CRISE
"Não é coisa pra ser engavetada": oposição pernambucana aperta o cerco em pedido de impeachment contra Lula
Cinco deputados federais já assinaram o documento, que tem um longo caminho após chegar às mãos de Arthur Lira
Por: Marcílio Albuquerque
Publicado em: 21/02/2024 09:56 | Atualizado em: 21/02/2024 12:28
Coronel Meira (PL) diz que instrumento deve conseguir sensibilizar presidente da Casa (Reprodução) |
Com um número já beirando as 130 assinaturas, o pedido de impeachment contra o presidente Lula vai ganhando adesão, juntamente com o tamanho da crise diplomática instaurada, após as declarações comparando a atuação de Israel em Gaza ao Holocausto. Nos cálculos da oposição pernambucana, o documento deve ultrapassar o quórum mínimo de 171 nomes até a sexta-feira, quando estima que deve chegar às mãos de Arthur Lira, na Câmara Federal. No estado, os parlamentares Clarissa Tércio (PP); assim como o Coronel Meira, Fernando Rodolfo, André Ferreira e Pastor Eurico, todos filiados ao PL, partido de Bolsonaro, estão no fervor pelo pleito.
"Estamos diante de um episódio muito ruim para o Brasil, que atinge as relações sociais, mas também pode gerar restrições econômicas. Temos uma relação antiga com Israel e Pernambuco sempre foi protagonista desta história. Fazer uma comparação desta magnitude, sem mensurar a gravidade, é um ato irresponsável e que precisa ser punido com rigor", afirma o deputado federal Coronel Meira (PL). Segundo ele, a articulação com Lira, que comanda a Casa, segue em bom ritmo. "Estamos estabelecendo o diálogo e cumprindo o nosso papel, que é de apontar o erro, mediante os instrumentos previstos em lei. Já existem outros pedidos de impeachment contra Lula e esse chega para dar mais força. Isso não é coisa pra ser engavetada e estamos confiantes", disse.
A alegação é de que as declarações configuram um crime de responsabilidade, tomando como base o Artigo 5º da Constituição Federal, que fala em “cometer ato de hostilidade contra nação estrangeira, expondo a República ao perigo da guerra, ou comprometendo-lhe a neutralidade”. É o que reforça a deputada federal, Clarissa Tércio (PP). “A fala do presidente Lula foi desprezível, hostil, um verdadeiro ataque, uma agressão aos cristãos, à Israel e estimula a injúria racial", criticou a parlamentar, que continuou: "O presidente cometeu crime de responsabilidade e por uma questão de justiça urgente, assinei o pedido de impeachment”, disse.
A operação marca o 18º pedido de impeachment de Lula desde 2023, por diferentes motivos, sendo já o segundo relativo ao caso de Israel. Conforme a Câmara, dois foram arquivados e todo o restante segue "em análise", sem prazo estabelecido. Em hipótese de arquivamento da solicitação, pode haver recurso ao plenário. Para se ter uma ideia, o ex-presidente, Jair Bolsonaro (PL), foi o presidente com mais pedidos de impeachment desde a redemocratização, com 158 requerimentos. Nenhum se consolidou.
O deputado Pastor Eurico (PL) reconhece que o caminho para destituir um presidente da república não é algo fácil. "Apesar de ser uma ação embasada, depende de uma série de fatores e também da mentalidade de quem está à frente das casas. Mas vamos até o fim, custe o que custar. Imagine se todo o povo judeu retirasse do nosso território os investimentos aqui depositados, em retaliação. Que desastre enfrentaríamos. O Brasil é um país que tem sido abençoado por defender Israel e não pode ser prejudicado por atitudes imprudentes", apontou. Igualmente procurado pelo Diario, o deputado federal, Fernando Rodolfo (PL), que também assinou, não quis comentar a situação. Já André Ferreira (PL), não foi localizado até a publicação desta reportagem.