Homicídio

Protesto pede justiça após assassinato de professor e militante LGBT

Publicado em: 01/07/2019 09:57

Foto: Henrique Lee/cortesia
 (Foto: Henrique Lee/cortesia
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Foto: Henrique Lee/cortesia (Foto: Henrique Lee/cortesia )
Movimentos de defesa dos direitos humanos realizam hoje, em frente à Assembleia Legislativa de Pernambuco, no Centro do Recife, um ato para pedir justiça no caso do assassinato do professor e militante LGBT Sandro Cipriano Pereira, 35 anos. Sepultado ontem no Cemitério de Pombos, Sandro estava desaparecido desde a última quinta-feira. O corpo foi encontrado no sábado na área rural do município, na Mata Sul. O protesto está marcado para as 14h30.

Além do esclarecimento do crime, os movimentos vão exigir que a Secretaria de Defesa Social (SDS) divulgue as estatísticas sobre assassinatos de pessoas LGBT. “Da última vez que os números foram divulgados pela SDS, foi preciso haver uma cobrança por parte do Ministério Público de Pernambuco”, disse Rildo Veras, do Movimento Leões do Norte. Por lei, completou, o estado é obrigado a contabilizar essas mortes, mas nem o Centro Estadual de Combate à Homofobia dispõe das estatísticas.

Para o jornalista Rafael Negrão, militante LGBT, Sandro é mais uma vítima de homofobia em Pernambuco. “O mais grave é que as organizações não sabem sequer o número de pessoas LGBTs mortas este ano no estado. Não estão contabilizando”, criticou. Rafael era uma das centenas de pessoas que estiveram ontem no velório e sepultamento de Sandro Cipriano. Durante o velório, parentes e amigos repetiram em coro a frase “Sandro, presente!” e pediram justiça. O cortejo mobilizou parte da cidade. O caso será investigado pela equipe da Delegacia de Pombos.

Sandro estava desaparecido desde a noite de quinta-feira. Dois homens teriam sido vistos pelos vizinhos saindo da sua residência com o veículo Voyage prata, placa PDS 6578, pertencente a Sandro. Dentro de casa, vizinhos teriam encontrado manchas de sangue e perceberam a falta de diversos pertences da vítima. “As fotos do corpo que circularam apontam que ele foi torturado, algo comum contra LGBTs. Além disso, ele era uma liderança importante, com visibilidade em todo o estado”, acrescentou Rildo.

O carro do professor foi localizado ontem às margens da BR-232, no Loteamento Menino Jesus, em Pombos. O veículo estava queimado, tendo sido periciado por uma equipe do Instituto de Criminalística (IC).

Sandro era diretor do Serviço de Tecnologia Alternativa (Serta), em Glória do Goitá, desde 2016 e colaborador da organização há mais de 15 anos. O Serta é uma organização da sociedade civil que forma jovens, educadores e produtores familiares para atuarem na transformação das circunstâncias econômicas, sociais, ambientais, culturais e políticas, e na promoção do desenvolvimento sustentável, com foco no campo.

Formado em pedagogia, era uma das maiores lideranças da juventude rural. “Sua dedicação às causas político-sociais sempre teve grande expressão no estado de Pernambuco, mobilizando e liderando coletivos em diversos espaços de proposição de políticas públicas, junto à sociedade civil e organizações sociais, também como representante do movimento LGBT da organização Grupo 7 Cores”, diz a nota emitida pelo Serta. Além de diretor, ressalta a nota, Sandro foi educador do módulo de Educação em Direitos Humanos, do curso técnico em Agroecologia. 

Sandro também era coordenador estadual e membro do conselho diretor nacional da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), ex-conselheiro nacional da juventude (Conjuve), ex-conselheiro estadual de políticas públicas de juventude em Pernambuco. “Sua morte, motivada por ódio e homofobia, é o retrato do Brasil que exclui, estigmatiza e assassina pessoas que defendem direitos e LGBTs. A violência é um fator histórico que sempre atentou contra a vida daqueles que defendem os direitos fundamentais”, diz um trecho da nota emitida pela Abong.
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