Combate à fome
Combater a fome e incentivar a agricultura familiar: saiba quais são as engrenagens das Cozinhas Comunitárias
Pernambuco atualmente conta com 110 espaços como este que são peças-chave no combate à fome
Por: Adelmo Lucena
Publicado em: 13/04/2024 06:00 | Atualizado em: 12/04/2024 16:54
As atividades das Cozinhas Comunitárias vão além de assegurar uma refeição saudável para pessoas em vulnerabilidade (Foto: Divulgação/SAS) |
A hora do almoço se aproxima e é possível sentir o cheiro da refeição se espalhando pela cozinha à medida que as pessoas vão se aproximando. O espaço parece estar cada vez menor, mas na verdade é a quantidade de bocas que está aumentando. Esse é o dia a dia das Cozinhas Comunitárias, uma iniciativa que visa combater a fome e ainda gerar lucros para os agricultores locais.
Essas duas características formam os pilares das 110 Cozinhas Comunitárias distribuídas em todas as regiões do estado de Pernambuco. Os espaços são engrenagens importantes na máquina que visa promover a segurança alimentar e garantir mais dignidade para a população carente.
As atividades das Cozinhas Comunitárias vão além de assegurar uma refeição saudável para pessoas em vulnerabilidade e ainda realizam atividades de inclusão social produtiva, fortalecimento da ação coletiva e da identidade comunitária e ações de educação alimentar e nutricional.
Estes espaços são destinados para os municípios que possuem um número elevado de pessoas em situação de miséria ou pobreza. Estão na mira das Cozinhas Comunitárias grupos sociais vulneráveis à fome, a exemplo de trabalhadores de baixa renda, idosos, desempregados, pessoas LGBTQIA+, com deficiência, povos indígenas, povos de terreiros, povos quilombolas, pescadores artesanais, comunidades ribeirinhas, povos ciganos, catadores de material reciclável, vítimas de violências, entre outros.
Foto: Divulgação/SAS |
“Todos os municípios de Pernambuco estão aptos a implantar Cozinhas Comunitárias, tendo em vista que todos apresentam números significativos de insegurança alimentar e nutricional. Segundo dados do II Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar, publicado em 2023 pela Rede PENSSAN, mais de 2 milhões de pernambucanos e pernambucanas estão em situação de insegurança alimentar grave”, destaca Felipe Medeiros, secretário executivo de Combate à Fome da Secretaria de Assistência Social, Combate à Fome e Políticas sobre Drogas de Pernambuco (SAS).
Ainda de acordo com o secretário, as Cozinhas Comunitárias atendem, no mínimo, 200 pessoas em situação de vulnerabilidade social e insegurança alimentar e nutricional. Para garantir esse atendimento a quem mais necessita, todos os usuários devem ser formalmente encaminhados por unidades da Assistência Social do Município, como os CRAS (Centros de Referência em Assistência Social).
Em Pernambuco, 161 dos 184 municípios já aderiram ao programa e os que desejam fazer parte da iniciativa devem encaminhar ofício de manifestação de interesse à Secretaria Executiva de Combate à Fome.
Em julho de 2023, o Governo do Estado investiu ainda mais nas Cozinhas Comunitárias e instalou os equipamentos no interior de Pernambuco. Municípios como Santa Cruz da Baixa Verde, Mirandiba, Solidão e Tuparetama, no Sertão, foram contemplados com a iniciativa.
“A cidade está muito feliz com a inauguração da Cozinha Comunitária porque agora muitas pessoas sabem que vão ter pelo menos uma refeição garantida por dia. Também fiquei muito feliz que a cozinha veio para Vicência e agora vou poder ajudar essas pessoas mais necessitadas”, disse Lilia Gomes, uma das funcionárias do espaço.
Para alcançar a meta de implementar o serviço em mais municípios, foram investidos somente no ano passado R$ 29,5 milhões, um valor três vezes maior que em 2022. Até o fim de 2024, o objetivo do Governo do Estado é alcançar 205 cozinhas em funcionamento.
A iniciativa também é incentivada pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS). O apoio é feito por meio da publicação de editais de seleção pública ou indicação de emendas parlamentares.
Parceria com agricultores locais eleva importância das Cozinhas Comunitárias
A parceria assegura ao agricultor familiar a certeza de uma demanda fixa por parte da Cozinha Comunitária e promove a segurança de renda (Foto: Divulgação/Mapa) |
Enquanto a população se prepara para ter uma refeição digna nas Cozinhas Comunitárias, no outro lado da cidade agricultores locais colhem os alimentos que irão nutrir os mais necessitados. Esta é uma das principais características do projeto, que também fortalece a agricultura familiar.
Com a parceria, espera-se que parte dos recursos financeiros repassados às cozinhas sejam destinados ao fomento da agricultura familiar do próprio território, estimulando a economia local.
“Sou agricultora há dez anos e na minha plantação tem feijão, batata e inhame. Eu soube das Cozinhas Comunitárias quando fui à Secretaria de Agricultura. Eu me candidatei para oferecer meus produtos e fiquei feliz com isso porque agora vou ter uma renda certa todo mês. Quero que as pessoas que precisam da Cozinha Comunitária que continuem indo para se alimentar bem”, relatou a agricultora Maria do Carmo, de 56 anos.
De acordo com a Secretaria de Assistência Social, são investidos R$ 50 mil para adequação do imóvel e equipagem da unidade, além de R$ 20 mil mensais para insumos e manutenção. Este último valor é destinado ao fomento da agricultura familiar do próprio território, estimulando a economia local.
“Na parceria celebrada com o Estado, é exigido que os municípios garantam que a matéria-prima para o preparo das refeições seja, preferencialmente, oriunda da agricultura familiar da região, estando o município livre para a compra em outras localidades, apenas quando não houver produção na região ou nos casos de situações específicas emergenciais ou de calamidade que impossibilitem o abastecimento local”, explica o secretário de Assistência Social.
Para selecionar os agricultores que irão fornecer os alimentos para as cozinhas, os municípios publicam editais de credenciamento para a aquisição de alimentos, que permitem a agricultores locais se habilitarem ao fornecimento dos insumos das cozinhas.
De acordo com a secretaria, os preços dos alimentos fornecidos pelos agricultores são estabelecidos pelo próprio município, a partir de uma pesquisa de preços já adotada por outros órgãos da administração pública.
A parceria assegura ao agricultor familiar a certeza de uma demanda fixa por parte da Cozinha Comunitária e promove a segurança de renda.
Um estudo desenvolvido pelo Instituto Fome Zero (IFZ) mostra que 13 milhões de pessoas deixaram de passar fome no Brasil e 20 milhões de pessoas deixaram de sofrer de insegurança alimentar moderada em 2023. Isso representa uma redução de 30% da insegurança alimentar total (grave moderada) no país e projetos como as Cozinhas Comunitárias têm auxiliado a reverter o atual cenário.