POSICIONAMENTO

Bolsonaro se solidariza com entregador alvo de injúria racial

Publicado em: 07/08/2020 22:40

 (Foto: Marcos Corrêa/PR)
Foto: Marcos Corrêa/PR
O presidente Jair Bolsonaro se solidarizou, nesta sexta-feira (7) nas redes sociais, com o entregador que foi xingado e sofreu injúria racial no interior de São Paulo.

Um cliente do aplicativo iFood que fez um pedido em um condomínio em Valinhos (SP) em 31 de julho aparece em um vídeo chamando Matheus Pires Barbosa, 19, de lixo e inferindo que ele teria inveja da pele branca. O caso foi registrado como injúria racial na delegacia de Valinhos ainda no dia 31 de julho.

"Independentemente das circunstâncias que levaram ao ocorrido, atitudes como esta devem ser totalmente repudiadas. A miscigenação é uma marca do Brasil. Ninguém é melhor do que ninguém por conta de sua cor, crença, classe social ou opção sexual", escreveu Bolsonaro no Facebook.

"Que a indignação dos brasileiros sirva de lição para que atos como esse não se repitam. Todos somos iguais! Embora alguns trabalhem para nos dividir, somos um só povo! Meus votos de solidariedade e sucesso ao entregador Matheus, bem como a toda sua família. Deus os abençoe!", concluiu.

O entregador tem seis meses para representar criminalmente contra o agressor. A pena máxima prevista para o crime de injúria é de três anos e, ao contrário do racismo, ele pode ter fiança.

No boletim de ocorrência, Pires diz que o homem começou a ofendê-lo dizendo coisas como: "preto, favelado, pobre, olha seu tênis furado".

Durante o depoimento que prestou às autoridades, o agressor confirmou o uso dos termos favelado e pobre, mas negou ter feito ofensa com relação a cor do entregador. O registro da ocorrência, porém, afirma que ele voltou a repetir as ofensas diante dos policiais.

A discussão começou, segundo o cliente, porque o entregador afirmou que ele seria mal falado entre os motoboys. Ele alega ainda que o entregador teria investido contra ele.

No vídeo de um minuto e meio, o homem declara ao entregador: "Aqui não vai acontecer nada. Com você, lá para a frente, não sei, morou? Você sabe o que vai acontecer no futuro? Desempregado...Você trabalha de motoboy, filho".

Ele chama Pires de lixo, semianalfabeto, diz que ele tem inveja das famílias que vivem no condomínio e aponta para o próprio braço, dizendo que o jovem teria inveja também da sua pele branca.

O entregador questiona o que sua profissão tem a ver e oferece seu telefone para que o homem veja no aplicativo quanto ele recebe com seu trabalho. 

"Eu tenho uma vida fora daqui", diz Pires. "Eu posso ter a mesma coisa que o senhor. O senhor conseguiu por quê? Por que o seu pai te deu ou por que você trabalhou?".

Outro homem que também aparece nas imagens pergunta por que eles vão seguir a discussão e Pires responde que está esperando a viatura da Guarda Civil Municipal, para que o homem não volte a fazer aquilo com outras pessoas.

O vídeo foi publicado nas redes sociais pela mãe do entregador, Maria Pires, 43, nesta quinta. Criada por uma mulher negra, ela diz que o filho nunca tinha passado por isso.

"Não é por dinheiro, não é por nada. É por justiça. Isso tem que parar de acontecer, porque é todo dia um caso assim", afirmou à reportagem. "Para mim é a pior coisa do mundo ver meu filho passar por uma situação daquelas, porque a maneira que eu criei meu filho e fui criada, eu aprendi a ter respeito pelo ser humano, não importa classe social ou cor da pele".

Em nota, o iFood diz que baseado nos termos do aplicativo, descadastrou o agressor como usuário e que irá oferecer apoio jurídico e psicológico a Pires.

A plataforma também diz que recomenda que haja registro de boletim de ocorrência em casos como este e que se faça contato com a empresa enviando uma cópia.

"Racismo é crime. O iFood condena qualquer forma de preconceito ou discriminação e por isso presta solidariedade e apoio ao entregador Matheus, vítima do crime racial praticado por um consumidor", diz o texto.

Em coletiva, na tarde desta sexta, o delegado titular de Valinhos, Luís Henrique Apocalypse Jóia, disse que constou no boletim de ocorrência que o pai do agressor teria exibido um documento apontando que o filho sofre de esquizofrenia.

"Assim que houver a representação por parte da vítima, e nós iniciarmos [inquérito], vamos checar se tem ou não esse documento", explicou o delegado, que não estava de plantão no dia do registro. Ele afirmou ainda que o agressor não tem antecedentes criminais.
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