Um dos maiores apagões cibernéticos registrados nos últimos anos afetou várias atividades nesta sexta-feira (19) ao redor do planeta, incluindo companhias aéreas internacionais, bancos, hospitais, empresas ferroviárias e do setor de telecomunicações.
A falha, que aparentemente foi provocada pela atualização de um programa antivírus, também atingiu as "operações virtuais" dos Jogos Olímpicos de Paris, informou o comitê organizador do evento, uma semana antes da cerimônia de abertura de 26 de julho.
Em uma notificação publicada no seu site, a empresa americana Microsoft informou que os problemas começaram na quinta-feira às 19h00 GMT (16h00 de Brasília) e afetaram os usuários da Azure, sua plataforma na nuvem, que tem a proteção do software de cibersegurança CrowdStrike Falcon.
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Apagão cibernético foi "identificado" e está sendo corrigido, anunciou o CEO da CrowdStrike, empresa de cibersegurança (STEFANO RELLANDINI / AFP
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Até às 11h15(horário de Brasília), as ações da CrowdStrike perdiam 9,20% e as da Microsoft 0,24%.
Para o especialista em cibersegurança Junade Ali este falha "não tem precedentes" e "sem dúvida entrará para a história".
"Tem um impacto direto nos computadores dos usuários finais e sua solução pode exigir intervenção manual, o que representa um desafio importante", afirmou.
A falha provocou perturbações em vários aeroportos internacionais, com problemas nos sistemas de check-in.
No aeroporto madrilenho de Barajas, afetado como todos da Espanha, os passageiros precisaram ter paciência.
"Vamos voltar a Nice (...) Temos muito medo de perder o voo, porque realmente não sei o que está acontecendo", disse à AFP Blanca Arroyo, que acabava de chegar da Colômbia.
Em uma mensagem publicada no início da tarde, a entidade que administra todos os aeroportos espanhóis Aena garantiu que "seus principais sistemas" foram "restabelecidos".
No aeroporto de Roissy, em Paris, um avião da Air France com destino a Berlim teve de retornar ao seu ponto de partida após um voo de 45 minutos na manhã desta sexta-feira, notou um jornalista da AFP.
"Não conseguimos encontrar outro voo ou trem, não teremos escolha a não ser dormir no aeroporto", disse a passageira Anja Müller, uma estudante de 22 anos que teve que retornar à Alemanha depois de uma semana de férias na França.
- "Um limbo"-
Os aeroportos de Berlim (Alemanha) e Sydney (Austrália) registraram longas filas de passageiros.
"Estou em um limbo", comentou à AFP Alexander Ropicano, de 24 anos. Não sei "quanto tempo tenho que esperar aqui", disse o jovem, que esperava embarcar para Brisbane para visitar sua namorada.
As principais companhias aéreas dos Estados Unidos, incluindo Delta, United e American Airlines, começaram a retomar as atividades após suspenderam os voos no início da manhã devido a "problemas de comunicação".
A American Airlines informou que retomou as operações às 9h00 GMT (6h00 de Brasília). Em Berlim, o tráfego aéreo foi retomado parcialmente depois das 8H00 GMT (5h00 de Brasília).
Problemas similares afetaram o aeroporto de Amsterdã-Schiphol, nos Países Baixos, Hong Kong, assim como todos os aeroportos na Espanha, anunciaram as autoridades destes países.
Na Suíça, o aeroporto de Zurique, o maior do país, também suspendeu os pousos, mas as aterrissagens já foram retomadas.
Os aeroportos de Pequim não foram afetados, segundo a imprensa estatal chinesa.
Além de companhias aéreas e dos aeroportos, o apagão cibernético também afetou hospitais nos Países Baixos, a Bolsa de Valores de Londres e a principal empresa ferroviária britânico.
A programação do canal britânico Sky News foi interrompida. Na Austrália, o canal nacional ABC anunciou que seus sistemas foram afetados por uma falha "grave".
Na Nova Zelândia, a imprensa relatou problemas nos bancos e nos sistemas operacionais do Parlamento.
A falha também interrompeu "os sistemas informáticos" do Paris-2024 durante algumas horas, admitiu a comissão organizadora do evento, que horas depois informou que suas atividades estavam normalizadas.
- "Infraestruturas resistentes" -
A dimensão global da falha levou alguns especialistas a destacar o fato de que grande parte do mundo dependa de um único fornecedor para serviços tão diversos.
"Temos que ter a consciência de que este tipo de software pode ser uma causa comum de falha em vários sistemas ao mesmo tempo", disse o professor de Engenharia de Software John McDermid, da Universidade de York (Inglaterra).
"Temos que desenvolver infraestruturas resistentes a estes problemas", acrescentou.
Companhias aéreas como KLM (Países Baixos) e Ryanair (Irlanda) sofreram problemas em suas redes. O mesmo aconteceu com três companhias aéreas indianas, IndiGo, SpiceJet e Akasa Air.
A Turkish Airlines anunciou o cancelamento de 84 voos.
Algumas companhias aéreas do aeroporto internacional de Singapura também relataram interrupções.