Saúde

Hospital realiza cirurgia para tumor de base do crânio sem necessidade de corte

Publicado em: 29/06/2019 11:00 | Atualizado em: 28/06/2019 21:48

Foto: Leandro de Santana / Esp Dp.Foto

O sonho de João Cavalcanti, 10 anos, é poder voltar a andar a cavalo. É só nisso que o menino pensa, é sobre esse assunto que ele perde a conta dos minutos falando. João, que se autointitula domador de cavalos, passou por uma cirurgia para tratar um tumor extremamente raro localizado na base do crânio, no fundo do nariz e próximo ao olho. Ele poderia esperar meses sem poder realizar o maior desejo, caso o método empregado para o tratamento fosse o mais convencional, que requer um tempo de recuperação bem mais longo. Porém, o menino virou uma espécie de referência ao ser uma das poucas crianças no mundo a se submeterem a um tipo de intervenção inovadora. Por causa da chamada “cirurgia endoscópica endonasal expandida para a base do crânio”, João pode de fato contar o tempo para retomar a rotina.

Ele estava em casa quando a mãe percebeu algo diferente na forma como o menino estava assistindo televisão. João estava olhando pela lateral do olhar. Assim, a família descobriu que o olho esquerdo dele estava com um desvio. Eles procuraram oito médicos até descobrir o que havia acontecido. João estava com um tumor benigno na base do crânio. “A primeira opção que nos deram era realizar a cirurgia de maneira convencional. Nosso chão caiu, foi difícil. Então começamos a procurar alternativas, a ouvir muitos profissionais”, contou o pai do garoto, o empresário Alexandre de Oliveira, 48.

Cirurgia convencional nesses casos significa uma intervenção a partir de um corte extenso no crânio, de orelha a orelha. “Geralmente, pegamos a pele e rebatemos, para fazer a abertura da parte frontal do crânio”, explicou o neurocirurgião do Real Hospital Português (RHP) Francisco Vaz, especialista neste tipo de cirurgia e com experiência no método em São Paulo e nos Estados Unidos. De acordo com ele, a base do crânio é a estrutura que separa o cérebro da face. “É uma área crítica, relacionada com órgãos vitais e estruturas que conectam o cérebro com o corpo. No caso de João, a situação era ainda mais complexa por ser um tumor ósseo raro, de 4,5 centímetros”, acrescentou Francisco Vaz. “Esse tipo de lesão é mais comum em outros ossos do corpo e costuma ser mais frequente em adultos”, disse o otorrinolaringologista Breno Carvalho.

Diante da situação e considerando a localização da lesão de João, os médicos Francisco e Breno optaram por aplicar o conceito de time cirúrgico, isto é, realizar uma cirurgia que soma os conhecimentos de duas especialidades médicas. A “cirurgia endoscópica endonasal expandida para a base do crânio” consiste em utilizar um endoscópio com uma câmera na ponta e passá-lo pela cavidade nasal até o local da lesão. Com a imagem projetada pelo equipamento, são utilizadas pinças para acessar o tumor, fragmentá-lo e retirá-lo. “Há uma magnificação da imagem, o que permite visualizar o local com angulações variadas e ter uma melhor visão do campo cirúrgico”, disse Breno. Esse tipo de cirurgia é tradicional para tumores de hipófise e de regiões vizinhas, mas não para o tumor de João.

O procedimento gera um menor tempo de internação, menos desconforto pós-operatório e menor perda sanguínea. João voltou para casa com 48 horas e já retomou quase todas as atividades de rotina, exceto a escola e as idas ao sítio da família, para andar a cavalo. Apenas para evitar infecções. “Fiquei impressionado, pois ele saiu da cirurgia muito bem. Sem cicatriz, consciente. Era como se ele tivesse brigado na escola e voltasse para casa com o olho roxo”, disse Alexandre. Estima-se que João passará um total de 60 dias esperando para andar novamente a cavalo. Tempo que, em cada consulta, com propriedade e argumentos, ele tenta convencer os médicos a reduzir. O caso dele é um dos primeiros do novo centro de cirurgias de hipófise e base do crânio que será instalado no Real Hospital Português (RHP).
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