Opinião

Para Tony Volpon, crescimento sem aprovação de reformas é ''ilusão''

Publicado em: 01/07/2019 20:40

Foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press (Foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press)
Foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press (Foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press)
O economista-chefe do banco UBS, Tony Volpon, define o momento atual vivido pelo Brasil como uma “travessia no deserto”. O país saiu de um lugar difícil, com hiperinflação e forte dependência do Estado, mas não chegou onde “tem que chegar”. O país, segundo ele, ainda não caminhou o suficiente para superar o padrão de crescimento “medíocre”, que não costuma passar de 2% ao ano. Volpon participa do Correio Debate: 25 anos do real, na sede do Correio, nesta segunda-feira (1º). 

Para o economista, “não há atalho”: o caminho é continuar o processo de reformas estruturantes, com foco em melhorar as condições de produtividade e concorrência. Qualquer outra alternativa é “ilusão”, disse. “Não acho que a gente vá crescer de maneira acelerada nos próximos anos. Mas a gente tem que completar agenda de reformas”, reforçou. 

Volpon não nega que houve avanços desde 1994, com algumas privatizações, progressos na questão fiscal e “uma certa abertura da economia”, mas explica que as medidas adotadas desde a implementação do real não foram suficientes para alavancar a economia brasileira. Ao fim do dia, as políticas “não conseguiram nos levar até uma taxa de crescimento média acima de 2%”, lamenta. "Ainda temos uma economia com ambiente de negócios hostil, carga tributária alta e distorcida e não somos uma economia aberta." 

Para resolver o problema, é preciso acabar com o “vício” em políticas de “suporte” adotadas pelo Estado nos últimos anos, que criaram uma “condição muito perigosa”, afirmou. “O que ocorreu nos últimos anos para levar a taxa de crescimento, que já é decepcionantemente baixa, a cair? Houve muito direcionamento e alocação de capital do Estado, em um processo que a economia privada ficou meio viciada no crédito, no subsídio e no corte de impostos”, comentou.

"A única coisa que vai retirar essa condição é uma série de reformas que vai gerar mais concorrência nesses setores, e novos entrantes. Sejam estrangeiros, seja nacional, tanto faz. Pessoas têm que entrar e tornar esses setores mais competitivos de uma vez", defendeu Volpon. Para ele, a entrada no setor privado é o "está demorando". "A gente tirou o Estado da economia, mas (essa entrada) vai demorar, porque precisa fazer as reformas", apontou. 

Azar e má escolha

Reverter o quadro é importante para que o país não desperdice outras oportunidades de crescimento, como aconteceu a partir da década de 1980. Desde então, duas janelas foram perdidas: a da urbanização e a da industrialização. Para Volpon, uma combinação de “azar e má escolha” interrompeu o processo de crescimento, quando veio a crise da dívida, na década de 1980. 

Diferentemente de países como que tiveram processos parecidos, como a Coreia do Sul, o Brasil ainda não havia chegado ao status de país de renda média antes da interrupção. No início dos anos 1980, a taxa de juros dos Estados Unidos chegou a quase 20%, o que influenciou no financiamento dos países emergentes e resultou na crise da dívida. 

No caso do Brasil, tem ainda o problema da industrialização, que não era voltada para exportações, mas para substituição de importação. “No primeiro momento, foi, talvez, a coisa necessária. Mas sempre tem aquele momento de abrir a indústria ao mundo e forçar a competir”, comentou Volpon. “Aí, o mercado da sua indústria é o mundo inteiro, não só a sua economia. E o ganho de produtividade gera uma indústria grande, potente, que exporta e pode ser o cavalo chefe do crescimento econômico”, explicou. 

“Não fizemos isso, em função de uma ideologia que tivemos, à época, de fechar a indústria e a concorrência. A gente perdeu uma chance histórica de ter o crescimento acelerado pela urbanização e pela industrialização. Agora, não serão esses os caminhos. Essas janelas históricas, por equívoco e azar, foram perdidas”, lamentou o economista. 

Volpon também ressaltou a questão demográfica como um dos desafios atuais para o crescimento da economia. “Não é por acaso que a gente tem que fazer a reforma da Previdência”, explicou. Com a taxa de natalidade começou a cair fortemente nos anos 1970, a população tende a envelhecer bastante. "Olha experiência de outros países que estão entrando no mesmo tipo de situação. O que você vê é queda do crescimento econômico, aquilo que é debatido como estagnação secular”, afirmou. 

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