Feminicídio
PM tentou envenenar ex e usou arma emprestada por colega para matá-la em Jaboatão, diz MPPE
O policial militar João Gabriel Tenório Ferreira está preso preventivamente pelo feminicídio de Maria Clara, que estava grávida dele
Por: Felipe Resk
Publicado em: 30/09/2024 17:31
Maria Clara estava grávida e foi morta a tiros perto de casa, em Jaboatão, no Grande Recife (Reprodução/Instagram) |
O policial militar João Gabriel Tenório Ferreira, conhecido como Padre, de 25 anos, é acusado de misturar “chumbinho” em um pote de açaí para tentar matar a ex-namorada envenenada, dias antes de assassiná-la a tiros em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. Ele é réu por feminicídio.
A vítima, Maria Clara Adolfo de Souza, de 21, estava grávida do PM e se recusava a fazer aborto. Ela foi morta perto de casa, na Rua Belo Jardim, no bairro Socorro, na noite de 24 de julho de 2024.
O Diario de Pernambuco teve acesso à denúncia oferecida pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE), na quinta-feira (26) contra João Gabriel e Eduardo Oliveira da Silva, o Toupeira, de 22, que é apontado como comparsa no feminicídio.
O documento revela, ainda, que a arma usada para matar Maria Clara foi emprestada por outra policial. Para a acusação, o assassinato foi cometido por motivo fútil, sem chance de defesa da vítima e por razões de gênero.
Açaí envenenado
Segundo a denúncia, Maria Clara mantinha um “relacionamento amoroso conturbado” com o policial, que era noivo de outra mulher. Ao saber da gravidez, João Gabriel teria insistido para que ela realizasse o aborto e se oferecido para pagar o procedimento.
Com a justificativa de que os dois precisavam conversar, em junho, o PM foi até a casa de Maria Clara e levou um pote de açaí. Em seguida, ele teria pedido água à vítima e aproveitou o momento para misturar o veneno na comida, de acordo com a acusação.
“Ao retornar, Maria Clara entregou um copo com água ao denunciado João Gabriel e continuou a comer, mas rapidamente sentiu um gosto estranho no produto e cuspiu no chão”, diz o MPPE.
Neste momento, o policial teria dito que “não havia nada no açaí” e decidiu levar o pote embora. Uma perícia, no entanto, apontou presença de terbufós, veneno mais conhecido como “chumbinho”, na colher que Maria Clara guardou.
Para a promotoria, a tentativa frustrada de matá-la fez com que o PM planejasse um novo ataque no mês seguinte – desta vez com a participação de Toupeira.
Arma emprestada
Segundo o MPPE, no dia da execução, João Gabriel pegou emprestada uma pistola, calibre 9 milímetros, que pertence à também policial militar Emanuely Theksandy Silva. À colega, o réu teria alegado que “queria praticar disparos em um estande de tiro” com aquele modelo.
O PM, de fato, foi até um estande, comprou munições 9 mm e praticou tiros com a arma, de acordo com a denúncia. Em seguida, ele teria entrado em contato com Maria Clara para dizer que deixaria um dinheiro com ela – uma estratégia para “tirá-la de casa”, segundo a promotoria.
Toupeira teria passado para buscar João Gabriel de moto, uma Honda CG 160 Start, e levá-lo até a casa da vítima. Segundo a acusação, o policial usou a arma emprestada para apertar o gatilho diversas vezes contra a ex, que foi atingida na cabeça, no pescoço, nos ombros e nas costas.
O PM é acusado, ainda, de levar o celular da vítima após o crime. Nas horas seguintes, o agente ainda teria devolvido a arma da colega e ido visitar a noiva em Campo Grande, na Zona Norte do Recife.
João Gabriel está preso preventivamente no Centro de Reeducação da PM (Creed), em Abreu e Lima, no Grande Recife. Em depoimento, ele optou por ficar em silêncio.