Violência sexual
Caso Rodrigo Carvalheira: empresário aproveitou relações de amizade para praticar crimes sexuais contra 5 mulheres
Polícia Civil encerrou investigações, por enquanto, com três indiciamentos por estupro de vulnerável e dois inquéritos marcados pela prescrição
Por: Wilson Maranhão
Publicado em: 31/05/2024 15:01 | Atualizado em: 31/05/2024 18:02
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Rodrigo Carvalheira foi alvo de investigações (Foto: Arquivo) |
A Polícia Civil pernambucana encerrou o caso Rodrigo Carvalheira.
Nesta sexta-feira (31), a corporação detalhou o estágio dos cinco inquéritos que investigaram o empresário, de 34 anos, por envolvimento em crimes sexuais contra mulheres.
Em três casos, ele foi indiciado por estupro de vulnerável.
Os outros dois prescreveram. Ou seja, o Estado não tem mais como executar a punição contra o empresário.
Em todos , no entanto, a Polícia Civil encontrou um ponto em comum: Carvalheira aproveitou relações de amizade para poder estuprar as vítimas.
Além disso, em todos os episódios, segundo a polícia, as vítimas estavam sob efeito de álcool ou em estado de sonolência.
A corporação também afirmou que duas das cinco mulheres abusadas pelo empresário eram adolescentes na época em que os estupros aconteceram.
Uma delas sofreu a violência sexual no dia do próprio aniversário de 16 anos, em 2009.
A outra também tinha 16 anos na época em que foi estuprada, em 2005.
Esses dois são justamente os casos que prescreveram.
Dessas duas vítimas, uma delas foi estuprada quando estava em estado de embriaguez e outra quando estava sob o efeito parcial de embriaguez, segundo a polícia.
Entrevista coletiva
As informações foram repassadas durante coletiva, nesta sexta, na sede operacional da Polícia Civil, no bairro da Boa Vista, na área Central do Recife.
A coletiva aconteceu um dia após a corporação anunciar a conclusão de dois inquéritos.
Eles foram enviados ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE), na quarta-feira (29).
As delegadas responsáveis pelos cinco inquéritos, Larissa Azedo e Jéssica Ramos, detalharam como o empresário agia.
“A conduta do investigado revelou o mesmo método de ação. Foram feitas várias diligências, algumas sigilosas. A gente constatou que existiam elementos suficientes para fazer o indiciamento. A gente identificava o estado de vulnerabilidade das vítimas e o elo de confiança que o investigado tinha com elas. O que torna elas mais vulneráveis ainda, pela relação de confiança e retirada de vigilância. Eram relação de amizade prévia. Outras mulheres que também eram consideradas amigas do investigado perceberam que passaram pela mesma coisa. Essas vítimas levavam um bom tempo para perceber que tinham sido vítimas de um crime”, disse a delegada Jéssica Ramos, titular da 1ª Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM).
A delegada Jéssica Ramos deu detalhes sobre o modus operandi em que o suspeito agia para praticar os crimes (Foto: Marina Torres/DP ) |
“Esses fatos são bem diferentes dos casos de estupro que estamos acostumados a ver. Aqui, a gente trata de uma relação de grupo de amigos, em que a vítima não espera ser abordada de alguma maneira indesejada que está ali convivendo com você. Aquele pessoal que faz parte do grupo de amigos se surpreende com atitudes de violência sexual. Ficaram evidenciadas tentativas de relações sexuais, quando as vítimas estavam em estado de sonolência ou embriagadas, pelo uso de álcool. Então, esse estado em que a pessoa se encontra em sonolência ou embriaguez acaba a tornando vulnerável. Ela não consegue optar, de fato, e saber o que quer ou não quer deixar acontecer. Algumas vítimas nem se lembram como deixam acontecer as situações. Então, o ponto-chave é que havia sempre essa relação de amizade e confiança. Algumas vítimas tiveram somente a coragem de denunciar anos depois, o que não significa que o crime não deixou de acontecer”, enfatizou a investigadora.
A delegada Larissa Azedo informou que, no momento, a polícia não pretende solicitar um novo pedido de mandado de prisão contra Rodrigo Carvalheira, por entender que as medidas cautelares impostas ao acusado são suficientes para proteger as vítimas.
"Vai ocorrer (prisão) se houver necessidade. Neste momento entendemos que não tem o que pedir. Isso porque as medidas cautelares estão sendo suficientes, mas se forem descumpridas, vamos pedir mandado. A gente não descarta que haja novas vítimas”, destacou a investigadora, que também é lotada da 1ª DEAM.
A delegada Larissa Azedo deu detalhes sobre o caso (Foto: Marina Torres/DP ) |
O que diz a defesa de Rodrigo Carvalheira?
Por meio de nota, a defesa de Rodrigo Carvalheira, feita pelos advogados Wilibrando Albuquerque, Thiago Guimarães e Dyego Lima, disse que:
"Destacamos que todas as alegações apresentadas contra o Sr. RODRIGO não possuem fundamentação sólida. É imperioso ressaltar que as mesmas pessoas que agora o acusam mantiveram relações sociais contínuas com ele após os alegados e inexistentes crimes, fato que demonstra a ausência de veracidade das acusações".
Em outro trecho da nota, a defesa acrescenta que: "Acreditamos que as acusações contra o Sr. RODRIGO são infundadas e se configuram como uma tentativa clara de prejudicar sua reputação e integridade moral. O caso do Sr. RODRIGO DIB CARVALHEIRA, assim como a narrativa de Josef K. na obra 'O Processo' de Kafka, demonstra um abuso do sistema judicial, onde a falta de provas concretas e o uso desproporcional da lei são evidentes. Tal prática viola os princípios básicos de justiça defendidos por Aristóteles em 'Ética a Nicômaco'", finalizou a defesa.
Histórico
Além desses dois casos, o empresário já havia sido indiciado em três outros casos, todos por violência contra as mulheres.
No dia 17 de abril, um dia depois de o empresário deixar a cadeia, o Ministério Público ofereceu denúncia em um dos processos.
A Justiça aceitou essa denúncia e transformou Rodrigo Carvalheira em réu.
A polícia apurou que as vítimas eram amigas dele e disseram que foram abusadas em momentos de lazer.
Interceptação
As denúncias ganharam repercussão quando Rodrigo Carvalheira teve a prisão preventiva decretada pela Justiça.
Ele foi levado para o Cotel, em Abreu e Lima, e acabou sendo liberado com a obrigação de usar tornozeleira eletrônica.
A polícia prendeu o empresário por entender que ele poderia atrapalhar as investigações. Foi feita a interceptação de um telefonema entre ele e uma amiga, a delegada Natasha Dolci.
Eles tratavam de vários assuntos e falaram sobre o andamento dos inquéritos.
A delegada perguntou se Rodrigo conseguiu tirar o inquérito da Delegacia da Mulher de Santo Amaro.
Ele disse que ainda não havia mexido. Então. Dolci afirmou que ele estaria esperando muito.