Operação Integration
Em primeira mão: veja o que Gusttavo Lima falou em depoimento à Polícia Civil
Em depoimento na Operação Integration, obtido pelo Diario, cantor negou ter relação íntima com investigados e disse que suspendeu contrato de propaganda com a Vai de Bet
Por: Felipe Resk
Por: Mareu Araújo
Por: Mareu Araújo
Publicado em: 24/09/2024 20:21 | Atualizado em: 24/09/2024 22:45
Divulgação |
Em depoimento à Polícia Civil, o cantor e compositor Gusttavo Lima, de 35 anos, negou ter uma relação íntima com outros acusados de lavagem de dinheiro, afirmou que suspendeu o contrato com a casa de apostas Vai de Bet, da qual era garoto propaganda, e apresentou a sua versão sobre a venda de aeronaves que o colocaram na mira da Operação Integration.
O cantor é alvo da mesma investigação policial que resultou na prisão da influenciadora Deolane Bezerra, da mãe dela e de empresários ligados a empresas de apostas. Ao todo, a Polícia Civil indiciou 22 pessoas em um suposto esquema que lavou bilhões de reais do jogo do bicho e de outras atividades ilegais. Os acusados alegam inocência.
O Diario de Pernambuco teve acesso, em primeira mão, aos esclarecimentos prestados por Gusttavo Lima no inquérito. No dia 11 de setembro, o cantor respondeu a 11 perguntas, por meio de carta precatória, e acabou incluído entre os suspeitos de integrar a organização criminosa.
Entre as questões, os investigadores queriam saber qual era a relação de Gusttavo Lima com o casal José André da Rocha Neto e Aislla Sabrina Truta Henriques Rocha, donos da Vai de Bet, também indiciados na operação. Questionaram, ainda, o envolvimento do cantor com Darwin Henrique da Silva Filho, o CEO da Esportes da Sorte, empresa apontada como centro do esquema.
O artista chegou a ter a prisão preventiva decretada pela juíza Andrea Calado da Cruz, da 12ª Vara Criminal da Capital, do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), na segunda-feira (23), que entendeu já haver indícios suficientes para ligá-lo à ocultação de bens ilícitos. No dia seguinte, no entanto, a ordem foi derrubada pelo desembargador Eduardo Guilliod Maranhão, da 4ª Câmara Criminal, da Corte pernambucana, que discordou da magistrada de primeiro grau.
Vai de Bet
Instruído por advogado, Gusttavo Lima disse à polícia que conheceu José André no São João de Campina Grande, na Paraíba, onde o artista se apresentou no dia 19 de junho de 2022. Após o show, o dono da Vai de Bet teria entrado em contato com a equipe dele para “celebrar um contrato de uso de imagem e de voz do cantor”.
O acordo para ele se tornar garoto propaganda da casa de apostas foi celebrado três dias depois. Sobre os contratos com a Vai de Bet, o cantor relatou que os valores eram “pagos com total correção com relação ao seu valor e objeto”, dentro da formalidade, com emissão de notas fiscais. “Portanto, não houve qualquer dissimulação ou ocultação em tal negócio jurídico”, registra o depoimento.
Gusttavo Lima alegou, ainda, que a casa de apostas não era alvo de nenhum inquérito policial na época da assinatura do acordo. O contrato seria renovado em fevereiro de 2023.
Em julho de 2024, a Polícia Civil afirma que Gusttavo Lima adquiriu uma participação de 25% na Vai de Bet. Na véspera da Operação Integration, deflagrada em 4 de setembro, o cantor também convidou José André e Aislla para comemorar seu aniversário, em um iate de luxo, na Grécia. Alvos de mandado de prisão, os donos da Vai de Bet permaneceram fora do País.
Apesar do episódio, o cantor declarou à polícia que “não possui relação de intimidade” com o casal – mas sim uma “relação profissional” que “ocasiona momentos de convivência”. Também disse que desfez o acordo de propagandas com a empresa.
“Sublinhe-se que, após a deflagração da Operação Integration, o referido contrato foi imediatamente suspenso, conforme notificação que foi enviada à PIX 365 (Vai de Bet)”, diz o documento. Essa medida seria válida até que “Gusttavo Lima possa ter certeza de que a parte contratante não cometeu nenhuma irregularidade”, segundo o depoimento.
