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AUSTRÁLIA

Cientistas criam embalagem para manter a integridade de alimentos

Publicado em: 24/10/2022 07:44

 (Fotografia cedida pela Universidade Flinders)
Fotografia cedida pela Universidade Flinders
Hambúrgueres, batatas fritas, pizzas e pastéis. Essas guloseimas — oferecidas em redes de fast-food — vêm embrulhadas em papéis de uso único que precisam ser resistentes à gordura para garantir a integridade dos alimentos. Para isso, as embalagens geralmente contêm plástico e outros produtos químicos — como as substâncias per e polifluoroalquil (PFAS) —, materiais que preocupam devido à toxicidade e por se concentrarem nos solos, no ar e na água. Cientistas da Universidade Flinders, na Austrália, desenvolveram um bioplástico à base de algas marinhas que poderá resolver o problema. Os polímeros biodegradáveis, apostam, apresentam alternativas ecologicamente mais sustentáveis para os embrulhos.

No projeto, feito em parceria com a empresa alemã one.five, a equipe utilizou extratos de algas marinhas nativas da costa sul australiana. "Eles têm uma estrutura semelhante às fibras naturais das quais o papel é feito", explicam, em nota, os autores. Segundo Zhongfan Jia, líder da pesquisa, os extratos são transformados por meio de uma metodologia de processamento própria e produzem folhas de biopolímero que, dependendo da utilidade, podem ser cortadas ou envolvidas em várias superfícies.

"Nossos novos tratamentos aumentam o recurso de resistência à gordura das algas marinhas por meio de modificações simples e sem afetar a biodegradabilidade nem a reciclabilidade do papel", enfatiza. O pesquisador contou ao Correio que o alginato polimérico, extraído das algas, veio de uma empresa chinesa, e chega-se ao biomaterial por meio de um processo de produção industrial. "Modificamos quimicamente o biopolímero para permitir que tivesse resistência ao óleo", explica.

O projeto chamou a atenção de Eduardo Bessa Azevedo, professor do Instituto de Química de São Carlos, da Universidade de São Paulo (IQSC — USP). Bessa, que também atua na área de desenvolvimento de tecnologias ambientais, destaca a dupla vantagem apresentada pelo polímero quanto à questão da biodegradabilidade: a decomposição rápida e a possibilidade de ser reaproveitado. "Isso permitirá o processamento do resíduo depois de usado para que ele retorne ao ciclo produtivo. Porém, caso seja descartado, como é um biopolímero, o material será rapidamente biodegradado", afirma.

Economia circular
O fato de a solução estar baseada no conceito da economia circular também é destacado pelo professor da USP. Para ele, o projeto australiano resolve dois problemas em uma cajadada só. "Produz-se um polímero que sana, em partes, o problema das embalagens plásticas, enquanto se cultiva uma cultura muito positiva ao equilíbrio ambiental", diz. "As algas absorvem dióxido de carbono (CO2), sendo grandes aliadas na mitigação do efeito estufa, além de auxiliarem na melhora do ambiente marinho, entre diversos outros benefícios."

Nas próximas etapas da pesquisa, o grupo pretende aperfeiçoar a estrutura do polímero a fim de melhorar ainda mais a capacidade de resistência à água e à gordura. Zhongfan Jia ressalta que as aplicações do biopolímero não se restringem à indústria da comida rápida. "Espera-se que ele não seja utilizado apenas no fast-food, mas também em embalagens plásticas de forma geral, substituindo os sacos plásticos não degradáveis", ilustra.

O cientista avalia que, quando a pesquisa sair do laboratório, ela oferecerá alternativas mais sustentáveis aos produtos de origem fóssil hoje disponíveis. "Por serem biodegradáveis, não há prejuízo para o nosso ambiente. Quando disponíveis, serão mais sustentáveis do que os plásticos tradicionais", destaca.

A opinião é compartilhada por Bessa. O especialista brasileiro adiciona que, no futuro, à medida que as reservas de origem fóssil se tornarem escassas, esses recursos terão altos custos nos processos de extração e produção. A partir disso, tecnologias como a desenvolvida pela equipe australiana serão ainda mais necessárias. "As duas maiores vantagens são que o polímero é biodegradável e proveniente de uma fonte renovável", enfatiza.
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