MONITORAMENTO
Imagens digitais são utilizadas para monitoramento de contaminação da água no Rio Capibaribe
Alguns testes para detecção e quantificação de poluidores já foram realizados no sistema estuarino do Rio Capibaribe
Por: Diario de Pernambuco
Publicado em: 19/08/2024 16:20
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A presença de grandes quantidades de surfactantes em ambientes como rios e estuários dá origem a problemas ambientais por alterar os níveis de oxigênio da água (Foto: Divulgação/UFPE) |
O uso de imagens digitais para monitoramento de contaminação da água é um tema ao qual a mestranda Helayne Santos tem se dedicado no Programa de Pós-Graduação em Química (PPGQUÍMICA) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Como parte disso, a pesquisadora trabalha para desenvolver um método que agilize e barateie o processo de identificação da presença de poluentes na água: com um smartphone e o aplicativo, uma pessoa pode fazer a análise no próprio local da coleta e obter informações sobre o nível de poluição em tempo real.
Alguns testes para detecção e quantificação de surfactantes já foram realizados no Sistema Estuarino do Rio Capibaribe.
Os surfactantes são substâncias capazes de diminuir a tensão superficial da água e de outros líquidos.
Essa característica é aproveitada em cosméticos e detergentes, por exemplo, para promover a ação de limpeza.
Porém, a presença de grandes quantidades de surfactantes em ambientes como rios e estuários dá origem a problemas ambientais por alterar os níveis de oxigênio da água, provocando a morte de várias espécies e riscos à saúde humana como o desenvolvimento de dermatites. Por isso, eles podem ser considerados importantes marcadores da poluição urbana.
Os pesquisadores têm buscado meios para detectar poluentes como esses, considerando que a rapidez no processo é fundamental para que ações sejam tomadas antes que a contaminação se espalhe e alcance níveis críticos.
Entre as alternativas disponíveis para órgãos de controle ambiental e vigilância sanitária está o método baseado em imagem digital (DIB, do inglês digital image-based), semente da proposta desenvolvida por Helayne Santos com a professora do Departamento de Oceanografia da UFPE Eliete Zanardi Lamardo e o professor do Departamento de Química da Universidade Federal de Viçosa (UFV) Willian Toito Suarez.
Conhecido por sua eficiência e praticidade, o Método DIB tem como uma de suas principais vantagens o fato de que pode ser utilizado fora dos laboratórios.
“A realização de análises em campo é crucial, pois permite detecção precoce da contaminação”, inicia Helayne.
Ela também destaca que o Método DIB/smartphone permite diminuir gastos com equipamentos e reduzir o volume de resíduos descartados, pois utiliza uma quantidade menor de reagentes e solventes do que o método de referência (espectrofotometria UV-Vis).
Helayne afirma que a novidade do estudo está na utilização do Método DIB para medir a presença de um marcador molecular de contaminação por esgoto – sendo o marcador, neste caso, o surfactante chamado Linear Alquilbenzeno Sulfonato (LAS).
Para colocar a proposta em prática, foram realizadas coletas em quatro pontos do Sistema Estuarino do Rio Capibaribe – um perto do Parque dos Manguezais, dois no estuário do Pina e outro no Porto do Recife.
A escolha dos locais foi baseada em um estudo realizado anteriormente na área pela professora Eliete e pela pós-doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Oceanografia (PPGO) Roxanny Arruda Santos, que avaliaram os compostos indicadores de esgotos domésticos LABs em sedimentos ao longo do estuário do Capibaribe.
Após a fase de coletas, as amostras de água foram depositadas em uma placa de toque (como são chamadas as peças em porcelana com cavidades utilizadas para fazer reações químicas), que por sua vez foi colocada dentro de uma caixa escura para ser fotografada com o smartphone.
Esse isolamento é feito com o intuito de evitar que mudanças na luz natural e sombras interferiram na imagem gerada para análise.
O processo é descrito no artigo “A novel in situ method for linear alkylbenzene sulfonate quantification in environmental samples using a digital image-based method”, publicado na revista Analytical Methods, da Royal Society of Chemistry.
O texto também traz informações sobre a presença de LAS nas águas do Rio Capibaribe e do Pina.
“Os resultados das análises realizadas no Sistema Estuarino Capibaribe apontaram claras evidências de poluição, pois as concentrações de LAS ficaram acima dos limites legalmente estabelecidos pelas autoridades reguladoras do Brasil e dos EUA (0,2 mg L-1). Os achados deste estudo destacam a necessidade de implementação de políticas públicas que visem melhorar a capacidade de tratamento de efluentes domésticos, a fim de reduzir a contaminação dos ambientes aquáticos”, relata o texto.
No artigo, detalha-se que a amostra 4 foi recolhida na região do Porto do Recife e que a maior concentração de LAS provavelmente está relacionada aos produtos utilizados para lavar os navios.
As amostras 2 e 3, coletadas em áreas perto de onde havia lançamento de esgoto, apresentaram maior concentração de LAS do que a amostra 1, colhida na região do Parque dos Manguezais.
O trabalho publicado pela Analytical Methods foi elaborado em coautoria com outros pesquisadores da UFPE e da UFV.
Da UFPE, participam o professor do Departamento de Química Fundamental Vagner Bezerra dos Santos, a doutoranda do PPGQUÍMICA Renata Almeida Farias, a professora do Departamento de Oceanografia Eliete Zanardi Lamardo e a pós-doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Oceanografia (PPGO) Roxanny Arruda Santos – Vagner e Eliete são o orientador e a coorientadora de Helayne.
Da UFV, participam o professor do Departamento de Química Willian Toito Suarez e a doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Agroquímica Josiane Lopes de Oliveira.