Pombos

Movimentos fazem ato público nesta segunda por causa de assassinato de professor

Publicado em: 30/06/2019 14:47 | Atualizado em: 30/06/2019 14:58

Corpo de professor foi sepultado nesta manhã, em Pombos. Foto: Henrique Lee/cortesia
Movimentos de defesa dos direitos humanos promovem um ato, nesta segunda-feira (1), na frente da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), para pedir justiça no caso do assassinato do professor e militante LGBT Sandro Cipriano Pereira, 35 anos. Os grupos também vão exigir a divulgação das estatísticas da Secretaria de Defesa Social (SDS) sobre assassinatos de pessoas LGBT em Pernambuco este ano. A ação está marcada para às 14h30.

O corpo do professor foi sepultado, neste domingo (30), no Cemitério de Pombos. Sandro foi encontrado morto, em avançado estado de decomposição, em um sítio na zona rural daquela cidade, no sábado (29). Durante o velório, parentes e amigos repetiram em coro a frase "Sandro, presente!" e pediram justiça. O cortejo mobilizou parte da cidade. O caso será investigado pela equipe da Delegacia de Pombos.

Para o jornalista Rafael Negrão, militante LGBT, Sandro é mais uma vítima de homofobia em Pernambuco. "O mais grave é que as organizações não sabem sequer o número de pessoas LGBTs mortas este ano no estado. Não estão contabilizando", criticou. Rildo Veras, da ONG Leões do Norte, disse que a SDS é obrigada, por lei estadual, a contabilizar essas mortes. "Da última vez que os números foram divulgados pela SDS, foi preciso haver uma cobrança por parte do Ministério Público de Pernambuco", disse. Segundo os militantes, nem mesmo o Centro Estadual de Combate à Homofobia está com as estatísticas.

Sandro estava desaparecido desde a noite de quinta-feira (27). Dois homens teriam sido vistos pelos vizinhos saindo de sua residência com um veículo de modelo Voyage, placa PDS 6578, pertencente a Sandro. Dentro da casa também teriam sido encontradas manchas de sangue e a falta de diversos pertences. "As fotos do corpo que circularam apontam que ele foi torturado, algo comum contra LGBTs. Além disso, ele era uma liderança importante, com visibilidade em todo o estado", acrescentou Rildo.

Movimentos de direitos humanos emitiram nota de pesar, entre elas a Associação Brasileira de Organizações não Governamentais (Abong), o Serviço de Tecnologia Alternativa (Serta), o Movimento Negro Unificado (MNU) e o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe).

Sandro era diretor do Serta, em Glória do Goitá, desde 2016 e colaborador há mais de 15 anos. O Serta é uma organização da sociedade civil que forma jovens, educadores e produtores familiares para atuarem na transformação das circunstâncias econômicas, sociais, ambientais, culturais e políticas, e na promoção do desenvolvimento sustentável, com foco no campo.

Formado em pedagogia, era uma das maiores lideranças da juventude rural."Sua dedicação às causas político-sociais sempre teve grande expressão no estado de Pernambuco, mobilizando e liderando coletivos em diversos espaços de proposição de políticas públicas, junto à sociedade civil e organizações sociais, também como representante do movimento LGBT da organização Grupo 7 Cores. No Serta, além de diretor, foi educador do módulo de Educação em Direitos Humanos, do curso técnico em Agroecologia. O Serta reconhece a importância da dedicação e contribuição para efetivação de nossa Missão, na formação de pessoas para o desenvolvimento sustentável do campo e da cidade, e decreta luto oficial de três dias", diz um trecho da nota do Serta, divulgada no sábado (29).

Além de professor, Sandro também era coordenador estadual e membro do conselho diretor nacional da Abong, ex-conselheiro nacional da juventude (Conjuve), ex-conselheiro estadual de políticas públicas de juventude em Pernambuco. "Sua morte, motivada por ódio e homofobia, é o retrato do Brasil que exclui, estigmatiza e assassina pessoas que defendem direitos e LGBTs. A violência é um fator histórico que sempre atentou contra a vida daqueles que defendem os direitos fundamentais. Lembremos Martin Luther King, Dorothy Stang, Manoel Mattos, Margarida Alves e a própria Marielle Franco, dentre outros ativistas que foram assassinados em decorrência de seu exercício político", diz um trecho da nota emitida pela Abong.

Segundo o Grupo Gay da Bahia, nos primeiros cinco meses do ano o Brasil registrou 141 mortes de pessoas LGBT. Foram 126 homicídios e 15 suicídios, o que representa uma média de uma morte a cada 23 horas.
 
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