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CINEMA

'Homem com H' não pede licença para contar história de Ney Matogrosso

Viver acompanhou em primeira mão a exibição de 'Homem com H' e entrevistou o elenco, incluindo o pernambucano Jesuíta Barbosa no papel de Ney Matogrosso

Publicado em: 29/04/2025 06:00 | Atualizado em: 29/04/2025 01:58

 (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação
Raros são os momentos em que vida e arte se encontram tão claramente como na pré-estreia nacional de Homem Com H, cinebiografia de Ney Matogrosso, que o Viver acompanhou em São Paulo. O filme, que traz no elenco os pernambucanos Jesuíta Barbosa (no papel do cantor) e Hermila Guedes (como a sua mãe, Beita), ainda não tinha começado quando o homenageado apareceu na sala e arrancou aplausos calorosos. Ali, diante de todos, estava ele sorridente, radiante, tão vivo quanto a trajetória retratada nas lentes e no texto do diretor Esmir Filho. Da violência psicológica e física imposta pelo pai, passando pela ascensão meteórica dos Secos & Molhados, até a consagração como um dos maiores artistas brasileiros de todos os tempos.

Para traduzir esse percurso com fidelidade, a obra passou por um longo processo de criação. Ao todo, 17 versões do roteiro foram escritas, 12 delas lidas por Ney, sempre com uma exigência inegociável: a verdade. “A primeira coisa que eu comentei com o Esmir foi que dizem e escrevem muita loucura ao meu respeito. Tem muita mentira por aí. Nesse filme, não pode ter mentira, tudo que a gente colocar tem que ser verdadeiro. E eu fiquei satisfeito quando assisti, porque tudo que está ali aconteceu”, afirma o cantor, que emprestou sua voz para dublar as canções do longa, incluindo as clássicas Sangue Latino e Pro Dia Nascer Feliz.

Se o roteiro foi lapidado palavra por palavra, o mesmo rigor se aplicou à construção do personagem. Afinal, para Jesuíta Barbosa encarnar o ‘homem com H’ exigia sobretudo decifrar como Ney Matogrosso desmontou e remontou os alicerces da masculinidade. “Eu queria encontrar algo que, coletivamente, as pessoas reconhecem como Ney Matogrosso. Que fosse genuinamente meu e, ao mesmo tempo, permitisse uma comunicação verdadeira com ele e o público”, explica Jesuíta, em conversa exclusiva com o Viver.

Durante as filmagens, a busca por autenticidade passou pelo crivo de Esmir Filho. O diretor equilibrava o projeto em dois eixos complementares: o Ney que todos conhecem e aquele que só o cinema poderia revelar. “Transformamos esse filme em um depoimento pessoal, no sentido de trazer coisas em que acreditamos e queremos expressar. Sinto que há uma construção de linguagem que conversa com os meus outros trabalhos, muito por essa pulsão de corpo, de desejo, de relações afetivas e possibilidades”, aponta o autor de filmes como Alguma Coisa Assim e Verlust

Essa energia visceral – tão característica do próprio Ney – ganha sua expressão mais potente nas cenas de intimidade com seus grandes amores: Cazuza (Bruno Montaleone) e Marco de Maria (Julio Reis). Através desses polos afetivos, Homem com H revela as múltiplas dimensões do artista. “Existe um contraste interessante, quase irônico, entre os personagens. Cada um ocupa uma posição diferente, ora presa, ora predador, ora observador”, reflete Julio.

Bruno Montaleone preferiu navegar à deriva nessa paixão enigmática, que terminou pelo excesso de drogas e álcool do saudoso “exagerado”. “Eu acho que foi importante tentar não entender demais o que Ney e Cazuza viveram. A relação estava além da carne, da visceralidade do momento. Era algo mais profundo, que se transformou no cuidado mútuo. Foi fundamental simplesmente sentir e deixar acontecer”, observa.

A sessão em São Paulo terminou como começou, com aplausos que se prolongaram por minutos. Isso porque o filme cumpriu sua missão mais nobre: devolver ao artista a sua própria história, sem retoques. “Toda a minha vida foi contada sem pudor nenhum. Não cabia pudor numa obra como essa”, crava Ney Matogrosso, que nunca pediu licença para ser quem é. E Homem com H, assim como sua carreira, não pede desculpas.
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