CINEMA

Marcélia Cartaxo relembra gravações do clássico 'A Hora da Estrela'

Filme dirigido por Suzana Amaral e adaptado da obra de Clarice Lispector já está de volta em cartaz nos cinemas em versão digitalizada

Publicado em: 17/05/2024 06:00

 (Vitrine/Divulgação)
Vitrine/Divulgação

“Sou datilógrafa, virgem e gosto de Coca-Cola”. É através dessa autodescrição que o público reconhece uma das mais marcantes personagens do cinema nacional. Macabéa, a protagonista do clássico A hora da estrela, transcendeu as páginas do livro homônimo igualmente antológico de Clarice Lispector e ganhou as telas pela adaptação comandada por Suzana Amaral, então estreante em longa-metragem, e lançada em 1985. Marcélia Cartaxo venceu o Urso de Prata de melhor atriz no Festival de Berlim por seu trabalho icônico no papel da alagoana que vai morar em São Paulo, começa a trabalhar com datilografia, se apaixona e começa a sonhar em se tornar uma artista.

 

Agora em versão restaurada pelo projeto Sessão Vitrine Petrobras, A hora da estrela está de volta aos cinemas e continua intacto em sua sensibilidade, poesia e senso de humor – além da memorável participação de Fernanda Montenegro amarrando a saga de Macabéa.

 

Passadas quatro décadas de sua grande estreia nos cinemas, Marcélia conversa com o Viver sobre a experiência da produção do filme e como sua carreira, então com 19 para 20 anos, se transformou completamente desde então.

 

Confira a entrevista completa: 

 

Na época da produção do filme, passava pela cabeça de vocês a dimensão que ele ganharia com o passar do tempo?

“Nunca. Não tínhamos nem ideia. Eu mesma tinha vindo do teatro, estava prestando vestibular na mesma época, inclusive, e nunca tinha me imaginado fazendo cinema. Quando cheguei em São Paulo para as gravações, descobri todo um mundo novo também, e tudo muito corrido. Mas mesmo que a gente não tivesse essa noção, Suzana Amaral sabia muito bem o que estava fazendo e tinha muito rigor e exigência com a gente em tudo. Ela também estava no primeiro longa e  queria aplicar tudo o que havia aprendido nesse trabalho e nessa personagem, e eu tive a boa sorte de estar nas mãos dela”.

 

Como foi o preparo para encontrar a Macabéa que existia dentro de você?

 

“Suzana tinha muito medo de que eu me perdesse no caminho do processo de interpretação dessa personagem, ainda mais numa cidade com o ritmo de São Paulo. Lembro que quando começamos a filmar ela já me botou de frente para a parede, sem deixar ninguém chegar perto para falar de qualquer coisa que não fosse do filme. Fiquei as quatro semanas de gravação no quarto da produtora, não fui para hotel ou andei de avião, nada. Ela preservou tudo isso para que eu vivenciasse essa personagem do jeito mais natural possível”.

 

Quais são as principais semelhanças e diferenças entre a Marcélia daquela época e a Macabéa?

 

“Tínhamos muita coisa em comum. Eu também vinha de uma cidade do interior, carregava todas as questões sociais que a imagem da nordestina traz. Assim como a Macabéa, eu também ouvia muito das pessoas como aquela cidade grande era um lugar de realizar sonhos, trabalhar melhor. Enquanto ela foi com a tia para São Paulo e, depois que a tia morreu, ficou sozinha, eu já cheguei sozinha e fui me adaptando com a experiência que tinha do teatro”.

 

Como foi a sua transição do teatro para o cinema? Revendo o filme hoje, o que mais te interessa na forma como foi adaptado da literatura para a tela?

 

“Eu realmente não tinha essa relação com a câmera, que é bem diferente da construção de um personagem no palco. O jeito de falar, de se mover, de entender de onde vem aquela pessoa, tudo é muito diferente. E o próprio tempo das gravações e a maneira que a gente trabalhava eram uma coisa muito nova pra mim, que vinha de uma rotina em que as coisas aconteciam mais devagar. Recebi o roteiro uma semana antes de começar o filme, mas li o livro várias vezes e foi muito interessante nas filmagens poder me aproximar mais da parte que realmente gostava na obra, que é toda a rotina da Macabéa, passeando, no trabalho, no metrô. No livro a gente acompanha isso pela narração, mas no cinema ela ganhou uma vida. A hora da estrela deu esse protagonismo a ela”.

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