juros básicos do país

Queda de juro afeta planejamento de pequenos e grandes investidores

Por: FolhaPress

Publicado em: 01/07/2019 09:50

Reprodução/Pixabay
Um pequeno investidor que decida aplicar em um título público poderá ter que se contentar com taxas tão baixas quanto 6,25% ao ano pelos próximos três anos.

O patamar, visto em um título prefixado no Tesouro Direto, é ainda menor que a atual taxa Selic, de 6,50%.

O caso extremo reflete no bolso do pequeno investidor o que acontece no mercado de contratos de juros futuros, títulos negociados em Bolsa e que refletem as expectativas dos grandes investidores para a taxa Selic.

Esses grandes investidores redobraram suas apostas na queda acentuada e de longa duração dos juros básicos do país. É isso que tem feito especialistas reforçarem o mantra de que, para conseguir rentabilidades mais polpudas, investidores precisarão migrar para investimentos mais arriscados.

Terminado o primeiro semestre, a Bolsa brasileira acumula alta de quase 15%, mas investimentos em renda fixa registraram ganhos ainda mais expressivos.

Exemplo: o Tesouro IPCA+ –título público que rende uma taxa fixa e mais a variação da inflação– com vencimento em 2045 pode ter rendido quase 50% a um investidor que tenha comprado o papel no começo do ano e vendido na sexta-feira (28).

Isso é reflexo do que aconteceu com os juros do papel. No começo do ano, o investimento rendia 5% mais a inflação. Agora está em 3,65%. O que acontece é que o juro e o valor do investimento são inversamente proporcionais: se o juro cai, o valor do papel sobe. Foi exatamente o que aconteceu neste primeiro semestre.

O problema é que essa queda pode ter se aproximado de uma espécie de piso.

Repetir essa rentabilidade pode ficar mais difícil daqui para frente, porque os juros precisariam cair ainda mais.

As taxas cederam porque investidores estavam convictos de uma aprovação rápida da reforma da Previdência, apesar do atraso recente no calendário fixado pela Câmara, e, ao mesmo tempo, por uma percepção de que a Selic precisa cair para estimular a fraca economia brasileira.

Estimativas de economistas ouvidos pelo Banco Central apontam para juro a 5,75% ao final do ano.

Um terceiro fator para a queda da taxa básica é a previsão de que os juros americanos também poderão ser reduzidos, reflexo dos sinais de desaceleração da economia dos Estados Unidos.

"Essa queda de taxa de juros foi mais intensa, em nível de queda, e mais rápida do que todo o mundo esperava. Isso vai atrapalhar –já atra-palhou– o planejamento financeiro de vários investidores. Não só o pessoa física, de todo o mundo", diz o professor Michael Viriato, do Insper.

Gestores de fundos de Previdência, por exemplo, têm mais dificuldades de garantir a rentabilidade necessária para pagar aposentadorias com os juros baixos, especialmente nos planos que limitam aplicações em Bolsa.

Na semana passada, o Banco Central fincou pé e afirmou que a Selic, em 6,50% desde março do ano passado, só muda de patamar quando reformas forem encaminhadas.

O BC não cita especificamente a Previdência, mas é ela considerada a reforma essencial para equilibrar as contas públicas e garantir que a inflação se mantenha controlada.

"O BC se posicionou politicamente no final do governo Temer. Disse 'só vou baixar a taxa de juros se vocês, políticos, aprovarem a Previdência'. O BC [novo] ficou com essa herança", afirma George Wachsmann, sócio da gestora digital Vitreo.

Ele endossa a necessidade de queda de juros alardeada pelo mercado para estimular a economia.

"Teve uma surpresa negativa nesse ano [com o PIB], está ficando urgente, precisa entrar com desfibrilador no peito da economia, com juros mais baixos", complementa.

As divergências de sinalização entre mercado e BC podem, porém, fazer balançar essa curva; depende da forma como os próximos serão lidos.

Se a maioria acreditar que de fato a aprovação da Previdência está próxima, então pouco importa a posição do BC. Em caso de dúvidas, a queda poderia ser atenuada.

"Essas curvas se mexem rápido de um lado para o outro, depende da narrativa", afirma Wachsmann.

Para o pequeno investidor, isso também é crucial.

Se ele acredita que há espaço para mais quedas nas taxas de juros, então talvez ele deva fazer investimentos agora. É algo que o mercado está defendendo, mas pode ser questionado, segundo Viriato.

"Se aprova [a reforma], isso traz perspectiva positiva para crescimento da economia, e o juro tem que subir", avalia o professor do Insper.

Uma frustração com as novas regras para aposentadoria também fariam os juros voltarem a subir, reflexo do desequilíbrio das contas públicas.

O investidor que tivesse comprado um título público nesse vale de rentabilidade teria perdas com juro muito baixo ou com venda antecipada.

"Quem compra nesse patamar vai perder dinheiro. Agora o investidor pessoa física vai para o CDI [investimentos pós fixados], senta e espera", diz Viriato.

"Talvez seja a hora de ele ir pra Bolsa. Se o mundo só fosse feito desses dois ativos [renda fixa ou ações], está mais atraente tomar risco de mercado do que de juros", acrescenta o gestor da Vitreo.
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