SAÚDE

Após ação do Governo de Pernambuco, idosos ficam sem atendimento no Recife

Publicado em: 25/05/2023 22:25 | Atualizado em: 25/05/2023 22:35

Núcleo Municipal de Desenvolvimento Integral, em Areias, foi aberto na tarde da última quarta-feira (24), mas ação da gestão Raquel Lyra, acatada pela Justiça, impediu seu funcionamento (Foto: Divulgação)
Núcleo Municipal de Desenvolvimento Integral, em Areias, foi aberto na tarde da última quarta-feira (24), mas ação da gestão Raquel Lyra, acatada pela Justiça, impediu seu funcionamento (Foto: Divulgação)
Mais de 100 idosos que estavam com consultas já marcadas para o Núcleo Municipal de Desenvolvimento Integral (NDI) do Recife, localizado no bairro de Areias, ficaram sem atendimento, nesta quinta-feira (25). O motivo foi a ação do Governo do Estado, acatada pela 2ª Vara da Fazenda Pública da Capital, que impediu o funcionamento do prédio, que foi cedido à Prefeitura do Recife no ano passado e que abriu as portas à população na tarde da quarta (24).

Moradora do bairro de Engenho do Meio, na zona Oeste do Recife, a aposentada Maria Helena da Conceição, de 67 anos, foi uma das prejudicadas. Ela estava com consulta marcada para uma fisioterapeuta no NDI, mas encontrou o serviço fechado. "Era pra eu ter vindo ontem, mas não consegui por causa da chuva. Aí, quando vim hoje, quebrei a cara. Pra marcar um médico é o maior sacrifício do mundo e, quando consegue marcar chega aqui não consegue fazer. Como é que fica a situação do pobre? do necessitado?". A idosa ficou surpresa com a decisão do governo Raquel Lyra e questionou o real motivo. "Quer dizer que quer fazer como fazia Bolsonaro? Que dizia que os velhos tinham que morrer mesmo? Que os velhos não podem ter tratamento? É pra morrer? É assim, é?."

Eunice Queiroz Brito, de 62 anos, estava com consulta agendada para uma nutricionista e foi outra prejudicada pela ação do Governo de Pernambuco. "Essas consultas demoram a marcar e quando marca, que chega aqui, no dia do atendimento, eu não consigo ser atendida por conta da justiça, da Governadora, que deu uma liminar pra fechar esse espaço. Minha consulta seria às 13h15, cheguei cedo, mas infelizmente me decepcionei. Se o médico precisa, a gente precisa. A saúde já tá muito precária e, quando marca, a gente não é atendido aí também não dá. Tem que ser feito alguma coisa", desabafou.

Já a dona de casa Rosineide Alves, de 45 anos, que deixou o filho que necessita de cuidados em casa, contou como a decisão da justiça atrapalhou sua rotina. "Ficou puxado, porque me atrapalhou. Meu filho é especial e eu deixei ele em casa pra vim me consultar e estou aguardando pra voltar pra cuidar dele, porque, se passar da hora de trocar a sonda, ele pode ter uma infecção. Eu saí de casa cedo pra ser atendida e já era pra tá na minha casa. Queria que resolvesse isso aí porque a gente aqui sofre, né? Se tava já tudo certo, não foi certo o que aconteceu, porque já tava liberado, já tava tudo lá marcado. Pra quê isso? Só prejudica o povo. Só quem dança é a gente", criticou.

Para minimizar os transtornos aos pacientes que estavam com consultas agendadas e não puderam ser atendidos nesta quinta-feira, equipes da Secretaria de Saúde do Recife estiveram, durante todo o dia, na frente do Núcleo Municipal de Desenvolvimento Integral para realizar o acolhimento dos pacientes, coletar os dados e fazer o redirecionamento do usuário para a rede municipal de Saúde, já com um novo agendamento. Ao todo, 350 consultas foram agendadas para os próximos dois dias no Núcleo Municipal de Desenvolvimento Integral do Recife. Na tarde de ontem, primeiro dia de funcionamento, cerca de 30 pacientes receberal atendimento nas áreas de fisioterapia, psicologia e nutrição.

"De fato está sendo um transtorno grande, porque são pacientes com dificuldades de locomoção e que estão vindo de outros bairros, porque o atendimento aqui é referência para toda a cidade e até mesmo para todo o Estado. Então a gente entende a expectativa frustrada desses pacientes, que realmente estão precisando de assistência de reabilitação. Então, a nossa equipe está aqui pra tentar minimizar os transtornos que estão acontecendo aqui hoje. Atualmente, o Recife tem, em seu sistema de regulação, 22.851 pessoas com algum tipo de deficiência, sendo a física e a intelectual responsáveis por 63,7% dos casos. E é esse público que queremos alcançar e atender melhor com a implantação do NDI Recife, que foi construído com muito carinho para atender essas pessoas dentro dos preceitos do SUS e com base na legalidade", explicou a secretária executiva de Regulação Média e Alta Complexidade do Recife, Anna Renata Lemos.

O NDI vai formar, junto com o Hospital do Idoso, um grande complexo de atenção integral à saúde desta população no bairro de Areias. A transferência do equipamento ambulatorial para a gestão municipal vai ao encontro dos preceitos do Sistema Único de Saúde (SUS), que tem a municipalização dos serviços de saúde como princípio fundamental. A própria Lei Orgânica do SUS (nº 8.080/1990) enfatiza que a descentralização político-administrativa deve ser feita por meio da redistribuição de poder, competências e recursos em direção aos municípios. Além disso, em seu artigo 17, a legislação reafirma que compete aos governos estaduais promover a descentralização para os Municípios dos serviços e das ações de saúde, prestando apoio técnico e financeiro aos Municípios.

Com uma equipe formada por mais de 70 profissionais e mais de 2,4 mil metros quadrados de área construída, o Núcleo Municipal de Desenvolvimento Integral (NDI) do Recife vai funcionar de segunda a sexta, das 7h às 19h, para prestar assistência aos pacientes, preferencialmente idosos, ampliando o acesso a diversas especialidades que são fundamentais à reabilitação na rede de saúde municipal. Nesta primeira etapa, serão oferecidas oito especialidades de Geriatria, Serviço social, Psicologia, Enfermagem, Nutrição, Fonoaudiologia, Terapia ocupacional e Fisioterapia. Nas obras, compra de equipamentos e mobília, a gestão municipal investiu R$ 1,3 milhão e, a cada mês, serão aplicados R$ 332 mil para a manutenção dos serviços.

Em nota, a Prefeitura do Recife informou que irá recorrer da decisão judicial. "A administração municipal estranha o empenho demonstrado pelo Governo de Pernambuco para encerrar as atividades de um equipamento público de excelência com capacidade de atender 10 mil pessoas por mês. Curiosamente, o Governo do Estado afirma que pretende gerir uma unidade com fim semelhante no local, entretanto com capacidade de atendimento inferior ao atual NDI Recife. Cerca de dois mil atendimentos a menos. A rede de saúde do Recife tem se destacado por receber pacientes de municípios vizinhos, como se verifica nos Hospitais da Pessoa Idosa Eduardo Campos e da Mulher. Uma prática que atende aos requisitos do Sistema Único de Saúde (SUS)."

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