Suposta lavagem
Gusttavo Lima é sócio administrador da Balada Eventos, que atua no ramo de produção de shows e gerencia a carreira dele. Aos investigadores, o cantor disse que a empresa tem mais de 50 funcionários e possui aviões, helicópteros, ônibus e carros para transportar os músicos e toda a equipe técnica para os eventos.
Sob suspeita de usar a empresa para lavar dinheiro em transações cruzadas com outros investigados, a Justiça determinou o bloqueio de R$ 20 milhões da Balada Eventos e de R$ 2 milhões das contas de Gusttavo Lima. No depoimento, ele alega que todos os bens da empresa foram comprados “com dinheiro de seu próprio caixa, dinheiro lícito, oriundo de sua atividade empresarial".
Uma das negociações contestadas pelos policiais envolve um jatinho Cessna Citation Excel 560XLS, matrícula PR-TEN. Em maio de 2023, a aeronave foi vendida por U$ 6 milhões (R$ 32,7 milhões) para a Esportes da Sorte, ligada a Darwin Henrique da Silva Filho. O dinheiro do negócio, no entanto, teria retornado para a casa de apostas.
Segundo Gusttavo Lima alega, Darwin Filho concordou em comprar o jatinho a prestação. A primeira parcela, de R$ 4.947.500, teria sido paga no ato de assinatura. Já a segunda, de R$ 4.819.200, foi executada em julho de 2023.
Uma inspeção, feita posteriormente na aeronave, teria identificado “uma corrosão do motor causada pela ingestão de objeto estranho pela turbina”, de acordo com o cantor. Por esse motivo, o negócio teria sido cancelado e os valores que já haviam sido pagos foram devolvidos, em uma parcela única, à Esportes da Sorte.
Transações suspeitas
A investigação descobriu que esse mesmo jatinho, de matrícula PR-TEN, foi novamente negociado em fevereiro de 2024. Dessa vez, a aeronave foi alienada, pelo valor de R$ 33 milhões, para uma empresa do grupo Vai de Bet, mas permaneceu registrada como sendo da Balada Eventos.
Em depoimento, Gusttavo Lima alegou que o negócio, na verdade, teria começado com a tentativa de vender um helicóptero Eurocopter (Airbus) EC130 B4, de matrícula PT-SBH. Pela aeronave, os donos da Vai de Bet teriam concordado em pagar R$ 12,85 milhões, em parcelas.
A venda do helicóptero, no entanto, teria sido desfeita após José André dizer que precisava de “uma aeronave maior". Na ocasião, o empresário já teria pago R$ 7,7 milhões pelo helicóptero e esse valor foi abatido na venda do jatinho PR-TEN, de acordo com o cantor.
O artista disse, ainda, que o acordo previa só transferir a propriedade do jatinho quando os pagamentos fossem quitados – motivo pelo qual a empresa compradora teria sido mantida apenas como “operadora” do bem.
“A JMJ Participações não buscava ocultar a propriedade da aeronave que, tão logo recebeu a transferência da propriedade do avião, ela deu entrada na Anac para que fosse publicamente registrado que ela era a dona do avião", alegou.
Viagem de graça
Questionado, Gusttavo Lima admitiu que sabia que o casal fazia uso do avião privado, mesmo que ele pertencesse formalmente à sua empresa. Segundo relatou, como constava como proprietária, a Balada Eventos chegou a ser notificada, em julho de 2024, após José André e Aislla viajarem para Orlando, nos Estados Unidos, onde o jatinho apresentou problemas e precisou ser submetido a procedimento de manutenção.
Na ocasião, Gusttavo Lima diz ter cedido um jatinho PS-GSG, que também é propriedade do cantor, para que o casal saísse dos Estados Unidos. “Como a aeronave PS-GSG já estava em solo americano, e tendo em vista que o avião que a Balada Eventos havia vendido teve o mencionado problema técnico, foi feita a cessão não onerosa do uso da aeronave por uma única vez ao casal”, relatou.
Segundo a investigação, foi a bordo dessa mesma aeronave PS-GSG que Gusttavo Lima, José André e Aislla desembarcaram juntos, na Grécia, para celebrar o aniversário do artista.