TRADIÇÃO
Galo da Madrugada e Homem da Meia-Noite; saiba a história desses gigantes
As agremiações desfilam todos os anos no sábado de Zé Pereira e arrastam multidões pelas ruas do Recife, com o clube de máscaras, e Olinda, com o calunga
Por: Aimé Kyrillos
Publicado em: 10/02/2024 05:55 | Atualizado em: 10/02/2024 05:51
O Galo da Madrugada foi idealizado numa reunião familiar em 1978. Os primeiros componentes tinham por objetivo resgatar o Carnaval de rua do Recife (Foto: Rafael Vieira/DP Foto) |
Entre diversas manifestações culturais, Pernambuco tem dois gigantes da folia: o Galo da Madrugada, no Recife, e o Homem da Meia-Noite, em Olinda.
Quem sai de casa no Sábado de Zé Pereira para brincar, curte, se emociona e entra na história dessas agremiações. Mas muita gente nem sabe como tudo começou.
Por isso, é bom lembrar que eles nem sempre foram tão grandes e passaram a fazer parte do cenário da folia aos pouquinhos.
O Galo
O Galo da Madrugada foi idealizado numa reunião familiar em 1978. Os primeiros componentes tinham por objetivo resgatar o Carnaval de rua do Recife.
Na época, a festa da capital pernambucana resumia-se, praticamente, aos eventos de clubes, como Português, Internacional, Sport e Náutico.
No dia 4 de fevereiro daquele mesmo ano, com 75 integrantes, o Clube de Máscaras ‘o Galo da Madrugada’ foi às ruas pela primeira vez.
No ano seguinte, inaugurando o seu estandarte oficial, a agremiação já reunia mais de 300 foliões nas ruas do Bairro de São José e da área central da cidade.
A cada novo carnaval, os números de brincantes mais que dobravam. Com isso, começaram a ocorrer as primeiras mudanças no desfile, como por exemplo, a quantidade de orquestras no chão e, posteriormente, a utilização de caminhões para apresentação dos músicos.
Em 1984, veio outra grande virada de chave no Galo, que foi a chegada dos trios elétricos.
No fim daquela década, já se estimava um número de brincantes na casa das centenas de milhares que vinham prestigiar o bloco no Sábado de Zé Pereira.
Já no início da década de 1990, falava-se que o Galo da Madrugada atingira a marca de um milhão de foliões, o que rendeu à agremiação, em 1994, o reconhecimento do Guinness Book (o livro dos recordes) como o maior bloco de carnaval do mundo.
Em comemoração ao título, a Prefeitura do Recife instalou, no carnaval do ano seguinte, uma escultura gigante do Galo, com 23 metros de altura e três toneladas, no Rio Capibaribe.
Em 1996, o monumento passou a ocupar a Ponte Duarte Coelho, tradição que se mantém até hoje e se tornou uma das principais marcas e atrativos do carnaval de Pernambuco.
Atualmente, a peça, com cinco metros a mais de altura e pesando quase três vezes mais em relação à pioneira de quase três décadas atrás, é assinada pelo artista plástico Leopoldo Nóbrega.
Em 2009, no desfile que homenageou o idealizador e fundador do bloco, Enéas Freire, falecido em junho de 2008, aos 86 anos, o Galo da Madrugada alcançou um novo recorde de público: 2 milhões de foliões.
Em 2011, a agremiação passou por uma grande mudança no seu percurso: pela primeira vez, a Rua da Concórdia deixava de integrar o roteiro do desfile, sendo substituída pela Avenida Dantas Barreto, mais espaçosa.
No ano passado, o maior bloco do mundo reuniu mais de 2,5 milhões de foliões, distribuídos nos cerca de 6,5 quilômetros de percurso.
Ao longo dos seus 46 anos de história de 44 desfiles nas ruas do Centro do Recife, o Galo da Madrugada já homenageou personalidades como Ariano Suassuna, Chico Science, Luiz Gonzaga, Carlos Fernando, Alceu Valença e J. Michiles, entre outros.
Rei do brega
Este ano, o Galo da Madrugada vai homenagear o Rei Reginaldo Rossi, ícone do Brega pernambucano, que se estivesse vivo, completaria 80 anos.
