Palestra

Real é obra inacabada que resultou em juros altos, diz presidente do Ipea

Publicado em: 01/07/2019 20:55

Foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press (Foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press)
Foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press (Foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press)
O Plano Real foi uma grande conquista, mas é uma obra inacabada, que deixou como herança uma alta de taxa de juros. Essa é a avaliação de Carlos Von Doellinger, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), que participou hoje Seminário 25 Anos do Plano Real, os desafios para o Brasil,  hoje no auditório do Correio.

Para ele, com o Plano Real o Brasil conseguiu “relativa estabilização” monetária, um pacote de privatizações, e debelou crises externas. Faltou, porém, acredita, completar a missão em dois aspectos: fazer ajuste fiscal e eliminar o déficit nominal (receitas e despesas do governo, inclusive gastos com o pagamento de juros da dívida pública).

A herança ruim foi ter sustentado muito tempo na âncora cambial, até 1999, e ter que fazer um um choque de juros com grande elevação da taxa real para compensar câmbio, como que convivemos até hoje”, disse. “Como não conseguimos fazer o ajuste pela despesa, apelou-se pela receita, o que aumentou a carga tributária em em cerca de 8 pontos percentuais do PIB e ficamos com esse carga tributária de 33%, 34% do PIB, um ônus pesado que carregamos até hoje, que atrasa o desenvolvimento”, afirmou.

Ele acredita que o ajuste iniciado pela equipe econômica do Plano Real precisa ser completado, com “um ajustes mais sólido, convincente”  e permanente no setor público, com redução da taxa de juros e da carga tributária e da dívida pública para reduzir o encargo de juros.  ”Se completarmos a obra inacabada do Real, podemos sim ter um crescimento de 4%”, disse em sua sua fala no painel Como garantir o crescimento sustentado.  

Propostas

Ele disse que a equipe econômica tem um conjunto de propostas para complementar “a sinfonia inacabada do Plano Real”. Segundo ele, a reformas da Previdência, prioritária, é uma delas, mas não resolve todos os problemas. “Pode gerar uma onda de otimismo e o investidor estrangeiro pode se animar, mas o que vai alavancar o crescimento é um onda pesada de investimentos, basicamente, do setor privado, pois, mesmo com ajuste das contas públicas, não será possível um aumento significativo da taxa de investimento”, avisou. 

Ele citou também a reforma tributária, mas disse que ela não vai conseguir reduzir a carga tributária no médio prazo, mas poderá simplificar os impostos e reduzir o custo das transações tributárias. “A maior racionalização da carga vai permitir, com a retomada da economia, e  das receitas, que se possa, aos poucos, reduzir o coeficiente da carga tributária”.  

Outra reforma que “está no pipeline” é a do pacto federativo, que será encaminhada ao Senado. Segundo Doellinger, as mudanças propostas pelo governo na divisão das receitas entre os entes federativos lembra o Fundo Social de Emergência do Plano Real, uma desvinculação de receitas que permitiu uma alocação mais racional dos fundos públicos, na sua avaliação. “Propor uma desindexação dos fluxos é fazer uma gestão mais eficaz das contas do setor público e uma descentralização maior de recursos para os entes federativos”. 

Abertura comercial

Para o presidente do Ipea, o Brasil precisa de abertura comercial com urgência. Na sua avaliação, o acordo assinado entre o Mercosul e a União Europeia na semana passada é importante, mas não suficiente. Ele afirma que o governo já tem entendimentos agendados com a China, principal parceiro comercial; Austrália; Canadá e Japão.  “O Brasil precisa se inserir nas cadeias produtivas do mundo inteiro e não dá para fazer isso com o nível de restrições que temos hoje”. 

Com a abertura comercial e as reformas, ele acredita que o Brasil pode manter crescimento sustentável de 4% ao ano. “A reforma mais difícil, a da Previdência, deve sair em agosto, e as outras são relativamente mais fáceis. Sobre o Pacto federativo, praticamente todos estão a favor, pois vai desvincular recursos e dar flexibilidade aos gastos”. 

Ele aposta em medidas de estímulo monetário, recentemente anunciadas, como a redução do depósito compulsório dos bancos para o Banco Central e o reforço de 20% no crédito para o agronegócio, para estimular a economia no segundo semestre.  “Uma combinação de alguns instrumentos monetários e melhoria no setor de energia, com investimentos da Petrobras em gás, pode impulsionar a economia para começar a recuperação enquanto transcorrem as reformas fundamentais”. Ele afirma que há perspectivas de melhoria, no próximo ano, também para o setor de mineração. 

O Seminário Uma Radiografia do Real e o Brasil de Hoje é realizado pelo Correio com apoio da Febrafite, dos Sistema Fibras, da Multiplan, da Fundação Getúlio Vargas e da FeComércio-DF.
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