CRIME

México: assassinato de jornalistas ameaçados evidencia falta de proteção a comunicadores

Por: AFP

Publicado em: 25/01/2022 14:46

 (Foto: Guillermo Arias / AFP)
Foto: Guillermo Arias / AFP
O assassinato de dois jornalistas em Tijuana, no espaço de uma semana, revela a complexidade de se oferecer segurança para comunicadores no México, um dos países mais perigosos para o jornalismo e onde os mecanismos de proteção estão sobrecarregados ou são ineficientes.

O fotógrafo Margarito Martínez e a repórter Lourdes Maldonado foram assassinados em 17 de janeiro e no último domingo (23), respectivamente. Suas mortes provocaram protestos de jornalistas, que convocaram mobilizações para esta terça-feira (25) em Tijuana, Cidade do México e outras localidades.

Os dois foram mortos a tiros e haviam denunciado ameaças e solicitado proteção ao mecanismo de segurança do estado de Baixa Califórnia, no noroeste do país.

"Este mecanismo falha novamente quando os jornalistas se sentem mais vulneráveis", disse à AFP Sonia de Anda, repórter em Tijuana e conselheira do sistema estadual de proteção a defensores de direitos humanos e comunicadores.

De Anda explicou que Martínez foi ameaçado por um blogueiro supostamente ligado a criminosos, mas que nenhuma medida de segurança tinha sido tomada para protegê-lo.

Maldonado, por sua vez, tinha escolta policial há cerca de um ano, para quando chegasse ou saísse de casa. Porém, no domingo, ela foi alvejada quando estava em seu carro, em frente à sua residência. "Evidentemente não havia policiais naquela noite", lamentou De Anda.

A nível federal, um mecanismo de proteção para defensores de direitos humanos e jornalistas existe desde 2012, que agora abrange 496 comunicadores.

Jorge Carrasco, diretor da revista Proceso, recorreu a esse mecanismo em 2013, após ser ameaçado de morte por seu trabalho. As autoridades lhe ofereceram uma escolta e instalaram câmeras em sua casa. "No meu caso funcionou. Mas o mecanismo ficou defasado, foram tantos casos", lamentou, ao enfatizar que também existe falta de compromisso de algumas autoridades e que a coordenação com os governos estaduais é praticamente nula.

Burocracia
Foi justamente isso que ocorreu na Baixa Califórnia, onde a entrada de um novo governo deixou em suspenso a segurança para diversos jornalistas.

"Por causa da mudança de governador, o mecanismo deixou de operar. Apenas hoje [segunda-feira, 24] ele seria restaurado. Nesse ínterim,  dois companheiros foram mortos", lamentou De Anda.

Balbina Flores, do escritório da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) no México, assinala que, por causa desse "procedimento absurdo", Margarito Martínez teve que recorrer ao sistema federal, mas sua solicitação ficou perdida em uma montanha de papéis.

"O mecanismo deveria oferecer proteção imediata e deixar os trâmites para depois", protestou Flores, que acrescentou que, mesmo assim, a proteção federal não é uma garantia. "Pelo menos quatro comunicadores com escolta de segurança foram assassinados em três anos", acrescentou. A AFP tentou contato com responsáveis do mecanismo federal para saber sua posição, mas não houve resposta.

Além dos crimes em Tijuana, o jornalista aposentado José Luis Gamboa, de Veracruz (leste), foi esfaqueado até a morte em 10 de janeiro e as autoridades estão investigando se a agressão estaria ligada a seus comentários nas redes sociais.

Em 2021, a AFP reportou pelo menos sete jornalistas assassinados no México, mas não se comprovou em todos os casos se o crime estaria vinculado ao exercício da profissão de jornalista.

O México é um dos países mais perigosos para os jornalistas, com mais de 100 assassinados desde o ano 2000, segundo a Comissão de Direitos Humanos, o órgão equivalente à Defensoria Pública. Além disso, mais de 90% desses crimes seguem impunes.
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