É um convite aos foliões para, juntos, fazerem um espetáculo de rua que promete entrar na história, unindo duas das maiores expressões culturais de Pernambuco, o frevo e o brega, tudo para homenagear o saudoso artista recifense.
Com o tema “Reginaldo Rossi no Reinado do Frevo”, o 45º desfile do maior bloco do mundo acontece no próximo sábado (10), a partir das 9h, e pretende reunir, novamente, mais de 2,5 milhões de brincantes no Centro do Recife - marca alcançada no último carnaval.
O gigante vai reverenciar os povos originários do interior de Pernambuco à capital pernambucana (Foto: Arquivo/DP) |
“Don Juan das ladeiras”
Na história do Homem da Meia Noite, existem duas versões para o surgimento do calunga.
A primeira delas conta que Luciano Anacleto assistiu ao filme “O Ladrão da Meia Noite”, que mostrava um homem que saia de trás de um relógio, sempre à meia noite.
O que chamou sua a atenção e assim veio a ideia de criar o clube.
A outra versão conta que Benedito Bernardino, ao sentar, nas noites de sábado, nas ruas de Bonsucesso sempre via passar um homem elegante, de chapéu preto e dente de ouro sempre perto da meia noite.
Ele descobriu que aquela figura pulava as janelas de donzelas de Olinda sempre escondido.
E foi assim que surgiu a ideia de homenagear o Don Juan das ladeiras.
Uma história que se mistura ao misticismo do maracatu, do candomblé e da cultura afro.
Um ritual que até hoje se repete sempre no Sábado de Zé Pereira.
Povos originários
Os povos originários serão os grandes homenageados do Clube de Alegoria e Crítica O Homem da Meia-Noite em seu desfile no Sítio Histórico de Olinda, no carnaval de 2024.
O gigante vai reverenciar os povos originários do interior de Pernambuco à capital pernambucana.
Com o tema “Terra Indígena”, o calunga vai ao interior do estado para vivenciar os valores de preservação, de coletividade e de respeito à ancestralidade, através da sabedoria dos povos originários.
No Recife, o Homem da Meia-Noite foi buscar um dos homenageados do nosso Carnaval.
No bairro de Água Fria, na Zona Norte, onde fica a sede do Caboclinho 7 Flexas, que desde 1971 representa a linha da jurema que resgata as belas e tradicionais expressões do Carnaval de Pernambuco.
Numa mistura de sons do baque do caboclinho, da pisada e do ritmo indígena, vem o segundo homenageado do calunga.
No bairro da Mustardinha, Zona Oeste do Recife, Marron Brasileiro começou sua história de sucesso como cantor e compositor.
Com seus ritmos contagiantes, Marrom encantou os pernambucanos e o Brasil com músicas como “Deusa de Itamaracá” e “Galera do Brasil”.
Em Pesqueira, no Agreste Pernambucano, o terceiro homenageado do gigante será o povo Xukuru do Ororubá.
Uma nação indígena formada por mais de dez mil integrantes no semiárido pernambucano, que remonta aos primeiros povos originários do nosso estado.
O Carnaval “Terra Indígena” e o Povo Xukuru do Ororubá farão essa mistura, essa magia e encanto que o folião só vai encontrar na saída do Homem da Meia-Noite no Sábado de Zé Pereira na Cidade Alta, em Olinda.
Encontro místico no Agreste de Pernambuco
No dia 02 de fevereiro de 2024, o Homem da Meia-Noite completou 92 anos e a data foi celebrada no agreste pernambucano.
O Calunga visitou o Povo Xukuru do Ororubá, na cidade de Pesqueira, e recebeu a roupa que será usada no desfile deste ano.
A confecção da roupa do calunga este ano foi feita pela estilista indígena Dayana Molina.
Ela é descendente das etnias fulni-ô e aymará, e cria peças pensando na moda e trazendo as raízes dos povos originários.
Ela vai alinhar o tema “Terra Indígena” com a tão esperada roupa do Calunga.
Independente da história, O Homem da Meia-Noite surgiu da vontade de seis homens negros que decidiram levar alegria para milhares de pessoas pelas ruas e ladeiras de uma Olinda dos anos 30.
O seu primeiro calunga foi criado em 1932, e até hoje encanta os foliões que se divertem com o boneco nos seus desfiles.