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Comportamento Carona solidária para viajar. Por que não? Grupo de transporte solidário criado para facilitar a mobilidade na RMR ganha a estrada e conquista caroneiros interestaduais

Por: Jéssica Maia - Diario de Pernambuco

Publicado em: 14/04/2015 15:17 Atualizado em: 15/04/2015 13:14

Carona solidária quer colaborar com a mobilidade urbana. Foto: Reprodução/Internet
Carona solidária quer colaborar com a mobilidade urbana. Foto: Reprodução/Internet

Foi-se o tempo em que pegar carona era sinônimo de passar horas na beira da estrada, estender a mão e esperar algum motorista de bom coração parar. Isso agora está ao seu alcance apenas com um comentário e um clique. Apesar de ainda serem poucos os grupos de carona solidária no Recife, a ideia já reúne mais de cinco mil membros que fazem parte de uma turma preocupada com o bolso e com o caos da mobilidade urbana.

De olho nesse segmento, os irmãos Zaca e Felipe Arruda, de 26 e 28 anos, respectivamente, criaram o grupo Carona's no Feice / Recife em uma rede social para, de início, amigos oferecerem e pedirem carona na Região Metropolitana do Recife. A ideia surgiu em 2013 quando os irmãos Arruda moravam no bairro de Aldeia, em Camaragibe, e se locomoviam até o Ibura, onde trabalhavam em uma fábrica de luminárias. Todos os dias, o percurso era o mesmo, cerca de 35 quilômetros, e o carro deles praticamente vazio.

O designer Zaca conta que o objetivo era trazer benefícios tanto para quem oferecesse a carona quanto para quem fosse pegar, e não para tirar proveito e ganhar dinheiro. "Sempre fazíamos um grande trajeto de carro e achávamos um grande desperdício só ir nós dois, por conta disso a gente começou a conversar com amigos que faziam o mesmo percurso para poder dividir. Nós economizaríamos gasolina, o pessoal faria o trajeto mais confortável e com pessoas para conversar, já que dificilmente no ônibus as pessoas se relacionam", ressaltou.

A ideia se disseminou. O grupo criado para funcionar apenas em asfaltos pernambucanos, entre Recife, Olinda, Jaboatão, Camaragibe e arredores, agora oferece opção de transporte para fora do estado. São muitas as publicações de pessoas oferecendo e pedindo carona para cidades próximas como Maceió (AL), João Pessoa (PB), Natal (RN), Petrolina (PE) e para a Praia de Pipa (RN), por exemplo. Se você quer ou vai oferecer, basta postar dizendo a hora e local.

Segundo Zaca, não tem regra quanto a dividir ou não a gasolina. "Vai de cada motorista. Tem quem já coloque a carona com o valor e outros que não especificam se vão cobrar, mas vai muito do bom senso também da pessoa que vai pegar a carona", explica.

Os adeptos desse tipo de transporte não parecem ter medo do desconhecido, mas ressaltam que é preciso atenção e muito cuidado na hora de escolher a quem dar e de quem pegar a carona. "Dei carona poucas vezes, mas antes de aceitar, sempre dou uma olhada no perfil da pessoa no Facebook e procuro buscá-la em algum lugar público", afirma João Paulo Nóbrega. No grupo há cerca de quatro meses, o servidor público afirma que o número de homens e mulheres que participam ativamente é bastante equilibrado.

Mochileira à moda antiga

Mesmo com essa facilidade, ainda há quem prefira "pegar bigu" de forma tradicional em caminhão, bitrem, carretas, ônibus de turismo, carros pequenos, pau de arara, moto e até em barco. As opções foram diversas para a estudante de ciências da natureza Janaína Rocha. "Viajar de carona foi uma escolha. Comecei pegando carona de dia em posto de gasolina, até ter segurança. Demorei muito para ir para estrada", conta.

"Comecei pegando carona de dia em posto de gasolina, até ter segurança. Demorei muito para ir para estrada", conta Janaína Rocha. Foto: Reprodução/ Internet
"Comecei pegando carona de dia em posto de gasolina, até ter segurança. Demorei muito para ir para estrada", conta Janaína Rocha. Foto: Reprodução/ Internet

A jovem diz que o fato de ser mulher não a impediu de colocar a mochila nas costas para se aventurar pelo país. A mochileira já percorreu mais de 24 mil quilômetros de carona. "Claro que tem perigo, assim como tem em todo lugar. Mas eu nunca me coloquei limitações apenas por ser mulher. Sinceramente, tenho mais medo de andar sozinha no meu cotidiano do que viajando".

