Eleições

Quem apoia quem: padrinhos famosos somem da Eleição do Recife

Juntos em um evento pela cidade, no período de campanha, os candidatos e seus padrinhos não foram vistos

Publicado em: 30/09/2024 05:05 | Atualizado em: 30/09/2024 05:04

 (Fotos: Rafael Vieira /DP Foto, Marina Torres/DP Foto, Francisco Silva/DP Foto)
Fotos: Rafael Vieira /DP Foto, Marina Torres/DP Foto, Francisco Silva/DP Foto
Faltam seis dias para as Eleições Municipais de 2024, e o retrato da campanha dos candidatos a prefeito do Recife foi a ausência de padrinhos políticos. Os eleitores não viram João Campos (PSB) ao lado de Lula (PT), mal viram Raquel Lyra (PSDB) com Daniel Coelho (PSD) e, embora Jair Bolsonaro (PL) tenha aparecido nos guias eleitorais de Gilson Machado (PL) na televisão, não estiveram juntos em um evento pela cidade no período de campanha.
 
Para a cientista política Priscila Lapa, a ausência dos padrinhos se deve ao fato de que esta é uma eleição em que um dos candidatos possui uma alta taxa de aprovação. "No Recife, João construiu antecipadamente uma candidatura muito competitiva, não só do ponto de vista da comunicação política com os eleitores, mas também em relação ao apoio dos partidos. Talvez isso tenha esfriado um pouco a competição, a ponto de se questionar: qual diferença faria Bolsonaro ser usado nas peças de campanha? Em uma corrida tão desequilibrada, qual seria o impacto da vinda do ex-presidente?", pondera.

O cientista político José Nivaldo também destaca que, em eleições municipais, os padrinhos não têm o mesmo peso decisivo que nas eleições federais, onde se elegem governadores, deputados, senadores e o presidente.

"Não dá para comparar uma eleição federal com uma municipal. Nas eleições federais, as referências são não só importantes, mas necessárias para que os eleitores formem suas opiniões. Por isso, a presença dos padrinhos é essencial, pois fortalece a visão política do candidato", explica Nivaldo.

Essa diferença ocorre porque, nas eleições municipais, os temas são mais locais do que as pautas de caráter nacional. "Por mais que exista essa influência macro do cenário nacional, por questões partidárias, o que predomina na escolha do eleitor é a avaliação da administração local. Não é à toa que as pesquisas de opinião sempre trazem esse dado: até que ponto o gestor é bem ou mal avaliado? As pessoas costumam votar em quem fez uma boa gestão, acreditando que mereça uma continuidade", complementa Priscila Lapa.

Com isso, “as pesquisas de opinião mostram que a força dos padrinhos em uma eleição municipal é limitada. Eles dificilmente têm um efeito decisivo, exceto quando o prefeito está indicando seu sucessor, caso em que se tornam padrinhos fortes", aponta o cientista político José Nivaldo.

Um exemplo disso foi a campanha de Gilson Machado em 2022. Na época, o candidato estava, de fato, ao lado de Jair Bolsonaro e disputava uma vaga no Senado Federal, cargo mais diretamente vinculado ao que o ex-presidente buscava. Gilson terminou o pleito com 323.769 votos na capital pernambucana, pouco mais de 38 mil votos atrás da senadora eleita Teresa Leitão (PT).

Já em 2024, sem um apoio intenso de Bolsonaro, por ser uma eleição de caráter municipal e não nacional, as pesquisas de intenção de voto apontam Gilson com 9%.

Padrinhos no Recife

Antes do dia 16 de agosto, data oficial do início das campanhas políticas, Gilson Machado (PL) recebeu o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Aeroporto Internacional do Recife/Guararapes - Gilberto Freyre. Naquele fim de semana, o Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE) alertou o candidato sobre a possibilidade de ser multado, caso realizasse campanha fora do período permitido.

Por conta disso, Gilson não participou da carreata no mesmo carro que Bolsonaro e não se pronunciou no Clube Português, onde houve uma série de discursos sobre a política pernambucana. Desde então, Bolsonaro não voltou ao Estado, mas aparece nos guias eleitorais na TV e no rádio, afirmando que Gilson é seu candidato na capital.

Daniel Coelho (PSD) é o candidato apoiado por Raquel Lyra (PSDB) na capital. Entretanto, a governadora não aparece nas peças publicitárias de Coelho e foi vista apenas três vezes com o candidato. A primeira aparição ocorreu durante a convenção partidária, na qual declarou: "Não dá para fingir que a situação do Recife está bem. Recife pode prosperar, ser a melhor capital do Brasil. Por isso, estou aqui na convenção para homologar a candidatura de Daniel, para que ele empreste sua energia e capacidade de trabalho para transformar a cidade”. Priscila Krause, vice-governadora, participou de caminhadas e carreatas com Coelho.

“Essa falta de crescimento de Daniel nas pesquisas já era esperada. A aposta de Daniel Coelho à prefeitura do Recife, creio eu, foi mais no sentido de demarcar território, para que não se diga que 'não é possível que a governadora não tenha um candidato na capital apoiado por ela'. Isso seria um vazio político muito simbólico”, analisa a cientista política Priscila Lapa.

Raquel Lyra tem concentrado seus esforços no Agreste do Estado, especialmente em Caruaru, onde o atual prefeito Rodrigo Pinheiro (PSDB), vice-prefeito durante sua gestão no município, é candidato e enfrenta uma disputa acirrada com Zé Queiroz (PDT), apoiado por João Campos.

Priscila avalia que Raquel Lyra “não pode se dar ao luxo de, já sabendo que não tem um candidato competitivo na capital, sofrer uma derrota no seu principal reduto. Isso complicaria sua reeleição, não só pelos números — afinal, Caruaru tem muitos eleitores —, mas também pela derrota simbólica”.

João Campos virou um padrinho?

João Campos, candidato à reeleição à prefeitura da capital, tem uma larga vantagem. Na última pesquisa DataFolha, o prefeito lidera com 76% das intenções de voto. Durante a campanha, João pouco usou a imagem de Lula e raramente citou o nome do presidente.

No entanto, Campos recebeu o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovações, Luciana Santos (PCdoB), o ministro do Turismo, Celso Sabino (União Brasil), e o senador Humberto Costa (PT) em atos de apoio.

Desde o início da campanha, João Campos também esteve em várias cidades de Pernambuco, como Paulista, Petrolina, Cabo de Santo Agostinho, Caruaru, Jaboatão dos Guararapes, Surubim e Afogados da Ingazeira, apoiando candidatos a prefeito.

A cientista política Priscila Lapa acredita que João já possui “cacife suficiente para se creditar como um padrinho político”.
 
“Consolidando sua vitória no primeiro turno, João Campos se tornará um padrinho fundamental nas disputas de segundo turno em cidades importantes, como Olinda, Paulista, Caruaru e Jaboatão. Pode ser que o apoio de João seja até mais decisivo que o do próprio Lula, especialmente em candidaturas do PT”, avalia.

José Nivaldo, no entanto, discorda. “João Campos é uma referência, sim, mas sua presença nos palanques não é decisiva em eleições no interior. Nas decisões locais, os fatores locais têm maior peso”, conclui.