção de carne na França está em declínio há muitos anos, devido ao aumento nos preços resultantes das diversas normas europeias e aos hábitos alimentares da população, que consome cada vez menos produtos de origem animal. Por outro lado, o Brasil e a Argentina, que são isentos das rígidas regras antiagrotóxicos que encarecem a produção francesa, estão no topo do ranking da criação intensiva a baixo custo”, relata o jornal.
Entretanto o Libération ressalta que o acordo também vai impulsionar o setor automobilístico, porque o tratado prevê a supressão das taxas aduaneiras para todos os veículos europeus novos que entrarem no bloco da América do Sul. A previsão é que as exportações de carros registrem um crescimento entre 95% a 114%.