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LUTO

Obra de Mario Vargas Llosa universalizou a língua espanhola

Ícone da literatura latino-americana, escritor peruano morreu no último domingo, deixando legado imensurável

Publicado em: 15/04/2025 06:00 | Atualizado em: 15/04/2025 11:26

 (Foto: Marisa Cauduro/Arquivo)
Foto: Marisa Cauduro/Arquivo
O mundo perdeu um dos seus gigantes das letras: o peruano Mario Vargas Llosa, que ultrapassou fronteiras com suas histórias e ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2010, morreu no último domingo (13), em seu país natal, na capital Lima, aos 89 anos. A informação foi anunciada pelas redes sociais por seu filho, Álvaro Vargas Llosa.
 
Dono de uma obra vastíssima e influente, ele encerrou sua vida longe dos holofotes, mas seu legado permanece como um dos pilares da literatura latino-americana. Ele era o último representante vivo de uma era de ouro, ao lado de outros grandes nomes como o colombiano Gabriel García Márquez, o argentino Julio Cortázar e os mexicanos Carlos Fuentes e Juan Rulf.
 
Para Lourival Holanda, presidente da Academia Pernambucana de Letras (APL), a morte de Vargas Llosa não apaga o que seu trabalho eternizou. “Nós, da literatura, somos um povo, uma entidade muito diferente. Celebramos até mesmo as despedidas. Mario Vargas Llosa é e sempre será uma referência”, afirma em conversa exclusiva com o Viver. “Nunca deixaremos de reconhecer sua qualidade literária e a sensibilidade que tinha para a linguagem”, exalta o escritor pernambucano.
 
Nascido em uma família de classe média em Arequipa, no sul do Peru, em 28 de março de 1936, o autor teve na Academia Militar de Lima seu primeiro choque com o realismo social peruano. A convivência forçada entre jovens de todas as classes e raças – e a violência que daí emergia – cristalizou seu desejo de ser escritor. Aos 26 anos, transformaria essa experiência em A Cidade e os Cachorros (1963), título que já revelava seu dom de elevar as particularidades peruanas à condição de literatura universal. 
 
Se este romance o projetou à fama, Conversa no Catedral (1969) consolidou de vez seu prestígio como mestre da narrativa. A partir daí, sua produção literária fluiu de forma ininterrupta — como prometeu que faria “até o último dia de sua vida”. Obras como Pantaleão e as Visitadoras, Tia Julia e o Escrevinhador e A Festa do Bode foram somando novas camadas a um legado monumental: 20 romances, dez peças teatrais, 14 ensaios, além de contos e crônicas que atravessam sete décadas de produção incessante.
 
Depois de desvendar as crises políticas e sociais do Peru, Vargas Llosa voltou seu olhar para os eternos conflitos entre as classes marginalizadas e as elites econômicas que se repetiam em toda a América Latina. Fascinado por Os Sertões, clássico de Euclides da Cunha, o autor peruano recriou com maestria o trágico embate entre o Exército brasileiro e os seguidores de Antônio Conselheiro em A Guerra do Fim do Mundo (1981). Neste romance, considerado um dos seus trabalhos mais poderosos, Vargas Llosa transcendeu o fato histórico para construir uma alegoria universal sobre fanatismo, poder e resistência. 
 
Aos 74 anos, quando recebeu o Nobel por mapear “o poder e a resistência humana”, ele poderia ter considerado encerrado o seu ciclo de reconhecimentos. Engano. Treze anos depois, o escritor que tornou o espanhol uma língua literária universal surpreenderia o mundo ao ocupar a cadeira 18 da Academia Francesa — instituição que, em quatro séculos, nunca havia imortalizado alguém que não escrevesse em francês. O autor peruano ensinou que palavras são armas de resistência, e por isso seguirá vivo em cada linha que deixou.
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