Janaína saiu de São Paulo em busca de uma aventura que se tornou uma viagem de nove meses na base da carona solidária. "A viagem se construiu ao viajar. Não estava bem em São Paulo, então, decidi viajar para Olinda e fiquei por lá por um ou dois meses. Depois fui para João Pessoa e fiquei por mais um mês. Nesse tempo aconteceu muita coisa. Mudei todos os planos, decidi mochilar mesmo, sem prazo para voltar, apenas seguindo a intuição", conta.

E lá se vão mais de 120 caronas. Nessas andanças, conheceu mais de 50 cidades e 11 estados. "Foi relativamente fácil, fiz muitos amigos. Caronar é muito divertido, você nunca sabe quem e o que vai encontrar no seu caminho”, afirma. Para se manter durante a viagem, Janaína levou muita lingerie para vender, além de fazer brigadeiro, artesanato e trabalhar em bares na praia para ajudar na renda.

Mochilando pelo país, a jovem mudou radicalmente sua forma de ver a vida. "Me vi mais humana, mais flexível, mais sensível. Ao mesmo tempo que me tornei mais leve, adotei uma postura autônoma e responsável". Janaína mantém a página Pela estrada aflora, no Facebook, onde conta sua jornada e relata suas experiências pelos caminhos que percorre no Brasil.

Com a cara e a coragem

Se o assunto é carona, nada melhor do que falar com um expert no assunto. Em 2014, o mochileiro Rogério Chimionato pegou mais de 150 caronas no Brasil. Segundo ele, tudo era novidade no início, mas agora o foco é ser mais eficiente para poder diminuir o tempo de espera.

Rogério Chimionato pegou mais de 150 caronas no Brasil."Nunca tive medo, se parou pra mim, entro no carro e vou". Foto: Reprodução/ Internet
Rogério Chimionato pegou mais de 150 caronas no Brasil."Nunca tive medo, se parou pra mim, entro no carro e vou". Foto: Reprodução/ Internet

Chimionato é o típico caroneiro e viajante profissional. Aos 38 anos, o paulista de Franca escolheu viver na base da troca e embarcar em sua maior aventura: viajar sem grana. É pegando carona na beira da estrada, dormindo na casa de pessoas que vai conhecendo ao longo do caminho, trabalhando em troca de comida e hospedagem, acampando por aí e aceitando doações e apoio que Rogério vive uma longa viagem desde janeiro de 2014 e sem data para terminar.

De carona em carona, conheceu mais de 40 cidades. Após uma separação, ele diz que a ideia surgiu da vontade de conhecer novos lugares e da possibilidade de viajar sem manipular dinheiro. "Vi no Facebook a seguinte notícia: 'Viaje o mundo hospedando-se de graça em fazendas orgânicas'. A partir daí, novas informações foram surgindo sobre caronas, couchsurfing e outras possibilidades. Juntei todos esses dados e como um bom ex-engenheiro da USP, fiz um certo planejamento e em janeiro caí na estrada", recorda.

Hospedado em Roraima (RR), o mochileiro conversou com a reportagem do Diario, lembrando a extensa lista dos lugares que já visitou. "Passei pelo interior de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Maranhão, Distrito Federal, Goiás, Rio de Janeiro, Amazonas, Guiana e Suriname. Acho a receptividade igual em todos os lugares". Só no Nordeste, Rogério conheceu 28 cidades. Em Pernambuco, passou uma temporada no Recife e outra em Bonito.

Com as caronas, o paulista não é nem um pouco criterioso. "Nunca tive medo, se parou pra mim, entro no carro e vou. A maioria dos meus caronas são carros de passeio, mas aceito de todo mundo. Inclusive, o mais inusitado foi pegar carona em uma canoa na beira do rio com o polegar levantado igual a como eu faço na estrada". O viajante faz postagens com frequência na página Com a cara e a coragem, que mantém no Facebook. De Boa Vista, o mochileiro seguiu para a Serra de Tapequem e Uiramutã, também em Roraima, e agora está em Santa Elena, na Venezuela.

 



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