DEMOCRACIA

Evento comemora pioneirismo de Abreu e Lima nas Diretas Já

Publicado em: 31/03/2023 20:00 | Atualizado em: 31/03/2023 22:59

 (Foto: Rômulo Chico/DP)
Foto: Rômulo Chico/DP
Lideranças de vários setores da sociedade se reuniram nesta sexta-feira (31), no Memorial da Democracia de Pernambuco, em Casa Amarela, no Recife, para celebrar os 40 anos do movimento político e popular Diretas Já. A manifestação entrou para a história do Brasil pelos protestos que tomaram várias cidades do país em 1983 pela volta do direito de eleger diretamente o presidente da República, negado durante todo o período do regime militar. 

O fato que ainda é desconhecido por muitos, é que o primeiro comício pelo voto direto para presidente aconteceu no município pernambucano de Abreu e Lima, encabeçado por quatro vereadores da cidade: Reginaldo Silva, Severino Farias, Antonio Amaro Cavalcante  e José da Silva Brito, estes últimos já falecidos.

"Pernambuco mais uma vez fez jus e honrou as suas tradições libertárias, com todo o respeito às demais unidades da federação. (...) Quero conclamar a todos a partir de hoje: vamos ressignificar essa data", afirmou o promotor José da Costa Soares. Ele fez referência ao dia 31 de março de 1964, quando os militares tomaram o poder no Brasil.

A procuradora-geral de Pernambuco, Bianka Teixeira, representou a governadora Raquel Lyra (PSDB) no evento. Os deputados estaduais João Paulo Lima (PT), Isaltino Nascimento (PSB) e Dani Portela (Psol) foram alguns parlamentares que estiveram no local, além do prefeito do Recife, João Campos (PSB).

"Em alguns dias, acordamos achando que a democracia brasileira é sólida; em outros, acordamos com medo dela não ser tão sólida. Para não ter dúvidas, a gente tem que trabalhar todos os dias pelo seu fortalecimento, para que nunca mais a gente tenha uma ditadura e para que nunca mais a gente veja o que aconteceu no 8 de janeiro de 2023", disse o prefeito, ao relembrar a invasão de extremistas apoiadores do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), às sedes dos Três Poderes, em Brasília.

Memória

Ex-vereador de Abreu e Lima à época das Diretas Já, Reginaldo Silva foi um dos homenageados e destacou a importância da iniciativa. “É um prazer muito grande e uma honra para nós, depois de 40 anos, sermos reconhecidos nesse evento dos 40 anos pelas Diretas Já. A gente não esperava que tivesse essa magnitude que tá tendo hoje”, contou.

Filho de José da Silva Brito, primeiro presidente da Câmara Municipal de Abreu e Lima, na Região Metropolitana, Gamal Brito reforçou o significado da comemoração para o país e o estado. “Há uma busca [...] para a gente trazer à tona essas lembranças à população, para resgatar esse feito histórico. É um marco para o estado. Pernambuco representa tantas lutas e batalhas em relação à democracia, tem tantas figuras ilustres”, disse à reportagem.

“A gente não tinha medo de nada, queríamos democracia, o povo na rua. [...] A gente queria mais liberdade total. [...] Queríamos eleição direta para presidente, custasse o que custasse. Sou muito feliz com isso que a gente fez em Abreu e Lima. Hoje a história está feita. A luta não foi fácil. Foi uma luta da comunidade, dos sindicatos, da Ação Católica Operária, da qual eu participava com Dom Helder, dos estudantes universitários, dos secundaristas, do povo brasileiro”, relatou Severino Farias, ex-vereador.

Uma sobrinha de Ranúsia Alves Rodrigues, desaparecida em 27 de outubro de 1973, relembrou os tempos sombrios da ditadura militar. Investigações concluíram que Ranúsia foi presa, torturada e morta. A família insistiu, mas o corpo nunca foi devolvido.

“Ela foi enterrada em vala comum e até hoje não tem DNA suficiente para fazer esse reconhecimento, então ela é desaparecida política”, contou. “Foram os mortos, desaparecidos políticos e militantes que ainda estão vivos que construíram essa democracia pra gente estar aqui hoje, construída sob o sangue derramado de muitos dos nossos brasileiros e familiares”, concluiu.

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